quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

E a “reunificação” da nação?

Semana de 5 a 11 de dezembro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caros leitores, o fim do ano se aproxima e os maus resultados produzidos pela economia brasileira, no terceiro trimestre, e que ainda provocam náuseas à equipe econômica, provavelmente se repetirão no quarto trimestre. Em outubro, foi registrada mais uma queda da produção industrial. Em relação a setembro, a atividade caiu 1,1%. A produção de bens de capital recuou 2,2%, pela quarta vez seguida, e a de bens intermediários caiu 1,9%. Dos 24 setores pesquisados pelo IBGE, 20 apresentaram queda na produção. E, segundo a CNI, no mesmo período, a utilização da capacidade instalada industrial caiu de 77% para 76,6%. Estes dados indicam que os investimentos não mostram recuperação.
A indústria de papelão ondulado, que fabrica o produto-chave do setor de embalagens, termômetro da economia, registra queda de produção de 2,24% no acumulado até novembro. E a venda de eletrodomésticos deve recuar este ano em até 3%. Segundo a Euromonitor, este mercado só recuperará seu volume de vendas anterior a 2015, em 2021.
            “Surpresos” com os péssimos resultados de fim de ano, economistas e membros do mercado financeiro passaram a pressionar o Copom defendendo uma queda mais acentuada na taxa de juros. De repente, esqueceram-se todos do discurso inflamado sobre a tal independência do Banco Central. A equipe econômica dos sonhos, que só tem produzido pesadelos, tem se mostrado incapaz de “produzir” o crescimento e vem sofrendo pressão de todos os lados.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente do Senado, Renan Calheiros, os líderes do governo no Congresso, Romero Jucá e Eunício Oliveira, além de Aécio Neves e Tasso Jereissati, têm exigido resultados, senão por esta, que seja por outra equipe econômica. Mas o presidente Temer pediu paciência e saiu em defesa de Meirelles. Para acalmar os ânimos, anunciou que vai lançar, além da PEC 55 e da Reforma da Previdência já anunciadas, reformas microeconômicas para estimular a economia. Sem dar muitos detalhes, fizeram questão de condenar as políticas de desoneração utilizadas por Dilma e frisaram que o foco será na melhoria do ambiente de negócios com medidas para diminuir a burocracia ligada à atividade empresarial.
            Finalizamos com o cenário político. O centro do poder no Brasil está implodindo. Após a lambança do Supremo Tribunal Federal em decidir manter Renan Calheiros na presidência do Senado, a temida delação da Odebrecht foi assinada. Em depoimento aos procuradores da Lava Jato, vazado à imprensa, Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empresa, afirmou que o presidente Michel Temer participou diretamente no pedido de recursos junto a Marcelo Odebrecht, num total de R$ 10 milhões para financiamento de campanha do PMDB. Uma lista de mais 20 políticos foi levantada pelo delator. Codinomes curiosos estão listados no “Setor de Operações Estruturadas” da empresa. PMDB, PT, PC do B, PSDB, PP, PSD, PSB e DEM foram “contemplados”. Pós-vazamento, Senado e Câmara foram esvaziados. Reuniões foram marcadas. Estratégias são elaboradas.
No fim do ano passado, precisamente em 07 de dezembro de 2015, o então vice-presidente Michel Temer reclamava a Dilma, em carta, sentir-se um vice-decorativo e desrespeitado. E, através da imprensa se auto-ofereceu como aquele que teria “a capacidade de reunificar a todos”. Pois bem, em 12 de dezembro de 2016, uma nova carta foi enviada. Desta vez, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. No documento, Temer afirma que o vazamento de delações premiadas tem causado problemas na condução das políticas públicas para aquecer a economia. Esquecendo-se da independência do órgão, pediu rapidez na conclusão das investigações, na homologação e divulgação do inteiro conteúdo das delações premiadas.
O homem que ia reunificar a nação tombou. Tombou diante da realidade econômica, que não “obedece” à sua mágica equipe, e diante da corrupção, que se ofereceu para combater, mas que parece ser sua amiga íntima, e de seus pares.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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