quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

ECONOMIA EM ALTA, CONFIANÇA EM BAIXA: O PAPEL DA ELITE NA DESINFORMAÇÃO

 Semana de 06 a 12 de janeiro de 2025


Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda [i]


Se você acompanhou as análises das últimas semanas, percebeu que os indicadores econômicos de 2024 desafiaram as previsões pessimistas, amplamente divulgadas no mercado ao longo do ano anterior. As projeções de colapso econômico, frequentemente comparando o Brasil a situações de crise em outros países, não se concretizaram. Pelo contrário, o país apresentou crescimento. Ainda assim, esse avanço não parece despertar entusiasmo em certos setores da elite econômica nacional.

Um exemplo revelador está numa notícia publicada neste início de janeiro, pelo jornal Valor Econômico, intitulada: “Mesmo com incertezas, desemprego deve ter alta apenas gradual em 2025.” O texto começa com uma frase emblemática, que parece traduzir o desconforto de parte da elite frente aos resultados positivos de 2024: “Será que a perda de fôlego do mercado de trabalho esperada há três anos por economistas vai enfim chegar em 2025?” A questão implícita parece ser: será que, finalmente, aqueles que dependem do trabalho assalariado enfrentarão dificuldades novamente? Será que as pressões nos preços, geradas por salários melhores e maior acesso a bens e serviços, deixarão de incomodar? Essa narrativa evidencia a resistência de alguns segmentos da sociedade em aceitar um maior dinamismo econômico no país, que traga mais qualidade de vida à população em geral.

O que se pode observar é um padrão recorrente, em que a responsabilidade pelos problemas recai sobre a população, enquanto o 1% mais rico do país se beneficia com políticas contracionistas e de austeridade. Paralelamente, a confiança no cenário político segue em declínio, ameaçando a estabilidade democrática. Apesar dos resultados positivos de 2024 — como o menor nível de desemprego da série histórica e o crescimento do PIB —, essas conquistas parecem não alcançar plenamente a consciência coletiva. Em meio a uma espécie de apatia informativa, grande parte da população continua consumindo desinformação e alimentando, inadvertidamente, ciclos de fake news que permeiam diversas camadas da sociedade.

Ainda nessas primeiras semanas de 2025, uma notícia falsa alegando que o governo brasileiro teria implementado uma taxação sobre transações realizadas via Pix, especialmente para valores mais elevados, espalhou-se rapidamente, gerando pânico entre os usuários, que receavam ter parte de seus ganhos “confiscados” pelo governo, em virtude de transações bancárias. Não havia, no entanto, qualquer nova cobrança sobre o Pix, e as medidas tinham, como objetivo exclusivo, aprimorar o monitoramento de transações financeiras, e combater a sonegação fiscal, sem prejudicar os usuários comuns

A disseminação da notícia falsa sobre a suposta taxação do Pix dividiu a sociedade. De um lado, havia grupos mal-intencionados divulgando deliberadamente a desinformação, para causar pânico e enfraquecer a confiança no governo. De outro, havia pessoas e organizações empenhadas em combater a fake news, tentando esclarecer a medida. Sabe-se, todavia, que o ciclo de fake news é muito difícil de ser quebrado, porque as informações falsas alcançam um número maior de pessoas, em muito menos tempo.

Em meio ao tumulto, o governo, em vez de buscar diálogo com a sociedade, optou por revogar a medida, cedendo às pressões geradas por informações falsas. Essa decisão traz, pelo menos, dois impactos negativos para a atual gestão do Brasil. Para aqueles que não entenderam a medida, ficou a impressão de que o governo realmente planejava taxar o Pix e recuou, devido à “pressão da oposição”. Por outro lado, para quem compreendeu a proposta e tentou desmentir a informação falsa, o recuo pode ser interpretado como um sinal de fraqueza e incapacidade de comunicar suas intenções e políticas de maneira clara e eficaz à população. Assim, a revogação não apenas falhou em reverter os danos causados pela fake news, como também reforçou a percepção de instabilidade e falta de liderança.

