Semana de 27 de julho a 02 de agosto de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Caros leitores, em meio àquela que deve ser a pior
crise econômica e social dos últimos 100 anos, foram lançados os relatórios da
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e da organização
Oxfam sobre as desigualdades agravadas pela pandemia de Covid-19 na América
Latina e no Caribe.
Nos dados apresentados pela Oxfam, estima-se que 40
milhões de pessoas devem perder o emprego durante a pandemia e um total de 52
milhões devem cair para a linha da pobreza. O relatório também afirma que o PIB
dos países das regiões deve ser 9,4% menor em 2020 do que foi em 2019. Pelos
dados da Cepal, as estimativas são de que a pobreza atinja 37,3% da população
da região ao fim de 2020, um total de 231 milhões de pessoas. Dessas, 96
milhões terão dificuldades de obter o mínimo de alimentação diária necessária
para sobreviver, pois ficarão abaixo da linha da pobreza.
O país mais atingido, até agora, foi o México. Lá,
registrou-se queda de 17,3% no PIB do 2º trimestre, em relação ao 1º trimestre
de 2020. Para termos uma ideia do tamanho das perdas, comparemos com os números
de alguns países “ricos” no mesmo período: EUA, -9,5%; Alemanha, -10,1%;
Bélgica, -12,2%; Itália, -12,4%; França, -13,8%; e Portugal, -14,1%. A situação
mexicana só não foi pior do que a da Espanha, que teve queda de 18,5%. No
Brasil ainda não temos o dado oficial, mas a estimativa é de que tenhamos uma
queda em torno de 11% no PIB trimestral, segundo a FGV.
Ainda na comparação dos dados internacionais, o
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial divulgou uma pesquisa
que analisou a produção em 43 países. Comparando a atividade industrial entre
janeiro e maio de 2020 com o mesmo período de 2019, alguns dados chamam a
atenção. Primeiro, que seis países apresentaram crescimento na produção
industrial (Noruega, Malta, Montenegro, Irlanda, Bélgica e Coreia do Sul).
Argumenta-se que o saldo positivo deveu-se ao grau de especialização da
indústria desses países. O Brasil ficou em 30º lugar, com queda de 10,7% na
produção industrial. Países como China (-1,3%), Rússia (-2,7%), Turquia (-7,7%),
EUA (-8%), Reino Unido (-11,1%), Alemanha (-14,7%) e África do Sul (-15%)
também estiveram no estudo. A expectativa é de que o Brasil caia ainda mais no
ranque pela melhora da situação em países europeus (incluindo Portugal,
Espanha, Itália e França), dado que eles têm combatido de forma mais efetiva a
pandemia do que nós.
Diante desses dados, pensamos: a situação para
todos, ricos e pobres, deve estar péssima durante essa pandemia, não é? Ledo
engano... Retornando aos relatórios da Cepal e da Oxfam, vejamos o que dizem
sobre à vulnerabilidade e à desigualdade na região.
A Cepal argumenta que se encontram em situação de
vulnerabilidade ainda maior: “idosos (85 milhões), trabalhadores informais (54%
do emprego regional), mulheres (a maioria em atividades informais, com aumento
do trabalho não remunerado e maior exposição à violência doméstica), povos
indígenas (60 milhões de pessoas e com comunidades que podem desaparecer),
pessoas afrodescendentes (130 milhões de pessoas em 2015), pessoas com deficiência
(70 milhões de pessoas) e migrantes” (fonte: aqui).
Por sua vez, a Oxfam analisou o que já ocorreu com a
concentração de renda nos países da região desde março, quando a pandemia
chegou de vez por aqui. Os dados ficaram famosos pela resposta do metroviário
Altino Prazeres ao âncora do “Bom dia SP”, Rodrigo Bacardi, quando questionado
sobre a greve dos trabalhadores do metrô durante a pandemia. As 72 pessoas mais
ricas da região da AL e Caribe aumentaram sua fortuna em mais de
48.000.000.000,00 de dólares desde março de 2020. Só no Brasil, o patrimônio de
apenas 42 pessoas aumentou em US$ 34.000.000.000 (multiplicando esse valor pela
taxa de câmbio, temos algo em torno de R$ 170 bilhões).
No começo da pandemia alguns diziam que estávamos todos no mesmo barco. Agora, confirma-se o que os mais sensatos disseram: estamos na mesma tempestade, não no mesmo barco. Por essência, quando dá, o capitalismo não dá barcos iguais a todos...
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Edson da Paz, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma,
Monik H. Pinto e Guilherme de Paula.
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