Semana de 07 a 13 de julho de 2025
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
Na última semana, vimos mais um ataque
frontal à nossa soberania nacional. Donald Trump anunciou uma sobretaxa de 50%
sobre os produtos exportados pelo Brasil aos EUA. Na aparência, e para o
círculo da extrema direita, isto seria uma reação em resposta às “ofensivas” do
poder judiciário contra Jair Bolsonaro e seus asseclas, que tentaram dar um
Golpe de Estado, e contra as redes sociais sediadas naquele país. Além disso,
também seria uma resposta a uma relação comercial “injusta” para os americanos.
Na essência, o motivo é outro.
Também na semana passada, reuniram-se os
países integrantes do BRICS. Dentre outras coisas, o grupo debateu meios
alternativos de aumentar seu desenvolvimento socioeconômico, com o objetivo de
reduzir a dependência dos EUA. Como têm mostrado as medidas (externas e
internas) adotadas pelos EUA há quase uma década, a ascensão da China como uma
potência produtiva e tecnológica tem feito frente ao poder global dos
norte-americanos. E são exatamente esse possível distanciamento dos EUA e a
aproximação com a China que estão no centro da ação de Trump.
Desde nossa origem, as classes dominantes
brasileiras se associaram de forma subordinada ao capital estrangeiro.
Inicialmente, isso foi uma imposição da relação entre a metrópole invasora
(Portugal) e a colônia invadida (Brasil). Quando da independência, no século
XIX, isto se transformou numa necessidade objetiva: depois de 300 anos de ocupação
e exploração colonial, o território brasileiro mal reunia condições para
produzir os produtos que necessitava para manter as suas classes
(principalmente as mais abastadas). Assim, a economia mundial era a grande
fornecedora de capital (dinheiro e mercadorias) para aqueles que viviam no
Brasil.
No
século XX, sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, nossa economia avançou muito, ao
se transformar em uma pujante economia industrial (mas também agrária). Sob a
liderança dos EUA, estabeleceu-se uma nova ordem global, assentada na
transnacionalização do capital. Em outras palavras, a expansão das empresas no
lado ocidental atingiu um patamar em que sua lucratividade depende, cada vez
mais, do seu funcionamento simultâneo em vários países, incluindo o Brasil e muitos
países asiáticos.
Nesse meio tempo, a China “aprendeu” as
regras desse jogo e passou a jogá-lo muito bem. O país conseguiu ascender à sua
atual posição dentro desta ordem global imposta pelos EUA. Ou seja, depois de
intensos esforços para transformação doméstica, os chineses passaram a ganhar
espaço no capitalismo mundial se expandindo através da ordem internacional
vigente. Para além do desenvolvimento tecnológico já citado, que coloca o país
como concorrente de países avançados, a China passou a se expandir na direção
de países atrasados, com acordos de financiamento, compartilhamento de
tecnologia, investimentos diretos, etc.
É nesse contexto que precisamos entender a
ação de Donald Trump, não apenas a sobretaxa ao Brasil, mas ao mundo (Coreia do
Sul e Japão também receberam cartas recentes do presidente). Seguindo seu já
conhecido modus operandi de negociação, ele está criando um caos inicial
que lhe dê maior poder de barganha quando se sentar para negociar. Em outras
palavras, ele dá um susto em seu interlocutor ao colocar o sarrafo de suas
exigências lá no alto. Em seguida, ele se senta para negociar a partir da
altura que ele colocou o sarrafo, dando-lhe maior vantagem na obtenção do
resultado que deseja.
Bom, diante disso tudo, onde entram a soberania
brasileira e o interesse nacional nessa história? Antes de mais nada, é preciso
dizer que os principais afetados pelas sobretaxas são os empresários que
exportam para os EUA, em especial, o setor primário-exportador. São eles,
também, que compõem uma parte significativa da classe dominante brasileira na
atualidade. Para além de uma questão de soberania, que de fato se
Sem trazer qualquer conclusão,
[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antonio Queirós, Bruno Lins, Ícaro Moisés, Julia
Dayane e Lara Souza.
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