Como dito na última análise, este não será um ano fácil. Enquanto isso, 2026 está batendo à porta e, por isso, 2025 será crucial para o que está por vir. A gestão do país enfrentará o desafio de consolidar os avanços obtidos em 2023 e 2024, ao mesmo tempo em que precisará combater ciclos de fake news, que não só ameaçam a estabilidade social e política, como também tendem a se fortalecer com o fim das restrições da Meta. Portanto, não basta que sejam promissores os resultados, será também imprescindível fortalecer os canais de comunicação com a sociedade, combater a desinformação e reafirmar o compromisso com decisões transparentes e consistentes.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino, Rosângela Palhano, Guilherme de Paula, Lara Souza, Gustavo Figueiredo, Jéssica Brito, Antônio Fontes e Icaro Moisés..

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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

2025: PREPAREMO-NOS PARA AS BATALHAS QUE VIRÃO

 Semana de 30 de dezembro de 2024 a 05 de janeiro de 2025


Nelson Rosas Ribeiro[i]


Nas duas análises passadas, destacamos a “resiliência” da economia em 2024 e as ameaças que pairam sobre nossas cabeças agora em 2025.  O ano mal começou, e a inflação bateu à porta vindo do exterior e do clima. A desvalorização do real frente ao dólar, com a ajuda da especulação, tem repercussão sobre os preços dos importados, elevando os custos de produção. Por outro lado, as variações e as catástrofes climáticas influem nos preços dos alimentos. Em ambos os casos, as taxas de juros não têm nenhuma influência. Nada podemos contra o clima e não conseguimos influenciar a política do governo dos EUA. A situação torna-se ainda mais grave com o aumento das incertezas geradas pela eleição de Donald Trump.

Mas o Banco Central (BC) não sabe disso. Na cabeça de seus diretores, só existe a velha (teoria) ideologia econômica, ensinada nos manuais, segundo a que se combate a inflação elevando a taxa de juros. E aí aguardamos que se cumpra a profecia de novas elevações da Selic, já prometida. Os sábios diretores do BC ainda não descobriram que os desequilíbrios entre oferta e procura podem ser corrigidos também pelo aumento da oferta. Assim, as taxas de juros elevadas, não tendo qualquer influência na contenção da elevação dos preços atuais, apenas dificultam os investimentos travando a produção e, portanto, comprimindo a oferta. Coitados dos novos diretores a serem indicados pelo Lula, incluindo o novo presidente, Gabriel Galípolo, os quais assumirão a direção do BC, sofrendo grande pressão “d’Uzmercado” e de toda a mídia reacionária. A Selic, que hoje se situa em 12,25%, deverá subir para 15% até o final do ano, segundo as estimativas dos representantes do sistema financeiro, aqui chamados de “uzmercado”.

Os resultados econômicos de 2024 desmoralizaram as previsões pessimistas “d’ Uzmercado”. Não estamos emitindo uma opinião, mas apenas constatando os dados publicados. O emprego aumentou, aumentaram os salários, os investimentos, as vendas, a produção, os lucros etc. Desmoralizaram-se as previsões de caos, de nos tornarmos uma Venezuela ou Argentina. (Onde andará o profeta Paulo Guedes? Gostaria de ver a cara dele).

Mas nada parece adiantar. O problema é que os reacionários não conseguem engolir o governo Lula, mesmo com as derrotas das tentativas de golpe e com o avanço dos processos que levarão a muitas condenações de golpistas e conspiradores como já vem ocorrendo, as tramas continuam. Para agravar a situação, temos agora de enfrentar duas poderosas organizações criminosas, muito piores que o PCC e o CV. Estas duas perigosas organizações ameaçam as pessoas, mas, agindo contra a lei, assumem o risco de seus membros serem apanhados, processados e presos. As duas novas organizações que temos de enfrentar não correm este risco pois se encontram aquarteladas dentro do Congresso nacional e no Banco Central. São, porém, mais perigosas pois, acobertados pela legalidade de seus status, conspiram contra a nação e a sua ação atinge a todos.

No Congresso aprovam leis e decretos anticonstitucionais, aumentando seus privilégios e salários e provocando rombos no orçamento. Estes rombos serão lançados nas contas do governo que será responsabilizado por não cumprir a lei do arcabouço fiscal. Ao mesmo tempo, aumentando o desequilíbrio fiscal, aprovam leis que elevam as despesas, como a desoneração da folha de pagamento, ou a conceção de benefícios fiscais para algumas empresas, ou ainda criando novas emendas parlamentares, dinheiro destinado aos redutos eleitorais dos deputados e senadores, sem qualquer controle.

