quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Ponte no papel

Semana de 02 a 08 de novembro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

O projeto desenvolvido pelo PMDB e batizado de “Uma Ponte para o Futuro”, chamado por alguns como “proposta Temer”, marcou o ambiente político da semana. O programa mais ortodoxo dos últimos tempos se apresenta com a cara do partido. Na sua eterna posição de “em cima do muro”, os pemedebistas avistam a necessidade de se afastar da política econômica heterodoxa petista, suposta responsável pela crise em que o país se encontra. O documento que causa inveja até ao próprio PSDB, pela sua maior e mais profunda abordagem ortodoxa, traz em seu corpo pontos como a idade mínima de aposentadoria, privatização e salário-mínimo. Como era de se esperar, o documento recebeu apoio dos economistas mais alinhados à direita.
Enquanto isso, os resultados econômicos mostraram a contínua deterioração da economia brasileira. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,82%, em outubro, segundo o IBGE. É a maior taxa de inflação para outubro desde 2002. No acumulado em 12 meses o indicador já aponta 9,93%, enquanto que o acumulado no ano é de 8,52%. O vilão do mês foram os combustíveis, mais caros 6,09%, o que corresponde a 37% da taxa geral do mês. Outra importante pesquisa divulgada pelo Instituto refere-se à indústria. No mês de setembro, a produção industrial brasileira apresentou recuo de 10,9% em comparação com o mesmo mês do ano passado, sendo o 19º mês consecutivo de queda nesse indicador. O resultado coloca por terra a expectativa aventada pelo governo, no início do ano, de que o segundo semestre seria o início da recuperação. O pior é que a situação se apresenta de forma oposta, indicando que a retração vem ganhando ritmo. Nada que não fosse esperado diante de um ajuste fiscal quando a economia já estava combalida.
O natal da indústria, que ocorre em setembro por conta das encomendas para o fim de ano, já aponta vendas abaixo do previsto. As contratações temporárias praticamente não aconteceram. A venda de papelão ondulado, termômetro para a atividade econômica, apresentou retração de 4,47% no mês, ante igual período do ano passado. As montadoras de veículos continuam batendo recorde negativo mês após mês. O que ainda traz um pequeno alento às indústrias é a depreciação do Real frente ao Dólar, o que incentiva as exportações e diminui as importações, levando a uma redução do saldo negativo da balança comercial.
Diante da irresponsabilidade dos últimos anos, o governo se esforça para saber, pelo menos, qual o valor do déficit desse ano. O Ministério da Fazenda divulgou documento informando que as famosas “pedaladas fiscais” atingem o valor de R$ 57,013 bilhões. Se resolver quitar todo o passivo, há a possibilidade de que o déficit fiscal seja de R$ 119,9 bilhões. Vale salientar que no início do ano a previsão chegou a ser de superávit fiscal de R$ 55,3 bilhões. Erraram por pouco. Já o orçamento de 2016 continua entalado. O ministro Joaquim Levy continua a insistir na criação da CPMF enquanto que o congresso não está muito disposto a ter esse ônus em um ano de eleições municipais. Diante disso, o relator do projeto, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), continua com a ideia de cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família.
As investigações da Polícia Federal continuam atingindo os políticos do alto escalão. O ex-presidente Lula tratou de se defender na TV aberta. Colocou em xeque a credibilidade dos delatores e, apesar de sua boa retórica, não foi muito além de palavras vazias. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também tratou de se defender em TV aberta. Em entrevista, contou uma história que deixaria George Orwell e Franz Kafka impressionados. De um jeito ou de outro, construiu uma tese jurídica que minimizaria os danos que pode sofrer, desde que alguém acredite. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também concedeu diversas entrevistas sobre o lançamento de suas memórias políticas. Obviamente, diante de uma crise econômica e política de grandes proporções, ele tratou de se apresentar como o “Grande Presidente” que fez tudo que é certo e nada de errado.
E no meio de tudo isso se encontra a população brasileira, sem representação e sem perspectiva. Será que uma “Ponte” num papel pode ser a solução para todos os nossos problemas?
Tá difícil de acreditar.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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