Semana de 30 junho a 06 de julho de 2025
Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]
Na última reunião dos BRICS — bloco que
hoje reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Irã,
Egito, Etiópia, Indonésia e Emirados Árabes — os debates sinalizaram uma
inflexão clara na geopolítica e na economia mundiais. Compondo quase 50% da
população mundial, 40% do PIB global e 25% do comércio internacional, o BRICS
deixou de ser apenas um grupo simbólico de economias emergentes para se tornar
um verdadeiro contrapeso à hegemonia ocidental. Nesse cenário, o presidente
Lula ganhou destaque,
A proposta de uma nova moeda, ainda em fase
embrionária, foi bem recebida por diversos membros do bloco, que veem nela uma
possibilidade concreta de enfrentar o poder desproporcional exercido pelo
sistema financeiro ocidental. A discussão, todavia, não foi bem avaliada por
Donald Trump, presidente norte-americano, que ameaçou, via redes sociais, taxar
em mais 10% “qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas do BRICS”.
Além disso, dias após o encerramento da
cúpula dos BRICS, Donald Trump também usou suas redes sociais para anunciar uma
tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. Seus motivos? A existência
de um "déficit comercial inaceitável" para os EUA nas relações com o
Brasil e de uma “caça às bruxas” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que está
sendo julgado pela justiça brasileira por tentativa de golpe de Estado.
Em primeiro lugar, a afirmação de déficit
estadunidense é factualmente falsa: nos últimos 15 anos, foi o Brasil quem
apresentou déficit comercial com os Estados Unidos, e não o contrário. Ou seja,
a justificativa de Trump é economicamente distorcida, servindo apenas como
pretexto político-eleitoral para alimentar o discurso nacionalista e
protecionista que tanto marcou e continua a marcar sua gestão.
Além disso, o argumento de que o Brasil
estaria promovendo uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro é
mais do que uma declaração infeliz. Trata-se de uma clara tentativa de
ingerência nos assuntos internos do Brasil, ferindo diretamente os princípios
da soberania nacional. Ao atrelar essa narrativa à imposição de tarifas
econômicas, o que se desenha é uma pressão política velada, na qual medidas
comerciais são usadas como instrumento de intimidação para influenciar o curso
de investigações e julgamentos conduzidos pelo Judiciário brasileiro. Em outras
palavras, é uma tentativa explícita de enfraquecer a autonomia das instituições
brasileiras e de condicionar decisões internas à vontade de interesses
estrangeiros, algo inaceitável em qualquer Estado soberano e democrático.
No Brasil, a reação foi imediata: a
população criticou duramente a fala de Trump, e o presidente Lula, sem
titubear, afirmou que o Brasil não aceitará intimidações, que está aberto ao
diálogo, mas que responderá com base no princípio da reciprocidade. Em outras
palavras: se vier taxação, virá resposta proporcional. O Brasil não se
submeterá a chantagens externas, ainda mais vindas de um político que distorce
dados e busca interferir em investigações legítimas de outro país soberano.
O Brasil tem parceiros comerciais tanto no
BRICS quanto fora dele, e não depende exclusivamente dos Estados Unidos para
manter sua balança comercial saudável. Além disso, o país ocupa uma posição
geoeconômica estratégica e rara no cenário global: está entre os dez países
mais populosos, com maior extensão territorial e com as maiores economias do
mundo. Poucos países reúnem simultaneamente essas três características, e isso
não é trivial. É hora de reconhecer que
o mundo já não gira em torno de uma única potência, e que o Brasil tem plenas
condições de exercer um papel protagônico, com autonomia e dignidade.
Em resumo? O Brasil não é o quintal de
ninguém. Não é satélite dos EUA. Não é “país do futuro” – é país do presente. E
se os EUA quiserem impor tarifas e fazer ameaças, que saibam: o Brasil está de
pé, forte, estratégico e pronto para responder à altura.
[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduada em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Brenda Tiburtino, Camylla Martins, Lara Souza, Maria Julia, e Victoria Rodrigues.
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