quarta-feira, 18 de abril de 2018

O agro que deseja ser “pop”, “tudo” e “tech” não nos salvará


Semana de 09 a 15 de abril de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Enquanto o estandarte do bloco “Sanatório Geral” está passando, os novos números da atividade econômica corroboram a nossa visão de que a recuperação econômica é lenta e ainda incerta. Segundo o IBGE, as vendas, em fevereiro, do varejo restrito recuaram 0,2% e as do varejo ampliado caíram 0,1%, quando comparadas a janeiro. O resultado foi um banho de água fria nas projeções das consultorias divulgadas pelo Jornal Valor Econômico. Esperava-se aumento de 0,6% e 0,5% respectivamente. Por esta razão, as instituições pesquisadas baixaram a projeção do PIB do primeiro trimestre de 0,3% para 0,1%.
O mercado financeiro, a partir de apuração do Boletim Focus, reduziu suas projeções para o PIB em 2018 de 2,84% para 2,8%. O Banco Central, contrariando o seu Relatório Trimestral de Inflação divulgado em março, continuou a projetar alta do PIB deste ano em 3,6%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi mais contida e espera crescimento de 2,6% para o PIB.
A atividade industrial continua a patinar. A indústria têxtil e de confecções, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e o Sinditêxtil-SP pode apresentar nova queda este ano. O aumento de 27,9% nas importações, no primeiro trimestre, figura como o maior empecilho do setor. De acordo com o IBGE, a produção de artigos de vestuário e acessórios caiu 7,5% nos dois primeiros meses do ano e o varejo de vestuário cresceu apenas 0,2%, no mês de janeiro.
A deflação dos alimentos e a grande ociosidade da economia têm provocado quedas consecutivas da inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março subiu apenas 0,09% e ficou abaixo do esperado, segundo o IBGE.
A letargia continua. Ao analisar os microdados da PNAD Contínua, a LCA Consultores comprovou que a taxa de desocupação estacionou em 12,4%, desde o último trimestre de 2017. Como a ocupação está concentrada nos trabalhos por conta própria e sem carteira assinada, a capacidade de demanda da população foi reduzida. Além disso, a LCA Consultores também constatou que a pobreza extrema aumentou em 2017. O número de pessoas nessa situação subiu de 13,34 milhões em 2016 para 14,83 milhões no ano passado, uma alta de 11,2%.
            Embora os números demonstrem a fraqueza da nossa retomada, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) estranha a queda do Índice de Confiança Empresarial e do Índice de Confiança do Consumidor. O alto desemprego, o aumento da inadimplência e a incerteza política têm condicionado a queda destes índices.
O novo ministro do Planejamento, Esteves Colnago, enterrou qualquer disposição do governo em estimular a economia: “Nos próximos três anos, o setor público não vai poder ser o motor de desenvolvimento. Ele vai precisar que a iniciativa privada faça isso.” E se depender da nova Secretária-Executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, nomeada pelo novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, o ditado se cumprirá. Ela apresentou como prioridades do ministério, a “disciplina fiscal, o fortalecimento do mercado de capitais e de investimentos e o desenvolvimento e promoção de uma agenda de produtividade e eficiência”. Como sabemos que estes objetivos são excludentes, nada de crescimento econômico.
Espera-se então, que da agropecuária venha a salvação. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) acabou de elevar em 1,5% a estimativa para a produção de grãos e fibras, na safra 2017/18. A colheita de grãos deve alcançar 229,53 milhões de toneladas. Este volume embora alto é 3,4% inferior ao recorde da safra 2016/17. Se a safra recorde do ano passado atenuou a desaceleração e produziu pífio crescimento de 1%, duvida-se que este ano o feito se repita com uma safra menor.
Portanto, o agro não é “tudo”, o agro não é “tech” e agro não é “pop” e, mesmo que o fosse, jamais teria a capacidade de levar a economia do país nas costas.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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