A organiza criminosa alojada no BC, por seu lado não vacila em derrubar a economia programando novas elevações da taxa de referência Selic. O insaciável mercado financeiro não para de berrar histérico, acusando o governo de não buscar o equilíbrio fiscal, de não cortar gastos, não procurar obter superávit primário e não conseguir dar garantias de que conseguirá conter o endividamento. Acusam o governo de não apresentar um plano convincente de corte de gastos capaz de satisfazer sua sanha por mais juros.

Certamente teremos um 2025 difícil.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino, Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Lara Souza, Maria Julia Alencar, Paola Arruda e Raquel Lima.

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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

ADEUS 2024! UM BRINDE À ECONOMIA!

 Semana de 23 a 29 de dezembro de 2024

Rosângela Palhano Ramalho[1]

Estimado leitor, esta é a última análise do ano. O balanço geral dos 53 textos semanais publicados neste espaço nos fornece um resultado: apesar dos pesares e contrariando todas as expectativas, a economia brasileira em 2024 foi muito bem, obrigada! Não foi um ano fácil. O presidente, que já administrou o país por duas vezes, elegeu-se oferecendo uma pauta cristalina para a economia, mas continua a enfrentar as mais variadas acusações e boicotes. Resiliente, Lula, como político tarimbado que é, sobreviveu à tentativa de golpe em 2023, e, em 2024, administrou bem o levante descarado contra o seu governo. Os coiotes, estão à espreita, ora defendendo o impeachment, ora tentando induzir os rumos da eleição de 2026, sem Lula, é claro. Vale o que vier primeiro.

Até agora só quebraram a cara! Parte da “patriotada” das Forças Armadas está encarcerada pela participação nos planos de tomada de poder, que incluíam o assassinato do presidente e vice-presidente eleitos, e as elites política, econômica e financeira não têm conseguido seu intento. O curso da economia foi mantido e Fernando Haddad, ministro da Fazenda, em um almoço da Febraban, no início de dezembro, conseguiu resumir o resultado econômico numa única frase: “O ano de 2024 foi ruim em termos de expectativas, mas ótimo em termos produtivos.” E ele está certo!

No início do ano, as expectativas de crescimento já demonstravam que a ideologia dos consultados tinha se sobreposto à realidade observável. A vontade, a torcida, o querer, enterraram a seriedade das análises econômicas. Matéria da Folha de São Paulo publicada em fevereiro de título “Economia está devagar, quase parando, avaliam consultorias”, previa um PIB de 1,5% em 2024. O erro é grosseiro. Vamos crescer em torno de 4%! O mercado errou e errou feio! Reforcemos: errou e muito! Sistematicamente! Nas projeções de crescimento trimestrais, ele errou vergonhosamente todas as projeções apuradas até agora. O Boletim Focus do Banco Central, principal documento que expressa a previsão de crescimento no país, apurou, para os primeiros três trimestres do ano, alta de 0,7%, 0,9% e 0,8%. Entretanto, o PIB cresceu 1%, 1,4% e 0,9% respectivamente e o crescimento acumulado neste período alcançou 3,3%. O mercado mesmo descredibilizado, segue blindado de qualquer cobrança e exige credibilidade alheia sem qualquer pudor. Credibilidade do Banco Central, do Copom, de Haddad, de Lula... E o mantra do caos se espalhou como rasto de pólvora neste fim de ano. Bastou Lula precisar de assistência médica, que passaram a pleitear a passagem de governo para o vice-presidente e a desejar ardentemente a morte do presidente.

