quarta-feira, 1 de junho de 2011

Provações do governo Dilma

Semana de 23 a 29 de maio de 2011

Elivan Rosas Ribeiro[i]

Continua a repercutir a sucessão na Diretoria do Fundo Monetário Internacional (FMI), vaga depois da prisão do antigo Diretor. Sarkozy advoga abertamente a vez da França e os Brics tentam impedir nomes alternativos para preenchimento do lugar vago. A economia dos Estados Unidos continua vulnerável a novas crises, por causa principalmente da política do FED, que reforça as bolhas especulativas, e na Europa, uma leve e lenta expansão anuncia-se na zona do Euro, com previsão de turbulência na Espanha e continuação da crise na Grécia e em Portugal.

No Brasil, três notícias continuam a ocupar a mídia.

A primeira trata das tentativas para evitar a entrada de capitais especulativos no país, que agrava a taxa de câmbio. Na visão do Ministro Mantega, no curto prazo, ela não poderá estar sujeita a um sistema flutuante, sistema só aceitável a partir de uma reforma do sistema monetário internacional, com adoção do sistema de câmbio flutuante em todos os países. Na ótica do Ministro Pimentel, a questão relativa a taxa de câmbio é um problema “sem solução”, com o qual o “empresário tem que saber conviver... e se modernizar”. Este problema afeta de maneira aguda a economia, principalmente a indústria.

A segunda notícia é a aprovação, pela Câmara dos Deputados, de um “novo código florestal”, objeto de grande controvérsia. De um lado, posicionaram-se os ruralistas, em clara aliança com uma significativa percentagem do “baixo clero”, filiado ao PMDB e ao PC do B, capitaneado pelo Deputado Aldo Rebelo, conhecido dirigente do “Partido Comunista do Brasil”. Do outro, os ambientalistas e as forças mais conscientes e progressistas da sociedade brasileira. Segundo os críticos, se o novo código for aplicado, as florestas ficarão mais desprotegidas do que estavam em 1934, o que representa um retrocesso histórico. O embate, transformado em uma crise de governação, provocou a intervenção direta da Presidente Dilma Rousseff nas negociações orientando os seus Ministros e Coordenadores políticos a rejeitarem o acordo proposto pelo PMDB e cerrar fileiras em torno de quatro pontos, a saber: “Evitar a “anistia” de derrubadas ilegais; compensar as matas ciliares localizadas em beiras de rios; manter as áreas de reserva legal e dar prioridade à agricultura familiar”. No Senado, a proposta do novo código ainda irá ser avaliada em três diferentes comissões.

A terceira notícia, aparentemente a mais personalizada, mas nem por isso menos importante, é a denúncia do suposto enriquecimento ilícito do Ministro Palocci. O Ministro Antônio Palocci, mais uma vez, encontra-se na berlinda, alvo das críticas da imprensa e da opinião pública em geral. As implicações econômicas e políticas de uma tal acusação são incalculáveis e parece claro, que sinalizariam ao governo a adoção de uma postura de neutralidade, até que um inquérito fosse instalado e os fatos elucidados. Mas, infelizmente, isso não tem acontecido. O Governo vem defendendo, com todas as armas ao seu alcance, a invulnerabilidade do Ministro. Palloci é apontado com selo de garantia dos governos Dilma e Lula, junto à comunidade financeira internacional.

Todas essas notícias dão conta de acontecimentos que desgastam internacionalmente a imagem do Brasil. Em que pese esse fato, o mais preocupante mesmo é o que está por vir internamente. Antes de mais, especula-se sobre o estado de saúde e um possível afastamento das funções governativas da Presidente. Nesse caso, pela ordem constitucional, as funções presidenciais passariam para as mãos de seu vice, que, por acaso, é do PMDB, com ou sem Palloci na chefia da casa Civil. No caso da continuidade de Dilma, se Palloci fosse afastado, especula-se que o próprio Lula viria a ocupar a Casa Civil repetindo a dobradinha invertida Dilma-Lula.

Especulações? O que é fato é que na semana passada, Lula foi a Brasília para pessoalmente dar alento à Presidente Dilma, segurar o intocável Palloci, por ele colocado no posto, (mesmo que em via de morte lenta e gradual) e dar uma tranqüilizada nas lideranças políticas.

Aqui pra nós, já não é hora “do cara enrolar a bandeira, pendurar a chuteira” e deixar a sucessora governar?

Haja paciência!



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br; www.progeb.blogspot.com.

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