quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Na crise, todos sofrem


Semana de 30 de julho a 05 de agosto de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




A União Europeia (UE) continua rachando pelas costuras, com os trabalhadores pagando a maior parte da fatura. Nos 17 países da zona do euro, em junho, o desemprego atingiu novo recorde, com 17,8 milhões de desempregados, o que corresponde a 11,2% da população ativa. Os países mais afetados foram Espanha (24,8%),Grécia (22,5%), Portugal (15,4%) e Irlanda (14,8%). A Alemanha, apesar da sua pequena taxa de 5,4%, teve um crescimento do desemprego pelo quarto mês consecutivo. Na França, um em cada quatro jovens de 18 a 25 anos está sem trabalho. Entre os com mais de 55 anos, 45% dos ativos também não encontram emprego. Além da tendência para a redução da renda real das famílias, muitos governos não estão conseguindo conter seus déficits orçamentários, principalmente a Grécia e a Itália.
O ambiente de pessimismo se agravou. O Índice de Confiança Econômica (ESI), divulgado pela Comissão Européia (CE), recuou, de 89,9, para 87,9 pontos, quarta queda mensal consecutiva, ficando abaixo da média de 100 pontos, observada desde 1990. O uso da capacidade instalada nas fábricas caiu, de 79,7% em abril, para 77,8% em julho, muito abaixo da média de 81,4% observada desde 1990.
A situação pressiona as empresas, que deflagraram uma guerra de preços para garantir o escoamento de suas produções. Algumas montadoras chegam a oferecer descontos de até 35%. Apesar disso, as vendas caíram 6,8% no primeiro semestre.
Até os bancos lamentam suas perdas ao verem os seus lucros reduzidos. O BBVA, segundo maior banco da Espanha, teve uma redução de 58% nos seus lucros após absorver as perdas do setor imobiliário. O alemão Deutsche Bank, no segundo trimestre, sofreu uma redução de 48% em relação ao ano anterior. Também em relação ao mesmo período de 2011, o UBS, maior banco suíço, teve uma queda de 58% no lucro líquido. E o HSBC, maior banco da Europa, perdeu 3% de seu lucro, sendo obrigado a fazer provisões de US$ 2 bilhões para indenizar clientes lesados no Reino Unido e de US$ 700 milhões para pagar multas nos EUA.
Os especuladores fogem apavorados dos mercados mais instáveis. Entre janeiro e junho, a saída líquida de capitais da Espanha, por exemplo, atingiu €257 bilhões.
Neste sufoco, todos voltam suas mãos e suas preces para a troikamilagreira: Banco Central Europeu (BCE), Federal Reserve (Fed) e FMI. Por enquanto, nada adiantou, pois o FMI permanece mudo, O Fed apenas manteve os juros e anunciou que poderá tomar medidas extras sem explicar quais, e o presidente do BCE, Mário Draghi, manteve a taxa básica de juros em 0,75% a.a., mas não concretizou as medidas que adotaria para materializar suas promessas de salvar o euro em quaisquer circunstâncias.
O resultado não podia ser outro: as bolsas desabaram por todo o mundo.
Nessa situação adversa, a economia do Brasil enfrenta sérias dificuldades, que podem ser sentidas mesmo com os holofotes voltados para o mensalão, a CPI do Cachoeira, os jogos olímpicos e as eleições.
Comemoramos o melhor julho da história na venda de carros, o que reduziu os estoques das montadoras. Comemoramos também a compra de 20 jatos da Embraer pela Venezuela. Mas, choramos a derrubada dos lucros da Petrobrás no segundo trimestre. Lamentamos também a possibilidade de ter o menor saldo comercial dos últimos 10 anos e a bandalheira nas obras da transposição do rio São Francisco, com a constatação, pelo TCU, de superfaturamento, não cumprimento de prazos, etc. Além disso, o “Programa de Revitalização do Rio São Francisco” não gastou nem 6% do orçamento autorizado, isto é, ficou no papel. Tudo com a conivência do exército, encarregado das obras, do Ministério do Meio Ambiente e das demais autoridades envolvidas. Isto era precisamente o que estava previsto!
Para piorar, estudos feitos na Inglaterra e em outros países estão mostrando que os grandes eventos mundiais como copas e olimpíadas não contribuem para aumentar o turismo, mas para prejudicá-lo reduzindo as receitas.
Era só o que faltava!


[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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