terça-feira, 3 de novembro de 2015

Economia brasileira: Dificuldades em dobro

Semana de 26 de outubro a 01 de novembro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Orçamento público descontrolado, orçamento familiar apertado, inflação nas alturas, juros altos, queda das vendas, baixa atividade industrial e dólar em alta são alguns dos fatos que marcam o cenário atual no Brasil. E sem indicação de reversão.
As projeções para a inflação não param de aumentar. O Boletim Focus apurou alta de 9,95% para o IPCA, em 2015, e de 7,3%, em 2016. O “mercado” culpa o Banco Central pela piora das expectativas já que a instituição parece ter deixado de lado o objetivo da “convergência para a meta”. A depreciação cambial, o aumento dos preços administrados e a situação fiscal têm contribuído para a elevação da inflação, segundo alguns economistas. Números divulgados pelo Banco Central mostram que o crédito às pessoas físicas não cresceu em setembro. Com as famílias evitando se endividar, a oferta de empréstimos pelos bancos caiu 0,9% neste mês. Houve queda nos financiamentos de bens duráveis (0,1%) e de veículos (1,1%). No setor produtivo, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) apurou uma melhora no Índice de Confiança da Indústria que subiu de 66 em setembro para 67,5 em outubro, aumento de 2,3%. Mas, ainda não há o que comemorar, pois este número é um dos menores da série histórica.
Enquanto isso, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu no Congresso Nacional as medidas de política econômica tomadas em sua gestão. Segundo ele, a concessão de subsídios foi usada para estimular a economia. E assumiu finalmente, que o governo não esperava o prolongamento da crise mundial. Esperavam sim, o fim da crise mundial, em 2013. Como isto não aconteceu, teve que admitir o erro. Mantega ainda alfinetou seu sucessor: “O ministro Levy achava que, em seis meses, faria o ajuste da política econômica. A gente se equivoca.” De fato, a situação de Levy é difícil. Com a pressão de parte do PT no sentido de reverter a política econômica ou demiti-lo do cargo, as últimas tentativas do ministro de implementar o ajuste vão minguando, com o passar dos dias. A CPMF provavelmente não será recriada e as demais medidas andam a passos lentos no Congresso Nacional. E embora o principal efeito das primeiras medidas de arrocho tenha sido a intensificação da recessão, Levy, da Fazenda e Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, eximem-se da culpa, afirmando que a queda do crescimento nada tem a ver com o ajuste.
Com ou sem ajuste, espera-se crescimento pífio também em 2016. E, infelizmente, o alento não poderá vir do exterior. A economia americana continua a apresentar dados que dão como incerta a recuperação. Com exceção das empresas do setor de tecnologia, a indústria americana definha. O crescimento esperado de 3% para os próximos trimestres fracassou quando muitas indústrias registraram desaceleração na produção, nas vendas e nas contratações. Empresas como a Caterpillar, 3M, Monsanto, Biogen, United Tecnologies, vêm apresentando queda dos lucros, o que reforça a recessão industrial. O PIB anualizado do terceiro trimestre foi de 1,5%, segundo o Departamento de Comércio norte-americano. O resultado de 3,9% no segundo trimestre trazia boas perspectivas que se frustraram com o novo número.
A desaceleração dos países emergentes e a fraca recuperação da economia europeia também não darão o reforço necessário para que os Estados Unidos cresçam com vigor, o que é mau para a economia interna.
As dificuldades econômicas brasileiras continuam aliadas às dificuldades políticas. A presidente Dilma enfrenta o resultado de mais uma pesquisa de popularidade divulgada pelo instituo MDA. Embora sua aprovação tenha crescido de 7,7% para 8,8%, entre julho e outubro, a sondagem indicou que o ex-presidente Lula perderia as eleições, tanto nas intenções de voto espontâneas, quanto nas estimuladas. Dilma então tem que enfrentar a arrogância do ex-presidente, que ao ver ameaçada sua chance de retornar à presidência, insiste em lhe tomar satisfação, por serem “vítimas”, ele e sua família de investigações que, segundo o próprio, tem como único objetivo atacar o seu legado.
Pode?

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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