Semana de 06 a 12 de janeiro de 2025
Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda [i]
Se você acompanhou as análises das últimas
semanas, percebeu que os indicadores econômicos de 2024 desafiaram as previsões
pessimistas, amplamente divulgadas no mercado ao longo do ano anterior. As
projeções de colapso econômico, frequentemente comparando o Brasil a situações
de crise em outros países, não se concretizaram. Pelo contrário, o país
apresentou crescimento. Ainda assim, esse avanço não parece despertar
entusiasmo em certos setores da elite econômica nacional.
Um exemplo revelador está numa notícia
publicada neste início de janeiro, pelo jornal Valor Econômico, intitulada: “Mesmo com incertezas, desemprego deve
ter alta apenas gradual em 2025.” O texto começa com uma frase emblemática, que
parece traduzir o desconforto de parte da elite frente aos resultados positivos
de 2024: “Será que a perda de fôlego do mercado de trabalho esperada há três
anos por economistas vai enfim
chegar em 2025?” A questão implícita parece ser: será que, finalmente, aqueles
que dependem do trabalho assalariado enfrentarão dificuldades novamente? Será
que as pressões nos preços, geradas por salários melhores e maior acesso a bens
e serviços, deixarão de incomodar? Essa narrativa evidencia a resistência de
alguns segmentos da sociedade em aceitar um maior dinamismo econômico no país,
que traga mais qualidade de vida à população em geral.
O que se pode observar é um padrão
recorrente, em que a responsabilidade pelos problemas recai sobre a população,
enquanto o 1% mais rico do país se beneficia com políticas contracionistas e de
austeridade. Paralelamente, a confiança no cenário político segue em declínio,
ameaçando a estabilidade democrática. Apesar dos resultados positivos de 2024 —
como o menor nível de desemprego da série histórica e o crescimento do PIB —,
essas conquistas parecem não alcançar plenamente a consciência coletiva. Em meio
a uma espécie de apatia informativa, grande parte da população continua
consumindo desinformação e alimentando, inadvertidamente, ciclos de fake news
que permeiam diversas camadas da sociedade.
Ainda nessas primeiras semanas de 2025, uma notícia falsa alegando que o governo brasileiro teria implementado uma taxação sobre transações realizadas via Pix, especialmente para valores mais elevados, espalhou-se rapidamente, gerando pânico entre os usuários, que receavam ter parte de seus ganhos “confiscados” pelo governo, em virtude de transações bancárias. Não havia, no entanto, qualquer nova cobrança sobre o Pix, e as medidas tinham, como objetivo exclusivo, aprimorar o monitoramento de transações financeiras, e combater a sonegação fiscal, sem prejudicar os usuários comuns
A disseminação da notícia falsa sobre a
suposta taxação do Pix dividiu a sociedade. De um lado, havia grupos
mal-intencionados divulgando deliberadamente a desinformação, para causar
pânico e enfraquecer a confiança no governo. De outro, havia pessoas e organizações
empenhadas em combater a fake news, tentando esclarecer a medida. Sabe-se,
todavia, que o ciclo de fake news é muito difícil de ser quebrado, porque as
informações falsas alcançam um número maior de pessoas, em muito menos tempo.
Em meio ao tumulto, o governo, em vez de
buscar diálogo com a sociedade, optou por revogar a medida, cedendo às pressões
geradas por informações falsas. Essa decisão traz, pelo menos, dois impactos
negativos para a atual gestão do Brasil. Para aqueles que não entenderam a
medida, ficou a impressão de que o governo realmente planejava taxar o Pix e
recuou, devido à “pressão da oposição”. Por outro lado, para quem compreendeu a
proposta e tentou desmentir a informação falsa, o recuo pode ser interpretado como
um sinal de fraqueza e incapacidade de comunicar suas intenções e políticas de maneira clara e eficaz à
população. Assim, a revogação não apenas falhou em reverter os danos causados
pela fake news, como também reforçou a percepção de instabilidade e falta de
liderança.
Como dito na última análise, este não será
um ano fácil. Enquanto isso, 2026 está batendo à porta e, por isso, 2025 será
crucial para o que está por vir. A gestão do país enfrentará o desafio de
consolidar os avanços obtidos em 2023 e 2024, ao mesmo tempo em que precisará
combater ciclos de fake news, que não só ameaçam a estabilidade social e
política, como também tendem a se fortalecer com o fim das restrições da Meta.
Portanto, não basta que sejam promissores os resultados, será também
imprescindível fortalecer os canais de comunicação com a sociedade, combater a
desinformação e reafirmar o compromisso com decisões transparentes e
consistentes.
[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações
Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino, Rosângela Palhano, Guilherme de
Paula, Lara Souza, Gustavo Figueiredo, Jéssica Brito, Antônio Fontes e Icaro
Moisés..