quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Recuperação rastejante



Semana de 15 a 24 de julho de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]



As tendências apontadas na nossa Análise da semana passada continuam a evoluir: na economia mundial, para melhor, e na economia nacional, para pior.
Os sinais de recuperação na União Europeia (UE), embora ainda débeis, continuam a se intensificar. No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) da zona expandiu-se 0,3%, em relação ao primeiro e, em julho, espera-se a continuação da expansão. Há informações de que a indústria voltou a crescer na Alemanha, Itália, França e Espanha. Também no segundo trimestre, o PIB cresceu 0,7% na Alemanha, e 0,5% na França. Em Portugal, o crescimento foi de 1,1%, primeiro crescimento desde 2010. Aumenta, no entanto, o temor de que este crescimento se dê sem a redução das taxas de desemprego.
A economia dos EUA também continua a apresentar melhoras, embora em níveis “modestos”. Crescem os receios de que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, inicie a redução dos seus estímulos econômicos e aborte o processo de recuperação ainda insipiente.
Já a situação do Japão não é tão animadora. O crescimento anualizado do PIB, que era estimado em 3,6%, foi de 2,6%, no segundo trimestre. Pelo sexto trimestre consecutivo as empresas continuam a cortar os investimentos.
Entre os emergentes, a Índia encontra-se em dificuldades com a desvalorização da sua moeda (rúpia) frente ao dólar, a saída de dólares do país e o aumento do déficit fiscal para 4,8% do PIB.
A situação no Brasil não é das melhores. As ameaças do Fed têm feito o dólar disparar ultrapassando a barreira de R$2,40, apesar da intervenção do Banco Central (BC), com leilões da moeda americana, para conter a “flutuação suja”. Além disso, a inflação teima em crescer apesar das declarações da “Presidenta” de que mantém o controle da situação. O resultado é que o BC, na próxima reunião, já esgrime a espada dos 0,5% de aumento da Selic, permanecendo na sua política suicida de matar o doente para acabar com a enfermidade, mantendo-se fiel no receituário da ideologia econômica dominante (um viva para os bancos e as instituições financeiras).
Os empresários, cabisbaixos, consideram que a produção estabilizou-se em julho e que seguirá uma trajetória lenta de recuperação, apesar das quedas dos índices de confianças deles próprios e dos consumidores, em julho. No entanto, os primeiros dados sobre o terceiro trimestre apontam para uma desaceleração. A produção de veículos, entre junho e julho, caiu 6,8%; o fluxo de veículos pesados nas estradas recuou 0,5% e a expedição de papelão ondulado cresceu apenas 0,8%, não recuperando a queda de 1,8% sobre junho.
O Boletim Focus do BC, que sonda a opinião de cem instituições financeiras e consultores, mostra que também as projeções para 2014 estão se deteriorando. As estimativas para o PIB deste ano caíram de 3,5% para 2,5%, com novas previsões de quedas. Há quem reduza este número para 1%. Em relação a 2013, as estimativas já caíram para 1,7%. Fundamentando este “pessimismo”, a indústria paulista informou pretender fechar 5,5 mil vagas, em junho e julho, reduzindo 0,36% seus postos de trabalho e é estimada a eliminação de mais 38 mil postos de trabalho até o fim do ano. Neste ambiente, a notícia do enterro do grupo EBX do empresário Eike Batista contribuiu para consolidar o pessimismo. Parece que o grupo chega ao fim. Tomando como referência as cotações máximas atingidas pelas ações das empresas do grupo, a queda geral foi de 90% do valor. Para dar exemplos: as ações da OGX (petróleo) caíram de R$23,27 para R$0,39; as da OSX (indústria naval) caíram de R$29,48 para R$1,03 e as da MMX (mineradora), de R$20,76, para R$1,1.
Se para os empresários a situação não é confortável, para os trabalhadores é ainda pior. O Ministério Público do Trabalho está processando a Samsung de Manaus pedindo uma indenização de R$250 milhões, acusando a empresa de violação da lei, pois, os trabalhadores, além de trabalharem em pé, têm uma jornada de 10 horas com direito a dois intervalos de 10 minutos e executando 80 a 90 movimentos repetitivos por minuto, em condições piores do que na China.
            Êta capitalismo bão!