Como sobreviveu, Lula passou a ser atacado diretamente. Os indecentes (sem ruborizar), colocam sua face à luz! E vendem a falsa ideia de que o governo está por um fio. O Jornal Valor Econômico, por exemplo, publicou, na última semana do ano, precisamente em 23 de dezembro, três análises que demonstram a patifaria. Em texto sem assinatura e de título “BC atenua crise, mas é hora de o governo se ajudar”, o jornal sugere que “o governo está em córner, na metade final do mandato”, em virtude de sua “leniência fiscal”, ao não apresentar um pacote crível ao mercado. E termina em tom de ameaça: “a inflação costuma castigar os governos nas urnas”. Já a análise opinativa de Gustavo Loyola “O ano velho deixará saudades” não enaltece o crescimento da renda, do emprego, da produção ou a queda da pobreza, pelo contrário, alerta para os perigos iminentes da “gravidade da situação fiscal” e para o “destempero verbal do presidente”. É como se o governo não tivesse assumido o compromisso fiscal e enviado uma proposta ao Congresso que passou a desidratá-la deliberadamente. Enfim, o artigo de Maria Cristina Fernandes “Lula agarra-se à âncora do ‘jovem chamado Galípolo’”, o presidente é apresentado como a figura maléfica responsável pelo naufrágio (!) do Brasil, pois além de “contrabandear” a isenção do imposto de renda para o pacote fiscal, agora usará Galípolo como âncora para tirá-lo “do atoleiro”. Inacreditável!

AEnfim, o Natal chegou. E de acordo com a Neotrust Confi, entre os dias 01 e 25 de dezembro, as compras online movimentaram R$ 26 bilhões, alta nominal de 20,6% em comparação ao mesmo período de 2023. O Itaú Unibanco, apurou que na semana anterior ao Natal, o comércio on-line e o físico, cresceram 12,3% em relação ao mesmo período de 2023. O ano findou e os teóricos do caos continuarão a bradar seus impropérios nas manchetes e editoriais Brasil afora. Mas isso não mudará a realidade. O Brasil foi a décima economia do mundo que mais cresceu em 2024 e terceira no G-20, apesar do mercado, da ideologia, dos analistas de visão única e daqueles disfarçados de patriotas.

Um brinde à economia! Um brinde a vocês caros leitores! À equipe do PROGEB! Adeus 2024! E um feliz 2025 a todos nós!


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Lara Souza, Brenda Tiburtino, Gustavo Figueiredo, Camylla Maria, Miguel Oliveira e Mateus Eufrásio.

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

RETROSPECTIVA 2024...

 Semana de 16 a 22 de dezembro de 2024

Lucas Milanez de Lima Almeida[i]


Em alguns aspectos, o ano de 2024 começou igual ao de 2023: “os mercados” previram, novamente, o colapso da economia brasileira. Com o passar dos meses, as expectativas pessimistas foram sendo frustradas pela própria realidade. Na maior parte do ano, a economia cresceu e a inflação se conteve abaixo do teto da meta. Porém, “os mercados” não se deram por satisfeitos.

Apesar do restritivo “Novo Arcabouço Fiscal” já estar em operação (substituindo o ainda pior “Teto dos Gastos”), desde os primeiros meses do ano os especuladores levantaram dúvidas sobre o cumprimento dessa nova regra de gastos públicos. Como principal ícone, símbolo maior dos mercados, vimos o presidente do Banco Central falar mal da situação do Brasil para meio mundo. Roberto Campos Neto, sem dúvidas, foi o grande mensageiro da desgraça. Com a autoridade que (infelizmente) tem, suas palavras serviram de norte para “os mercados” continuarem a apostar no pior.

Entretanto, a desgraça não se abateu sobre o Brasil. Pelo contrário, os salários e os lucros se elevaram, o desemprego caiu, a produção aumentou, o investimento se expandiu, enfim, a economia continuou sua retomada cíclica. Aborrecidos, por razões que vão desde as limitações da visão de mundo dos seus operadores (limites de ordens teórica e científica) aos interesses econômicos dos seus mandatários, “os mercados” dobraram a aposta pela piora. Sem levarem em conta que o Congresso Nacional foi o grande culpado, a capacidade de Lula de cumprir a regra fiscal foi colocada em xeque ao longo de todo o ano de 2024. Não que a realidade estivesse ruim, mas, para “os mercados”, vale mais a especulação do que a própria realidade.

Com a melhora na arrecadação, devido ao aquecimento da economia, e com os contingenciamentos e bloqueios de bilhões de reais ao longo do ano, o governo “resolveu” esta questão para 2024. Mas, se engana quem achou que o mercado desistiria. Passou-se a questionar o orçamento de 2025.

Nesse contexto, o dólar foi o grande “nervosômetro” do mercado. Como muito se tem noticiado, o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo em 2024. Ao longo do ano, a moeda brasileira apresentou diferentes padrões de comportamento em relação ao dólar. A tabela e o gráfico a seguir mostram isto. Nos meses de maio, julho e novembro, o comportamento do real se descolou do movimento das principais moedas frente ao dólar (medido pelo índice DXY). Por exemplo, ao longo do primeiro semestre, a valorização do dólar frente a outras moedas foi pequena (3,2%), enquanto o real saiu de uma cotação de R$/US$ 4,92, em janeiro, para R$/US$ 5,59, em junho (um aumento nominal de 13,6%). A partir daí os movimentos especulativos foram se intensificando, fazendo que com o dólar oscilasse fortemente. Tudo isto culminou com o ataque especulativo a partir de novembro, que obrigou o Banco Central a intervir no mercado de câmbio.

Assim, em uma verdadeira sinuca de bico e pelo segundo ano consecutivo, Fernando Haddad teve que apresentar novas medidas de contenção das despesas. Contudo, desta vez, para satisfazer a voracidade “dos mercados”, os pobres precisaram ser atacados: dentre outras coisas, foram aprovadas mudanças nas regras de reajuste do salário-mínimo e de benefícios sociais. Mas, verdade seja dita, é certo que não foi culpa do ministro a manutenção da mamata que alcançou R$ 646,6 bilhões em benefícios dados pela União. Por exemplo, ainda em 2023, foi o Congresso que prorrogou o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE) e a desoneração da folha. Só aí seria possível obter, por baixo, R$ 23 bilhões.

Enfim, tanto as pesquisas de intenção de votos, quanto os editoriais da grande mídia têm mostrado que a fome “dos mercados” não foi saciada. Na realidade, enquanto Lula for presidente, ela jamais será. O que eles querem é ter a faca e o queijo nas mãos, para pode cortar o quê, quando e onde quiserem. Não por coincidência, isto sempre se traduz em: tirar o pobre do orçamento. Com Lula “os mercados” já viram que não será possível, o que é um alento para a classe trabalhadora. Com Haddad, “os mercados” têm esperança (infelizmente, eu tenho a mesma percepção deles...).

Esse foi o ano de 2024. Dá para esperar coisa melhor de 2025? Não muito. Mas, é isso, a classe trabalhadora nunca obteve nada de graça, sempre lutou por tudo o que tem. No capitalismo é assim.

Feliz ano novo e sigamos na luta.

 

Correlação entre R$/US$ e DXY: cotação diária

Trimestral

Mensal

4º Trim.

0.8587

Dezembro

0.7053

Novembro

0.1915

Outubro

0.9231

3º Trim.

0.1818

Setembro

0.9274

Agosto

0.4322

Julho

0.1315

2º Trim.

0.3253

Junho

0.8739

Maio

-0.1177

Abril

0.8643

1º Trim.

0.6674

Março

0.4107

Fevereiro

0.3718

Janeiro

0.7630

               Fonte: elaboração própria, a partir de dados da Investing.com Brasil

 



             Fonte: elaboração própria, a partir de dados da Investing.com Brasil

 


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antônio Fontes, Icaro Moisés, Lara Souza, Ryann Felix, Guilherme de Paula, e Paola Arruda.

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

ARMADILHA PARA O GOVERNO LULA: ENTRE O MERCADO E O CONGRESSO

Semana de 09 de dezembro até 13 de dezembro de 2024

 

Maria Fernanda Vieira Guimarães[i]

           

Semana passada, o Banco Central decidiu, pela infinitesimal vez seguida, aumentar a taxa Selic, dessa vez em 1 ponto percentual. As expectativas desancoradas, a insegurança do cenário internacional e a inflação brasileira, apesar de serem desafios reais, continuam servindo como pano de fundo e cortina de fumaça para as reais intenções dos dirigentes da política monetária no Brasil. A inflação, pressionada por aumentos nos preços de alimentação e bebidas (1,55% em novembro) e transportes (0,89%), permanece acima do teto da meta de 4,5%, acumulando alta de 4,87% em 12 meses, embora some 4,27% no acumulado de janeiro a novembro, um pouco abaixo do teto. A estratégia do Banco Central, no entanto, que falha em atacar as causas estruturais dessa inflação, prioriza  uma política restritiva, que compromete o crescimento econômico e o bem-estar da população.

Além de aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, o Copom registrou em ata a intenção de continuar elevando os juros em mais 1 ponto percentual nos próximos dois meses. Esta decisão, mesmo sendo a última sob a presidência de Roberto Campos Neto, funciona como uma armadilha para o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado por Lula. A mensagem é clara: o mercado deve se acostumar com juros elevados, independentemente de mudanças na liderança. Enquanto isso, o aumento contínuo da Selic encarece o crédito, desestimula o investimento e aprofunda as desigualdades sociais.

Em um cenário político delicado, o governo federal luta para aprovar suas pautas no Congresso, onde as emendas parlamentares são a moeda de troca. Na semana passada, foram liberados R$ 477 milhões em emendas para destravar a pauta econômica e avançar com o pacote de ajuste fiscal proposto pela equipe econômica de Fernando Haddad. Esse “toma lá, dá cá” e, em certa medida, a própria governabilidade do governo Lula, em um congresso inflexível frente às suas demandas,veem-se ameaçados pela PEC proposta pelo líder do PL na Câmara dos Deputados. O Projeto em questão transforma emendas de comissão em emendas individuais obrigatórias, ameaçando aumentar os gastos públicos e restringir ainda mais a margem de manobra do Executivo.

Essa combinação de uma política monetária inflexível e uma gestão fiscal refém de interesses parlamentares mina qualquer perspectiva de ajuste estrutural. Recentemente, o PLP 68/2024, projeto de lei complementar da reforma tributária foi discutido no Senado e, depois de inúmeras concessões feitas e alterações, tais como a exclusão de armas, munições e bebidas açucaradas do imposto seletivo e o aumento de setores com alíquota reduzida, os senadores aprovaram o projeto de lei que agora volta para a Câmara dos Deputados. Fica claro que, em vez de simplificar o sistema e ampliar a arrecadação, as alterações promovidas pelos parlamentares tendem a manter privilégios e atender aos interesses específicos de suas bases eleitorais.

Enquanto isso, o Banco Central insiste no aumento de juros como única solução para conter a inflação, e o impacto real recai sobre os trabalhadores e os mais pobres. A alta nos preços dos alimentos corrói o poder de compra, enquanto os juros elevados sufocam qualquer fagulha de crescimento que, porventura, surja na economia brasileira. As projeções de inflação do Boletim Focus já ultrapassaram o limite da banda máxima projetada, e, em vez de equilibrado, temos um tripé macroeconômico manco, sustentado por uma política de juros altos, que sacrifica o crescimento em nome de um controle inflacionário ineficaz.

Em meio a desafios e negociações, o estado de saúde do presidente Lula adiciona uma camada de preocupação à conjuntura política e econômica do país. Sua recente internação, após queixas de dor de cabeça durante uma reunião com líderes da Câmara e do Senado, para viabilizar a aprovação do Pacote Fiscal, compromete a liderança do governo em um momento crítico para o Brasil. É lamentável que a saúde do presidente esteja debilitada. Desejamos a ele uma rápida e plena recuperação, para que possa continuar liderando os esforços por um país mais justo, equilibrado e resiliente.


[i] Pesquisadora do PROGEB e graduanda em Relações Internacionais pela UFPB (mafe.vg.2007@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Bruno Lins, Brenda Tiburtino, Guilherme de Paula e Raquel Silva.

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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

BRASIL CRESCE, MAS QUEM PERDE COM ISSO?

Semana de 02 a 08 de dezembro de 2024

 

Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda[i]

           

O mercado, sempre tão entusiasmado com promessas de austeridade, recebeu o anúncio do pacote de corte de gastos do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com insatisfação e estardalhaço. O motivo da fúria? A inclusão inesperada da isenção do Imposto de Renda, para quem ganha até R$5 mil, no pacote. A preocupação era a de que tal medida reduzisse a arrecadação dos cofres públicos e diminuísse o efeito da redução de despesas gerado pela implementação dos cortes.

A “grande” preocupação dos rentistas brasileiros não se materializa nem na teoria, nem na prática, uma vez que, junto à proposta, já havia uma solução para a questão, baseada em números: a taxação na alíquota de 10% para quem possui renda acima de R$ 50 mil por mês - ou R$ 600 mil por ano. Assim, teoricamente, a contramedida agiria como um neutralizador, fazendo com que a arrecadação não fosse alterada.

Já na prática, boa parte dos “problemas” e “preocupações” do mercado com o gasto público seria resolvida com a redução dos gastos com os juros da dívida. De acordo com dados da Agência Brasil, estes gastos ficaram em torno de R$ 111,564 bilhões, até o mês de outubro deste ano, equivalendo a quase metade do orçamento público e a praticamente o dobro dos R$ 61,947 bilhões registrados em outubro de 2023.

Assim, pode-se dizer que, hoje, há no Brasil, um novo programa de transferência de renda, só que voltado à elite rentista: uma parte muito grande do orçamento fica retida no pagamento de juros altíssimos, enquanto despesas com saúde e educação são alvo de restrição. A contenção de gastos parece só ter serventia, se significar retirar de quem tem menos, ou seja, dar menos educação ao filho do pobre, piorar o acesso à saúde de quem não tem dinheiro para custear o próprio tratamento. Enquanto os cortes só podem atingir a parcela mais vulnerável da população, as receitas do Estado não devem, jamais, alcançar a parcela 1% mais rica do país, e os juros não podem, em hipótese alguma, cair – pois isso implicaria grande perda à elite do capitalismo financeiro.

Para o discurso econômico dominante, a “culpa” pela “inflação” brasileira e pelos “desequilíbrios fiscais” advém do próprio povo. O salário-mínimo aumentou, o nível de desemprego é o menor desde 2014, e a pobreza atingiu o menor patamar da série histórica, desde 2012. O brasileiro está comendo mais, comprando mais e, consequentemente, demandando mais. A economia está girando, o país está crescendo – acima do esperado – e a pressão sobre os preços pode ser contida com uma expansão da oferta. Coisa boa, correto?

Para o COPOM, erradíssimo! Veja bem, caro leitor, não sou eu quem está dizendo, foi o próprio Comitê de Política Monetária. Em nota, o Comitê registrou que o aumento na taxa de juros é necessário para atuar “na suavização das flutuações do nível de atividade e do pleno emprego”. Isso quer dizer que, para o órgão, nem o PIB pode subir muito, nem o desemprego descer demais. Através de eufemismos, o que o Comitê quis dizer foi que não se deve permitir que o país cresça.

O desespero vem em conjunto com os dados do desempenho econômico recente, que mostram que o crescimento do PIB superou consistentemente as previsões nos três últimos trimestres, indicando uma economia mais resiliente que o esperado. No primeiro trimestre, a projeção era de 0,7%, mas o crescimento real atingiu 1,1%. No segundo, a expectativa de 0,9% foi superada com um crescimento de 1,4%, enquanto no terceiro trimestre, o PIB cresceu 0,9%, acima da previsão de 0,8%.

Esse contexto revela um paradoxo: enquanto a economia brasileira dá sinais de vigor e supera expectativas, os atores do mercado financeiro e o próprio COPOM pretendem conter o crescimento e não o celebrar. A insistência em políticas que priorizam juros altos e cortes nos serviços essenciais reflete a escolha política de proteger os interesses de uma elite financeira em detrimento do bem-estar da maioria da população. Essa postura conservadora diante de avanços econômicos apenas reforça a desigualdade e limita o potencial de progresso coletivo.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Rubens Gabriel, Miguel Oliveira, Guilherme de Paula e Maria Júlia.

