quinta-feira, 9 de junho de 2011

Inflação ou Desemprego?

Semana de 30 de maio a 05 de junho de 2011

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Em 1958 um neozelandês chamado A. William Phillips publicou um artigo que relacionava de forma inversa duas variáveis: a taxa de desemprego e a taxa de aumento dos salários nominais. O "fator trabalho”, além de fazer parte da estrutura de custos de toda empresa, é considerado como única variável nos principais modelos macroeconômicos ortodoxos. A relação entre as taxas logo foi transformada na relação entre desemprego e inflação dos preços de toda a economia. Segundo esses desenvolvimentos posteriores, tal como registrou Phillips, quando há uma redução no desemprego ocorre um aumento na inflação, e vice-versa. Embriagados com esta ideia, os policy makers do Brasil, já há muitos anos, tomam decisões com base na chamada Curva de Phillips, como ficou conhecida a representação gráfica desta relação. A "teoria" por trás dela defende que, quando há um aumento na demanda por bens, serviços ou "fatores de produção" (em termos ortodoxos: terra, capital e trabalho), há uma consequente elevação nos seus respectivos preços. Isto porque a oferta destas mercadorias, regra geral, não tem um aumento imediato, resultando num excesso de demanda sobre a oferta. Esta seria uma das causas da inflação. Outra causa seria a transferência, para o preço final dos produtos, dos custos maiores, derivados da alta inicial dos preços. Isto causaria um efeito bola de neve, onde o preço maior de uma mercadoria provocaria acréscimo no custo das outras. O resultado é uma elevação de preços em cascata.

Atualmente, nenhum analista duvida que em 2011 a inflação será superior aos 4,5% estabelecidos como meta. Isto porque o crescimento econômico do país está acima do tal “PIB potencial”. Apesar do crescimento do 1° trimestre deste ano ter sido menor do que se esperava, ele atingiu um patamar de 1,3%, quando comparado com o último trimestre de 2010. Relacionado ao mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 4,2%. A expectativa para o restante do ano, por outro lado, é a de que haja uma redução no nível de crescimento. Para o Ministro da Fazendo, Guido Mantega, é certo que isto aconteça. Porém, estudos do seu próprio Ministério afirmam que a economia ainda não está claramente em desaceleração, apesar dos dados divulgados pelo IBGE. Entre abril e março houve redução em todas as áreas da indústria, que em média recuaram 2,1%. Os números são: Bens de Capital (-2,9%), Intermediários (-0,6%), Consumo (-2,9%), Consumo Duráveis (-10,1%) e Consumo semi e não Duráveis (-1,5%). O estudo ainda afirma que 54,9% dos setores pesquisados não cresceram, na comparação entre abril de 2011 e abril de 2010.

O futuro não é promissor. Por parte do setor público, nos quatro primeiros meses do ano, já foi feita 49% da economia necessária para se atingir a meta de superávit primário. Isto representa uma cifra de R$ 117,8 bilhões não gastos por parte de municípios, estados e união. No setor privado o problema também é o governo. Procurando segurar a inflação (diagnosticada como de demanda), a presidente Dilma, e seus fiéis e infiéis escudeiros, já tomaram medidas de contenção do crédito e estão cada vez mais agressivos no aumento da taxa de juros. E há quem diga que já é preciso maneirar nesta política, visto que a economia vai desacelerar e a inflação já começou a cair. Mas a maioria dos bancos projeta mais aumento na taxa básica de juros (Selic) até o fim do ano. O que não é surpresa. O Bradesco e o Itaú Unibanco, por exemplo, tiveram, entre o 1° trimestre deste ano e o último do ano passado, um crescimento maior na receita advinda de aplicações em títulos e valores mobiliários (TVM), majoritariamente títulos públicos, do que na receita advinda de operações de crédito. Quando comparado com o 1° trimestre de 2010, além dos dois bancos, o Banco do Brasil também teve um maior crescimento da receita com TVM.

Por sua vez, analistas preveem um aumento do preço das commodities, que deram uma trégua no mês de maio. Eles afirmam que, além de fatores climáticos, a especulação de "investidores" fará os preços, incluindo o dos alimentos, crescer.

Nestas condições, com base na teoria adotada pelo governo, como evitar a desgraça para o bolso do trabalhador? A resposta é: impedindo o aumento demanda. Mas como impedir este aumento? Só demanda quem tem renda e só tem renda quem trabalha. Logo, para diminuir a inflação, é preciso aumentar o desemprego. Mas, se a inflação é ruim para o trabalhador, o desemprego não é pior? Não seriam melhores as medidas que estimulam a oferta, já que a inflação é causada por um "desequilíbrio" entre ela e a demanda?



[i] Mestre em Economia, professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.).

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog