terça-feira, 9 de agosto de 2016

Crise econômica mundial: não há saída à vista

Semana de 01 a 07 de agosto de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. Enquanto o país vive a euforia de sediar as Olimpíadas, reina o marasmo político e econômico. O processo de impeachment caminha no Congresso Nacional e já é dado como certo o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff. O presidente interino não tem coragem de implantar as reformas mais indigestas e fica à espera do fim do período eleitoral e da sua posse definitiva à frente da presidência.
Segundo a Pesquisa Industrial Mensal Produção Física do IBGE, no segundo trimestre a produção industrial cresceu 1,2%. É a primeira alta desde o primeiro trimestre de 2014. De acordo com o IBGE o câmbio favoreceu o resultado e na avaliação geral pesa a opinião de que a retomada será modesta e dúvidas sobre sua “consistência”. Em contrapartida, as más notícias da conjuntura econômica não cessam. Impossível falar em recuperação industrial quando o consumo de energia está em queda. Em junho, segundo a Empresa de Pesquisa Energética, o setor industrial, consumiu 13.652 GWH. Isto representa uma queda de 3,3% frente a igual período do ano passado. O setor comercial, por sua vez, registrou queda de 2,9%. E, segundo a Confederação Nacional do Comércio, de janeiro de 2015 até junho de 2016, o varejo brasileiro fechou 166,9 mil lojas. Embora perceba “melhora das expectativas”, o órgão prevê queda de 10,6% nas vendas do varejo ampliado neste ano.
No setor têxtil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, a produção caiu 9,2%, a receita nominal encolheu 7,3% e as exportações caíram 9,1%. Enquanto a ociosidade do setor têxtil gira em torno de 22%, o mesmo indicador para o setor automobilístico ultrapassou os 50%. E a situação interna irá piorar, pois segundo um estudo da consultoria Deloitte, realizado em abril, junto a 130 empresas de diversos setores, 38% das companhias preveem reduzir o número de empregados até o fim do ano, quando apenas 8% pretendem aumentar.
Imerso em seus próprios problemas, o Brasil não percebe como o mundo luta para recuperar-se da armadilha das baixas taxas de crescimento. O crescimento da zona do euro continua a decepcionar. O índice dos gerentes de compras (PMI) da indústria na zona do euro caiu de 52,8 pontos, em junho, para 52 pontos, em julho, de acordo com a consultoria Markit. Desempenhos frustrantes foram registrados na Alemanha, na França, Itália e Espanha. Já o Banco da Inglaterra, na esteira do Brexit, lançou um pacote que reduziu a taxa de juros de 0,5% para 0,25% e aumentou em 60 bilhões de libras o programa de compra de títulos soberanos.
Nos EUA, o índice de atividade industrial do Instituto para Gestão da Oferta caiu de 53,2 em junho para 52,6 em julho. A expansão por lá é considerada moderada e está um pouco acima das mínimas registradas no período pós-crise financeira global. No primeiro semestre, a economia cresceu apenas 1% segundo o Departamento de Comércio. As maiores companhias americanas registraram, no segundo trimestre do ano, a quarta queda seguida nos lucros.
Na China, o PMI do setor industrial caiu a 49,9 pontos, em julho, após o registro de 50 pontos, em junho. No Japão, o índice ficou em 49,3 pontos, indicando contração. Tentando desempacar a economia, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, aprovou um pacote de estímulo governamental de 28 trilhões de ienes (US$ 274,4 bilhões). O dinheiro irá para projetos de infraestrutura e para a construção de instalações de processamento de alimentos visando ampliar as exportações de produtos agrícolas. O governo ainda dará 15 mil ienes (cerca de US$ 147) aos 22 milhões de pessoas de baixa renda, aumentará o número de beneficiados do sistema público de previdência e também de bolsas de estudos. No segundo trimestre estima-se queda de 0,1% da atividade econômica.
As recentes experiências têm mostrado que o arsenal contra a crise está se esgotando. Jogar dinheiro de helicóptero está definitivamente tornando-se uma opção cada vez mais apontada como alternativa para salvar o mundo da crise econômica.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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