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

SELIC VERSUS CRESCIMENTO: DUAS TEORIAS EM CONFRONTO

Semana de 25 de novembro a 01 de dezembro de 2024

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Apesar de toda a complexidade da realidade local e internacional, há duas questões que ocupam o centro dos debates: o COPOM com a taxa de juros Selic, por um lado, e o crescimento ou resiliência da economia, por outro. As duas grandes questões não são apresentadas como opostas o que esconde o verdadeiro problema. A elevação da inflação, medida pelo IPCA-15, para novembro, mostrou um crescimento de 0,62%. Anualizado até este mês, isto representaria 4,47% acima do teto da meta de 4,5%. O Banco Central (BC) entrou em pânico. A Selic, que já havia sido aumentada de 10,75% para 11,25%, passou a ser estimada em valores em torno dos 13%. O “mercado”, faminto de juros, já urra exigindo novos aumentos. Aponta como causa da inflação o crescimento da economia, promovido pela política fiscal expansionista do governo, as políticas sociais, com a transferência de renda, os aumentos do salário-mínimo, o aumento do emprego etc. Segundo o BC, tudo isto provoca o aumento da demanda e este aumento é o responsável pelo crescimento da inflação. Justificam com a velha e caduca lei da oferta e procura, que eu chamo de “lei do Biu de Riachão de Bacamarte”: quando a procura aumenta, os preços sobem. Eis o raciocínio primário. Segundo esta teoria, a única solução para conter a inflação é reduzindo a procura. E como fazê-lo? Chame o poderoso Banco Central. Ele consulta seus inspiradores e apresenta a única solução que conhece, pois está nos manuais: elevar a taxa de juros para deter o consumo e os investimentos. Trata-se, portanto, de uma questão de teoria econômica. Este é o remédio que tem sido aplicado e que continuará a sê-lo.

Agora, a outra preocupação do “mercado”. Com efeito, a economia, apesar de todos os entraves, continua crescendo teimosamente. É resiliente, para utilizar uma palavra muito querida hoje. Depois de crescer 1,4%, no segundo trimestre, voltou a crescer 0,9%, no terceiro (julho a setembro). Os investimentos cresceram 2% e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), 2,2%. Com isto, o Ministério da Fazenda elevou a previsão de crescimento do PIB deste ano, de 3,2%, para 3,3%. A taxa de inflação também foi elevada, de 4,25%, para 4,4%, ainda dentro do teto da meta. Para o ministério isto não é preocupante, pois o crescimento atual da inflação se deve a fatores sazonais e ao câmbio e está sob controle.

O crescimento da economia, porém, se deve ao aumento dos investimentos privados, ou seja, apesar de todo o berreiro, os empresários sabem como ganhar dinheiro e não querem perder as oportunidades. Não só os nacionais, mas também os estrangeiros. No primeiro semestre, o Brasil está em segundo lugar no mundo, como principal destino para os Investimentos Diretos Estrangeiros. Internamente, o ambiente dos negócios permanece favorável. Um levantamento feito pelo Valor Data, com 399 empresas não financeiras, mostrou ganhos de 84% nos lucros, no segundo trimestre. Segundo Daniel Gewehr, estrategista chefe para a América Latina do Itaú BBA, “os resultados mostram que a economia continua bastante robusta”. O crescimento da economia deve-se à dinâmica gerada por suas próprias leis. Este movimento tem, certamente, sido estimulado pelas medidas tomadas pelo governo e mesmo pela própria existência de um Estado que cumpre com suas funções administrativas, e tem um projeto de melhorar as condições de vida de um povo, diferentemente do anterior, que primou pela incompetência e imobilidade. A política econômica adotada pelo governo atual tem por base uma teoria econômica: o desenvolvimentismo. O caminho para combater a inflação não é, portanto, reprimindo a demanda, mas estimulando a oferta. Cumprindo as promessas de campanha, o governo precisa promover o desenvolvimento, reduzir a fome, aumentar o emprego, os rendimentos dos trabalhadores, melhorar a educação, a saúde, as condições de moradia etc.

A pretexto de combater a inflação elevando a taxa Selic, o que se pretende, na verdade, é prejudicar o governo, desgastando sua imagem, mesmo que para isto seja necessário impedir o crescimento, aumentar o desemprego e a fome, reduzir os salários, destruir a economia do país. Eis o que se esconde por trás do debate sobre inflação x Selic.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Paola Arruda, Brenda Tiburtino, Lara Souza e Guilherme de Paula.

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