Semana de 21 a 27 de outubro de 2024
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O aumento da taxa Selic pelo Banco Central
(Copom) continua a causar celeuma. Esta questão dos juros no país torna-se
recorrente e a principal preocupação de todos: tanto os especuladores
financeiros, apelidados de “mercado”, e o resto da nação. Enquanto continua a
difamar o Brasil no exterior e a traçar maus prognósticos para o futuro da
economia, o presidente do BC, Roberto Campos, aproveita sua peregrinação para
conseguir mais autonomia para a entidade. Não satisfeito com a já conseguida
autonomia, quer agora, com a PEC 65/2023, uma independência orçamentária e
financeira, transformando o BC em uma empresa pública. Este foi o tom do
discurso feito por ele, em São Paulo, no evento da 20-20 Investment
Association. Além disso, Campos solta a língua, para fazer críticas à política
fiscal do governo, insinuando a possibilidade de um descontrole fiscal e
dificuldades para manter as metas propostas no arcabouço fiscal. O resultado é
a inquietação e o nervosismo do “mercado”, que começa a precificar os juros futuros,
que já subiram para 13%. O próprio Tesouro Nacional já começou a emitir papéis
prefixados com taxas acima deste valor.
O nervosismo do mercado mostra a intenção
oculta de prejudicar a execução da política social do governo, pois todas as
críticas se voltam para o corte das despesas. É claro que as despesas a serem
cortadas são todas as que envolvem apoio social aos mais desfavorecidos.
Ninguém aponta corte de despesas com juros da dívida, por exemplo, ou não
pagamento das emendas dos parlamentares. Querem até investir contra as despesas
obrigatórias que só podem ser alteradas com emendas constitucionais.
Embora as estatísticas nada mostrem, os
especuladores da Faria Lima falam em pessimismo, em desconfiança fiscal, em um
quadro inflacionário agravado pelos preços da energia, alimentos e serviços, em
expectativas desancoradas, fatores que justificariam uma elevação da Selic para
13,5% ou mais. Com toda esta tensão tudo leva a crer que será muito difícil a
tarefa do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, quando assumir a
presidência.
Neste clima, a Fundação Getúlio Vargas
divulgou o Monitor do PIB, por ela calculado. Para agosto, em relação a julho,
houve uma retração de 0,2% na economia. Os dados mostram uma estagnação da
indústria e uma retração dos serviços. Só a agricultura apresentou crescimento.
As exportações tiveram uma queda de 2,5%, o que contribuiu para a queda do PIB.
Apesar deste quadro, não muito favorável, a taxa de investimentos foi de 18,1%.
Para surpresa geral, o FMI reviu para cima
sua estimativa para o crescimento do PIB do Brasil. No relatório “Panorama
Econômico Mundial” (WEO), a entidade estimou, que a economia do país deverá
crescer 3% este ano, e apontou como razões o “aumento do consumo privado e dos
investimentos, o mercado de trabalho aquecido, os programas de transferência de
renda do governo e o impacto das inundações, menor do que o esperado”. Para a inflação, o FMI prevê uma taxa de 4,3%,
dentro da meta, portanto. Para o mundo, o Fundo prevê um crescimento de 3,2% e
aponta como tarefa geral “derrubar a inflação sem uma recessão global”. Mostrou
preocupação com a eleição de Trump, nos EUA, que poderá provocar uma guerra de
tarifas com a China, que poderá afetar um quarto de todo o comércio de
mercadorias e 6% do PIB mundial. Destacou a resiliência da economia mundial e
previu um pouso suave marcando o fim da reanimação.
As tensões políticas e geoestratégicas
continuam elevadas, com o aumento dos riscos na guerra da Ucrânia (chegada de
tropas da Coreia do Norte no front) e continuidade dos massacres em Gaza,
Líbano, Síria e Irã. O estado de Israel, em ações terroristas, passou a
bombardear, com as bombas enviadas pelos EUA, as agências bancárias em Beirute,
a pretexto de atacar as finanças do Hamas. Ao bombardear uma agência bancária,
destrói um quarteirão inteiro e mata dezenas de civis, enquanto o mundo
ocidental civilizado a tudo assiste, passivo, com apenas algumas simbólicas
declarações.
Para finalizar, lamentamos o traumatismo sofrido pelo presidente, que o impediu de participar das reuniões dos BRICS e o embaraçoso veto do Brasil, à inclusão da Venezuela como membro da instituição.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os
pesquisadores: Paola Arruda, Brenda Tiburtino, Lara Souza, Raquel Lima e
Guilherme de Paula.