Semana de 15 a 21 de fevereiro de 2016
Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]
Na mesma semana, uma vitória e uma derrota do governo. A presidente Dilma Rousseff suspirou aliviada com a vitória de Leonardo Picciani (PMDB-RJ) para a liderança do PMDB na Câmara. A derrota de Hugo Mota (PMDB-PB) e de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Casa, tem um desdobramento direto no trâmite do processo de impeachment contra a chefe do Executivo. Com a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no final do ano passado, de reiniciar o processo de afastamento da presidente e uma nova escolha da Comissão Mista, os selecionados pelos peemedebistas devem estar em sintonia com o Planalto.
A comemoração não durou muito. Enquanto o governo ainda celebrava, a Standard and Poor´s tirou mais uma vez o grau de investimento do país. Para o Brasil, a importância da decisão, por mais que a credibilidade das agências de risco tenha sido colocada em xeque, após a crise financeira de 2008, reflete-se na entrada de dólares no país. Com o rebaixamento da nota de “BB+” para “BB” é esperada uma redução na entrada de “investimentos” em dólares (nesse caso, trata-se, principalmente, de dinheiro colocado na Bolsa brasileira), podendo pressionar, em última instância, a inflação ainda mais para cima. Diante disso, o governo antecipou o anúncio de mais um corte de gastos para o cumprimento da meta de superávit primário deste ano. A ideia de “acalmar” os “investidores” e provar que nosso país é um bom pagador não deu muito certo. Especialistas acreditam que o déficit esse ano ficará em torno de 1% do PIB, bem longe da previsão, feita pelo Planalto no final do ano passado, de superávit de 0,5%.
No que concerne à Taxa Selic, essa semana foi o momento do Banco Central “reforçar o canal de comunicação”. Mais claramente, isso significa reunir os principais bancos e fundos de investimentos e explicar que a taxa de juros básica da economia brasileira ficará estável em 14,25% por algum tempo. Tanto o presidente do BC, Alexandre Tombini, como o diretor de política monetária do BC, Aldo Mendes, se reuniram com “agentes do mercado” para consolidar a expectativa de estabilidade da Selic. Essas reuniões ocorreram num momento em que o mercado já cogitava a redução de juros pelo BC. Agora estão todos avisados e conscientes das próximas ações do BC, a comunicação foi reforçada.
Nos EUA, a ata do Fed (banco central americano) deixou em aberto a possibilidade de elevação da taxa básica de juros por lá. A expectativa de um crescimento menor do que o esperado e uma inflação mais baixa, além do cenário mundial desfavorável, basicamente a China, faz com que seja mais concreta a possibilidade de não haver aumento nos juros este ano. Já a China encontra-se no cenário clássico de crise cíclica de superprodução. O excesso de produção, tanto agrícola como industrial, já é cada vez mais perceptível. Enquanto o plano de curto prazo do governo chinês é estimular a economia através de aumento de crédito e gastos em projetos de infraestrutura, no longo prazo a ideia é promover a mudança de 100 milhões de pessoas da área rural para cidades. O objetivo dessa medida é de aumentar a classe média e com isso o consumo no país, no entanto, resta saber como irão criar empregos para toda essa massa de novos moradores da área urbana.
Por aqui, vale destacar o novo plano econômico paralelo do Partido dos Trabalhadores. Enquanto a presidente se empenha em realizar o ajuste fiscal, seu partido começa a esboçar a criação do Plano Nacional de Emergência. Nesse plano, a reforma da previdência e desindexação do salário mínimo não são consideradas. Era comum ouvir-se falar da falta de coesão da base aliada nas votações, mas a falta de coesão do partido da própria presidente está tomando contornos impressionantes. Ao mesmo tempo, Dilma Rousseff, a despeito da negativa de seu próprio partido, coloca a reforma da previdência como um de seus principais pontos de ação. O PSDB indica que votaria a favor desde que haja aprovação pelo próprio PT. Não pretende assumir o desgaste.
Por fim, o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) colocou as barbas de molho e preferiu sustentar-se na sua posição atual. Na iminência de uma possível cassação da chapa pelo TSE, situação em que sairiam tanto a presidente como o vice, a questão de ordem é se defender e não tombar.
[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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