sexta-feira, 18 de julho de 2025

TRUMP, CHINA, TARCÍSIO E LULA...

Semana de 07 a 13 de julho de 2025

    

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Na última semana, vimos mais um ataque frontal à nossa soberania nacional. Donald Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre os produtos exportados pelo Brasil aos EUA. Na aparência, e para o círculo da extrema direita, isto seria uma reação em resposta às “ofensivas” do poder judiciário contra Jair Bolsonaro e seus asseclas, que tentaram dar um Golpe de Estado, e contra as redes sociais sediadas naquele país. Além disso, também seria uma resposta a uma relação comercial “injusta” para os americanos. Na essência, o motivo é outro.

Também na semana passada, reuniram-se os países integrantes do BRICS. Dentre outras coisas, o grupo debateu meios alternativos de aumentar seu desenvolvimento socioeconômico, com o objetivo de reduzir a dependência dos EUA. Como têm mostrado as medidas (externas e internas) adotadas pelos EUA há quase uma década, a ascensão da China como uma potência produtiva e tecnológica tem feito frente ao poder global dos norte-americanos. E são exatamente esse possível distanciamento dos EUA e a aproximação com a China que estão no centro da ação de Trump.

Desde nossa origem, as classes dominantes brasileiras se associaram de forma subordinada ao capital estrangeiro. Inicialmente, isso foi uma imposição da relação entre a metrópole invasora (Portugal) e a colônia invadida (Brasil). Quando da independência, no século XIX, isto se transformou numa necessidade objetiva: depois de 300 anos de ocupação e exploração colonial, o território brasileiro mal reunia condições para produzir os produtos que necessitava para manter as suas classes (principalmente as mais abastadas). Assim, a economia mundial era a grande fornecedora de capital (dinheiro e mercadorias) para aqueles que viviam no Brasil.

 No século XX, sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, nossa economia avançou muito, ao se transformar em uma pujante economia industrial (mas também agrária). Sob a liderança dos EUA, estabeleceu-se uma nova ordem global, assentada na transnacionalização do capital. Em outras palavras, a expansão das empresas no lado ocidental atingiu um patamar em que sua lucratividade depende, cada vez mais, do seu funcionamento simultâneo em vários países, incluindo o Brasil e muitos países asiáticos.

Nesse meio tempo, a China “aprendeu” as regras desse jogo e passou a jogá-lo muito bem. O país conseguiu ascender à sua atual posição dentro desta ordem global imposta pelos EUA. Ou seja, depois de intensos esforços para transformação doméstica, os chineses passaram a ganhar espaço no capitalismo mundial se expandindo através da ordem internacional vigente. Para além do desenvolvimento tecnológico já citado, que coloca o país como concorrente de países avançados, a China passou a se expandir na direção de países atrasados, com acordos de financiamento, compartilhamento de tecnologia, investimentos diretos, etc.

É nesse contexto que precisamos entender a ação de Donald Trump, não apenas a sobretaxa ao Brasil, mas ao mundo (Coreia do Sul e Japão também receberam cartas recentes do presidente). Seguindo seu já conhecido modus operandi de negociação, ele está criando um caos inicial que lhe dê maior poder de barganha quando se sentar para negociar. Em outras palavras, ele dá um susto em seu interlocutor ao colocar o sarrafo de suas exigências lá no alto. Em seguida, ele se senta para negociar a partir da altura que ele colocou o sarrafo, dando-lhe maior vantagem na obtenção do resultado que deseja.

Bom, diante disso tudo, onde entram a soberania brasileira e o interesse nacional nessa história? Antes de mais nada, é preciso dizer que os principais afetados pelas sobretaxas são os empresários que exportam para os EUA, em especial, o setor primário-exportador. São eles, também, que compõem uma parte significativa da classe dominante brasileira na atualidade. Para além de uma questão de soberania, que de fato se impõe pela forma (aparência) como o fato se manifesta, enfrentar essas medidas é, em essência, defender os interesses da classe dominante nacional.

Sem trazer qualquer conclusão, apenas uma reflexão, as questões que ficam são: quem, neste momento, está do lado dos “interesses nacionais” e quem é o sabujo que sequer teve coragem de se manifestar contra o ataque ao país? Será que a burguesia é tão subalterna ao ponto de apoiar Tarcísio, mesmo ele tendo reagido como reagiu ao fato? Certamente, quando o bolso pesar, a burguesia vai atrás daquele que defenda o interesse nacional, quer dizer, os interesses da classe dominante, quem quer que ele seja. Assim é o Estado Burguês.


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antonio Queirós, Bruno Lins, Ícaro Moisés, Julia Dayane e Lara Souza.


 

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog