Semana de 15 a 21 de agosto de 2016
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Caro leitor, 100 dias até 20 de agosto se passaram desde a posse do presidente interino Michel Temer. O estelionato eleitoral iniciado pela presidente afastada, Dilma Rousseff, concretiza-se a passos largos pelo novo governo. Há pouco mais de 100 dias, o plano prometido na eleição foi jogado no lixo por aqueles que indiretamente o criaram. A coalizão formada põe em prática o plano de governo daqueles que não foram escolhidos pelo voto.
Traições e estelionatos à parte, o homem que se apresentou como “Salvador da pátria” tratou rapidamente de comemorar seus 100 dias de governo, enaltecendo o reerguimento da economia do Brasil.
As publicações comemorativas do seu partido não economizaram em modéstia. “100 dias de governo Temer: reerguendo a economia do Brasil. Produção crescendo... PIB aumentando... Exportações em alta... Inflação em queda...”.
Se acreditássemos em frases de efeito, creríamos que o homem é um fenômeno! Mas como cientistas que somos, temos a obrigação de apresentar os fatos.
Fato no 1: Produção crescendo... No período compreendido entre maio e agosto, o correspondente aos 100 dias do governo interino, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), órgão oficial de estatística, divulgou os seguintes números para a produção industrial: perante abril, a atividade industrial ficou estável em maio (caindo em oito dos 14 locais pesquisados) e em junho cresceu 1,1% (crescendo em nove dos 14 locais pesquisados). Segundo o IBGE, a atividade industrial acumula queda de 9,1% no primeiro semestre, sendo a maior desde outubro de 2009. Os números de julho e agosto ainda não saíram, mas a CNI (Confederação Nacional da Indústria) já apurou, em julho, a sua Sondagem Industrial, feita com 2.532 empresas. Neste mês o índice de evolução da produção industrial fechou em 46,6 pontos e permaneceu estável em relação a junho, mas como permanece abaixo dos 50 pontos, o dado mostra que a produção continua a cair entre junho e julho. Confirmando esse resultado, o relatório Focus do Banco Central aponta para uma queda da produção industrial de 5,95%, em 2016.
Fato no 2: PIB aumentando... O PIB do primeiro trimestre de 2016 caiu 0,3%, segundo o IBGE, e deve continuar sua trajetória de queda no segundo trimestre. De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, que foi criado para tentar antecipar o resultado oficial, o PIB apresentará queda de 0,53%, no segundo trimestre deste ano, comparado ao primeiro trimestre. Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Carlos Hamilton, a economia em 2016 recuará 3%, o que representa uma melhora da projeção anterior de 3,1%. Só em 2017 é que o PIB aumentaria em 1,6%, mas lembre, caro leitor, que esta retomada já era prevista pela gestão anterior.
Fato no 3: Exportações em alta... Em maio, as exportações brasileiras somaram US$ 17,571 bilhões, valor 14,31% menor se comparado a abril; em junho, o total foi de US$ 16,739, com uma queda de 4,73% e em julho, US$ 16,331, queda de 2,44%. Segundo o próprio Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o superávit da balança comercial está ligado não ao aumento das exportações, mas sim à queda das importações. Até o dia 14 agosto de 2016, as exportações somaram US$ 114,52 bilhões (o que representa uma queda de 4,7% sobre o mesmo período do ano passado) e as importações somaram US$ 83,97 bilhões (queda de 26,4%, quando comparado com igual período de 2015).
Fato no 4: Inflação em queda... A trajetória mensal da inflação não é de queda. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em maio, subiu 0,78%, em junho, cresceu 0,35% e em julho, o IPCA subiu 0,52%. O indicador fechará o ano, segundo o Boletim Focus do Banco Central, com uma alta 7,31%.
Diante dos fatos, esfacelam-se os tão alardeados resultados dos 100 dias de governo interino Temer, que se esforça em vender ilusões.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br