domingo, 13 de julho de 2025

ENTRE GIGANTES, O BRASIL FALA DE PÉ

Semana de 30 junho a 06 de julho de 2025

    

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

Na última reunião dos BRICS — bloco que hoje reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Irã, Egito, Etiópia, Indonésia e Emirados Árabes — os debates sinalizaram uma inflexão clara na geopolítica e na economia mundiais. Compondo quase 50% da população mundial, 40% do PIB global e 25% do comércio internacional, o BRICS deixou de ser apenas um grupo simbólico de economias emergentes para se tornar um verdadeiro contrapeso à hegemonia ocidental. Nesse cenário, o presidente Lula ganhou destaque, ao levantar com firmeza a bandeira da desdolarização do comércio global, defendendo a criação de uma nova moeda para transações entre os países do bloco. A proposta não é só econômica: é também política. Trata-se de romper com a dependência do dólar, que historicamente tem sido usado como instrumento de poder e de pressão por parte dos EUA.

A proposta de uma nova moeda, ainda em fase embrionária, foi bem recebida por diversos membros do bloco, que veem nela uma possibilidade concreta de enfrentar o poder desproporcional exercido pelo sistema financeiro ocidental. A discussão, todavia, não foi bem avaliada por Donald Trump, presidente norte-americano, que ameaçou, via redes sociais, taxar em mais 10% “qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas do BRICS”.

Além disso, dias após o encerramento da cúpula dos BRICS, Donald Trump também usou suas redes sociais para anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. Seus motivos? A existência de um "déficit comercial inaceitável" para os EUA nas relações com o Brasil e de uma “caça às bruxas” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado pela justiça brasileira por tentativa de golpe de Estado.

Em primeiro lugar, a afirmação de déficit estadunidense é factualmente falsa: nos últimos 15 anos, foi o Brasil quem apresentou déficit comercial com os Estados Unidos, e não o contrário. Ou seja, a justificativa de Trump é economicamente distorcida, servindo apenas como pretexto político-eleitoral para alimentar o discurso nacionalista e protecionista que tanto marcou e continua a marcar sua gestão.

Além disso, o argumento de que o Brasil estaria promovendo uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro é mais do que uma declaração infeliz. Trata-se de uma clara tentativa de ingerência nos assuntos internos do Brasil, ferindo diretamente os princípios da soberania nacional. Ao atrelar essa narrativa à imposição de tarifas econômicas, o que se desenha é uma pressão política velada, na qual medidas comerciais são usadas como instrumento de intimidação para influenciar o curso de investigações e julgamentos conduzidos pelo Judiciário brasileiro. Em outras palavras, é uma tentativa explícita de enfraquecer a autonomia das instituições brasileiras e de condicionar decisões internas à vontade de interesses estrangeiros, algo inaceitável em qualquer Estado soberano e democrático.

No Brasil, a reação foi imediata: a população criticou duramente a fala de Trump, e o presidente Lula, sem titubear, afirmou que o Brasil não aceitará intimidações, que está aberto ao diálogo, mas que responderá com base no princípio da reciprocidade. Em outras palavras: se vier taxação, virá resposta proporcional. O Brasil não se submeterá a chantagens externas, ainda mais vindas de um político que distorce dados e busca interferir em investigações legítimas de outro país soberano.

O Brasil tem parceiros comerciais tanto no BRICS quanto fora dele, e não depende exclusivamente dos Estados Unidos para manter sua balança comercial saudável. Além disso, o país ocupa uma posição geoeconômica estratégica e rara no cenário global: está entre os dez países mais populosos, com maior extensão territorial e com as maiores economias do mundo. Poucos países reúnem simultaneamente essas três características, e isso não é trivial.  É hora de reconhecer que o mundo já não gira em torno de uma única potência, e que o Brasil tem plenas condições de exercer um papel protagônico, com autonomia e dignidade.

Em resumo? O Brasil não é o quintal de ninguém. Não é satélite dos EUA. Não é “país do futuro” – é país do presente. E se os EUA quiserem impor tarifas e fazer ameaças, que saibam: o Brasil está de pé, forte, estratégico e pronto para responder à altura.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduada em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram:  Brenda Tiburtino, Camylla Martins, Lara Souza, Maria Julia, e Victoria Rodrigues.

  

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