quinta-feira, 6 de julho de 2023

A nova globalização

Semana 26 de junho a 02 de julho de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

            

E como anda a economia mundial?

Não há grandes alterações no quadro geral, mas toda a tendência indica uma evolução no mesmo sentido. Continua a desestruturar-se a globalização, como a conhecemos, diante dos fatores já por nós apontados destacando-se a pandemia e a guerra da Ucrânia. Toda a discussão sobre as novas estratégias onshore, nearshore, offshore, friendshore, indicam as tentativas de rearrumar a casa mundial. Como resultado da guerra destruíram-se os canais de circulação do comércio internacional bem como desagregaram-se as cadeias de valor e os países da OTAN viram a vulnerabilidade de suas estratégias, principalmente em relação ao abastecimento de matérias-primas, componentes e energia. A forma de integração das economias adotada levou a um impasse. Como o capitalismo não pode sobreviver sem a globalização trata-se de encontrar outras formas de fazê-la. As diversas tentativas estão em andamento. Além de internalizar setores de produção (onshore), torna-se necessário trazer para perto (nearshore) outros setores ou pelo menos para os países amigos (friendshore). As opções são poucas e exigem complicados cálculos econômicos e estabelecimento de novas alianças. O problema é que isso envolve muitos países e nesta hora cada um tenta tirar os maiores proveitos, o que esperamos que o nosso país também o faça. Aliás o atual governo vem operando com bastante habilidade, e as viagens realizadas pelo presidente trabalham neste sentido. Não só a brutalidade da guerra exige ações, mas a busca por uma nova posição na integração da economia mundial torna-se muito importante.

Neste sentido merece destaque a perda de influência dos EUA e do dólar e o nascimento de novas forças sediadas nos BRICS, nos países da Ásia, da África, da América do Sul e do mundo árabe. No banco dos BRICS e no Mercosul têm sido feitas importantes tentativas para a criação de moedas de referência para o comércio internacional, que possam servir de alternativa ao dólar.

A guerra tornou-se o maior fator de perturbação da ordem mundial. Continua a exaurir e desequilibrar os orçamentos dos países envolvidos e o descontentamento nas populações já começa a provocar reações, o que vem ocorrendo na França, Inglaterra e Alemanha. A solução para o conflito parece que não poderá ser encontrada fora de negociações para a paz. Dificilmente as populações dos países estarão dispostas a enfrentar uma guerra com a Rússia em defesa da Ucrânia. Já se disse que um país com o maior arsenal nuclear do mundo não perderá jamais uma guerra, o que é verdade. O resultado poderá ser a catástrofe geral, risco que os europeus não estarão dispostos a correr. A Rússia não sairá derrotada, não devolverá a Crimeia nem a faixa ocupada do leste da Ucrânia, onde a maioria da população é russa. Aliás, estas regiões, bem como toda a Criméia, durante muitos anos fizeram parte da própria Rússia.

Neste momento, mesmo os países da OTAN mostram-se preocupados com a possibilidade de desagregação do governo russo e a subida ao poder de alguém mais louco que o Putin, depois da revolta de elementos do batalhão Wagner liderados pelo Prigozhin. Esta revolta revela um outro fenômeno nestas guerras atuais: a terceirização da guerra. Já havíamos visto falar do batalhão Azov que luta a serviço do governo da Ucrânia, e agora temos este outro grupo. Surgem então relatos sobre diversos grupos mercenários que têm sido contratados por diferentes governos, entre os quais os próprios EUA.

Falando da situação interna, além de lamentar a decisão da manutenção da Selic nos 13,75%, poucos foram os acontecimentos econômicos diferentemente dos políticos. No Congresso, os entendimentos e as articulações ferveram diante da aprovação da reforma tributária e do novo arcabouço fiscal que servirá de âncora em substituição ao teto dos gastos. Na próxima semana deveremos ter muitas novidades.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Tomás Cisneiros, Gustavo Figueiredo, Lucas Santos e Valentine de Moura.

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