Semana de 19 a 25 de setembro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Como já vínhamos anunciando a guerra de classes está declarada. Já mostramos, em análises anteriores, que o governo Temer conseguiu unificar os apoios de todas as entidades patronais da indústria, agricultura, bancos, serviços, etc. Conseguiu também unificar as suas bandeiras e reivindicações.
O diagnóstico da situação foi feito e encerrado: a crise foi provocada pelos governos petistas. Mude-se o governo Dilma, restaure-se a confiança e tudo estará resolvido: o desenvolvimento sustentável começará. E o governo anuncia suas propostas de reformas seguindo o catecismo dos empresários.
Parece que os trabalhadores não estão caindo na conversa. A união da “burguesia” provocou a união do “proletariado”. Com o título de “Trabalhadores Unidos em Defesa dos Direitos Sociais e Trabalhistas” todas as centrais nacionais do país lançaram um manifesto conjunto convocando para a luta. Pela primeira vez li a conclamação assinada pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores), CSP – Conlutas (Central Sindical e Popular) e Intersindical.
Eu mesmo me surpreendi. Não sabia que existiam tantas. Isto representa todas as tendências existentes no movimento sindical dos trabalhadores e é um verdadeiro grito de guerra. Denunciam a reforma da previdência e da legislação trabalhista, a PEC dos gastos, as altas taxas de juros e as tentativas de “jogar a conta de crise econômica nas costas da classe trabalhadora e dos mais pobres”. Em preparação para “ações mais contundentes” conclamam para a realização de “greves, paralisações, atos, passeatas e manifestações por todo o País.”
Parece que o tempo vai esquentar.
Como reagirá o governo Temer e os democráticos grupos políticos que o apoiam: PMDB, PSDB e CENTRÃO?
Em vésperas de eleições todos estão ocupados em seus currais e a nota das centrais sindicais não despertou muita atenção. Além disso, as manchetes foram ocupadas pelas duas últimas operações da Lava-Jato convenientemente deflagradas para influir nos resultados eleitorais de tal forma que o ministro da Justiça, exultante, não se conteve nas suas declarações, deixando perceber que tudo estava combinado. Lamentavelmente, com estas duas últimas operações, a Lava-Jato está comprometendo sua imparcialidade. Boa razão tem o colunista do Valor Econômico, Cesar Felício, quando propôs que o nome da operação “arquivo X”, que resultou na prisão do Guido Mantega, solto 6 horas depois, deveria ser “Tiro no pé”, pois foi a detenção de “alguém que não iria fugir, não iria coagir testemunhas, não representava risco à ordem pública e nem destruiria documentos, na situação em que se encontrava”.
Considerando que os movimentos populares e camponeses já desenterraram seus machados de guerra, a única esperança do governo Temer, para recuperar a sua popularidade, será uma rápida retomada do crescimento econômico, o que não nos parece muito provável.
Com efeito, a situação internacional continua a arrastar-se. O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, adiou a elevação dos juros por não confiar na recuperação da economia americana. A cúpula do G-20 encerrou-se com pessimismo e frustração com a demora na recuperação mundial. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) apelou para a luta contra “a armadilha do baixo crescimento”. A Agência das Nações Unidas para a Cooperação e o Desenvolvimento (Unctad) considera que a perda de dinamismo dos países desenvolvidos está afetando as nações em desenvolvimento e que o Brasil é um exemplo de desindustrialização.
Internamente, apesar da preocupação do governo em tentar criar a impressão que a recuperação começou, a realidade tem sido cruel. Os dados não confirmam tal situação. Os mais otimistas afirmam apenas que a queda reduziu seu ritmo. Nada mais.
Difícil, a situação do governo Temer!
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).