quarta-feira, 25 de abril de 2018

A economia é a salvação


Semana de 16 a 22 de abril de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
É compreensível o desespero do presidente Temer em mostrar números positivos na economia. É a taboa de salvação para ele, para o seu parceiro Meirelles, o chefe da “equipe dos pesadelos”, e para o próprio MDB. As sondagens de opinião sobre seu governo não conseguem atingir 4% de aprovação. As sondagens eleitorais também o colocam nas últimas posições. As outras lideranças do partido encontram-se na fila das execuções dos tribunais. Resumindo, o MDB está entalado. Parece que ele só consegue tomar o poder através de golpes.
Os partidos da base ameaçam abandonar a canoa que faz água por todos os lados. Só os cargos e as verbas distribuídas ainda os mantêm agregados num abraço de afogados.
O sufoco para demonstrar a recuperação da economia obriga os arautos do governo a manobras de contorcionismo e os comentaristas amigos a procurar chifre em cabeça de cavalo.
Já comentamos nesta coluna que nos finais de 2017 a economia mostrava sinais de recuperação, ou seja, estávamos superando a fase cíclica de crise e entrando na fase seguinte que tecnicamente se chama de “reanimação” e que se costuma também chamar de recuperação. O problema é saber “qual recuperação”. Há várias maneiras de uma economia sair de uma crise. Costuma-se falar em saída em V, saída em U, saída em W, etc. O que o governo gostaria era de uma saída em V, ou seja, com rápido crescimento. Isto podemos garantir que não está ocorrendo e não ocorrerá. Nossa profecia é reforçada pela “equipe dos pesadelos” com sua louca política de austeridade e equilíbrio fiscal que não tem sido aplicada com o rigor desejado por causa das eleições, da corrupção e da compra da base de apoio para a aprovação das reformas impopulares. Recursos têm sido gastos também para livrar a cara de um presidente corrupto impedindo o prosseguimento das investigações. É preciso lembrar ainda a alta remuneração que deve ser garantida aos especuladores financeiros através dos elevados juros.
Os dados econômicos que, em conta-gotas, continuam a ser divulgados tiram o rebolado dos sardenbergs e leitões da vida e os deixam em dificuldades. Vejamos alguns exemplos
O Banco Central (BC) divulgou o seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) para o mês de fevereiro. Este índice é um indicador antecedente do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Para fevereiro, em relação a março, o IBC-Br mostrou um crescimento de 0,09%, ou seja, não chegou sequer a 0,1%. Com isto, as consultorias começaram a rever para baixo suas estimativas para o ano de 2018. Na média, as estimativas, que rondavam os 3%, caíram agora para 2,5%. A.C. Pastore & Associados, consultoria do ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore, reduziu a sua previsão de 3% para 2,2%, lamentando que o cenário benigno do começo do ano não se confirmou. O consumo das famílias caiu, o emprego degradou-se com o trabalho por conta própria e sem carteira assinada, as taxas de juros continuaram altas e o investimento privado estagnado.
Segundo os cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Tendência Consultoria o Indicador Mensal da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) mostra uma desaceleração dos investimentos em fevereiro em relação a janeiro provocada pela estagnação da construção civil.
Por outro lado, mesmo com lento processo de recuperação, as desigualdades sociais continuaram a aumentar, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE. Os 10% mais ricos ganharam 43,3% da riqueza enquanto os 10% mais pobres ficaram com apenas 0,7%. Assim, 12,4 milhões de pessoas ganharam tanto quanto 99,6 milhões. O número de pessoas em extrema pobreza aumentou de 13,34 milhões para 14,83 milhões, um aumento de 11,2%. Em um ano, mais 1,49 milhão de pessoas mergulharam na miséria. O desemprego, que atingiu seu máximo no primeiro trimestre de 2017 com 13 milhões de pessoas, caiu, mas graças a criação de emprego informal. Juntando-se a isso a perda dos rendimentos com a redução dos programas sociais, a situação agravou-se muito.
Estas são as razões do desespero do presidente.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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