quarta-feira, 14 de setembro de 2016

BCE – Afrouxamento fiscal e monetário contra a crise

Semana de 05 a 11 de setembro de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
A semana foi perturbada por acontecimentos políticos e esportivos. A paraolimpíada ocupou todos os noticiários e canais de televisão. Todos se preocupam a contar medalhas, principalmente as de ouro. O resto do tempo foi destinado aos acontecimentos políticos, novas operações da Polícia Federal e o julgamento do Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados. Finalmente o país pode respirar com a exclusão de um gênio do mal por alguns anos. Especula-se agora se ele fará ou não uma delação premiada o que faz tremer algumas dezenas de políticos inclusive o próprio presidente Temer. O resultado da votação 450x10 foi inesperado. Atribui-se ao “efeito manada” a debandada da “tropa de choque” do Cunha. Diante do naufrágio, as ratazanas abandonaram o navio. É aguardado agora o reagrupamento das forças políticas, a desagregação do “Centrão” e o aumento das contradições PSDB x PMDB diante das reformas que serão propostas.
 Enquanto isso, a situação econômica se deteriora. O governo esforça-se em provar que o pior já passou usando os chamados indicadores antecedentes com destaque para os subjetivos, ou seja, os que medem a confiança dos empresários e consumidores e que apresentam ligeira melhora. Os dados objetivos apontam no máximo para uma desaceleração da queda. Na indústria há frágeis sinais de melhora, mas os setores ligados ao mercado interno mantêm resultados negativos. O indicador Serasa Experian de Atividade do Comercio retraiu 1,2%, em julho sobre junho. O mercado de trabalho continua piorando, as taxas de juros em elevação e o crédito em queda. O número de pedidos de recuperação judicial bateu recorde em agosto com um crescimento acumulado no ano de 61,2%. Foram 1.235 empresas o maior número desde 2006, no mesmo período de tempo.  Temos de acrescentar ainda uma acentuada redução no volume de negócios no setor de serviços, também em agosto.
Com este quadro é difícil falar-se em recuperação.
No plano internacional o acontecimento mais importante foi a reunião do Banco Central Europeu (BCE) na quinta feira (8/9). A preocupação foi a desaceleração observada em agosto, em relação a julho, nas cinco maiores economias da região. Os 25 membros do conselho do BCE reconheceram a contribuição positiva das medidas adotadas em março: redução da taxa de referência de 0,05% para zero, da taxa de empréstimo de 0,3% para 0,25% e da de depósitos de -0,3% para -0,4%, bem como do aumento do limite de aquisição de ativos de 60 bilhões para €80 bilhões por mês, incluindo compra de bônus corporativos. Apesar disso observou-se a desaceleração o que levou o presidente desta instituição, Mario Draghi, a apelar para reformas, uma maior ajuda da política fiscal e aumento dos gastos com infraestrutura e educação.
Enquanto a União Europeia (UE), o FMI e o Banco mundial (BM) recomendam política de relaxamento monetário e fiscal para tentar reverter a crise, o governo Temer, na contramão, inspirado e comandado pela “equipe dos sonhos”, sob a batuta do ministro Meirelles, propõe e pretende adotar a política econômica oposta: o arrocho monetário das taxas de juros mais elevadas do mundo e uma rígida austeridade fiscal com as medidas que vêm por aí. Prepara-se a chamada PEC com o teto dos gastos, a contenção das despesas, a reforma da previdência, a reforma da legislação trabalhista, a contenção dos salários, etc.
Esta aparente loucura, no entanto, tem por trás uma ideologia econômica importada dos EUA e que foi abandonada atualmente por ser inútil. A “equipe dos sonhos” acredita que o problema é o equilíbrio fiscal. Uma vez equilibradas as contas públicas, instalado um governo que restaura a credibilidade e a confiança, os juros cairão, os empresários começarão a investir e os consumidores a consumir. É um milagre que dará início ao desenvolvimento sustentado com distribuição de riqueza. Só não conseguem dizer quem criou esta regra e onde, ou em que época, tal fenômeno ocorreu. A realidade nos demonstra precisamente o contrário. Este é o caminho do caos e do aprofundamento da crise.
As manifestações de protesto que atualmente se espalham pelo país certamente aumentarão.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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