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Comentando a Economia



Roberta Pereira de Lima[1]

Alexandre Tombini Diz Que o Mercado Deve Ser Otimista[2]


O presidente do Banco Central do Brasil mencionou que o mercado está mais pessimista do que o próprio Tombini julga necessário. Ainda mais agora, que a economia internacional está com sinais de melhoras. Bem, é compreensível que ele queira tranquilizar a todos sobre os fatos econômicos, principalmente quando o país finalmente parece “conter” o terror da inflação, que ficou abaixo do teto da meta de 6,5% no ultimo resultado do IPCA. No entanto, parece que o presidente do BC esqueceu que economista não engana capitalista. Mesmo com a possível, e ainda duvidosa, “melhora” da economia internacional e o compromisso da presidenta em manter o controle da inflação, os empresários observam uma série de elementos antes de realizar os investimentos. Se levarmos em consideração outros fatores, como a sobrevalorização do dólar, por exemplo, que causam impacto nas importações e exportações, as incertezas só se elevam. Nesse cenário, não há, portanto, garantias de novos investimentos, muito menos de otimismo.



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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Acaba o prestígio dos emergentes



Semana de 29 de julho a 04 de agosto de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Não dá mais para negar. Os países emergentes, este ano, deixarão de ser “a menina dos olhos” do mundo. Se havia esperanças de que eles iriam salvar o planeta da crise, estas, definitivamente acabaram de morrer. As projeções de crescimento para a economia mundial estão caindo vertiginosamente. Com um título bem sugestivo, o documento “Dores do crescimento” do FMI, registrou a revisão para baixo, em sua maioria, das estimativas de crescimento dos países. O crescimento mundial também foi revisado de 3,3% para 3,1% e o dos emergentes caiu de 5,3% para 5%.
            Segundo o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, se o resultado for 2% menor do que o projetado pela instituição, isto geraria, por exemplo, uma queda da economia americana em 0,5%.
            A previsão do FMI para os Estados Unidos foi rebaixada de 1,9% para 1,7% e nem mesmo algumas boas notícias vindas de lá animaram o cenário econômico. Os americanos esperam, no segundo trimestre, crescer a uma taxa anualizada de 1,7% do PIB. Mas a revisão da série histórica tem fechado os números em valores bem abaixo daqueles esperados. O que pode contribuir para a queda dessa taxa é o mau desempenho da economia, entre abril e junho, que ficou abaixo da média trimestral de 2,2%. Embora a geração de empregos tenha atingido 200 mil, em julho, e os preços dos imóveis tenham subido, ainda não há sinais sólidos da retomada econômica americana, daí a cautela do Federal Reserv (Fed), Banco Central dos EUA, em reduzir os estímulos monetários.
            Na Europa, como era de se esperar, as previsões são piores. O FMI rebaixou a previsão de encolhimento do PIB da União Europeia, que era de -0,4% e passou para -0,6%.
            Caberia então, aos emergentes, a salvação da economia mundial. Mas, os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estão com o crescimento comprometido em 2013. A revisão para baixo feita pelo FMI, foi de 3,4% para 2,5% para a Rússia, de 5,8% para 5,6% para a Índia, de 8,1% para 7,8% para a China e de 3% para 2,5% para o Brasil.
            Aqui, no Brasil, alguns órgãos já haviam revisto suas previsões. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já havia reduzido a estimativa para 2%. No fim de junho, o Banco Central cortou sua previsão de 3,1% para 2,7% e a projeção atual do mercado, segundo o Boletim Focus, já caiu para 2,24%.
            Na tentativa de salvar o crescimento econômico e, por consequência, garantir a reeleição de Dilma, o governo, e principalmente os petistas, responsabilizam o “exagerado pessimismo” que foi instaurado pelos problemas econômicos.
            Para “driblar” este “pessimismo”, o governo, acompanhado por alguns economistas a seu soldo, procura enaltecer alguns números recém-divulgados. A produção industrial, por exemplo, que havia apresentado queda de 2%, entre abril e maio, voltou a crescer em junho. Se comparado a maio, o aumento foi de 1,9%. O segundo trimestre do ano fechará provavelmente com um crescimento de 1,7%, resultado melhor que o do primeiro trimestre de 0,6%. O setor de bens de capital cresceu 6,3% no mês, comparado a maio, e acumula alta de 13,8% no semestre. Este é o número mais favorável.
            Mas o que dizer desta estatística isolada? Embora os números reacendam a discussão de que a “retomada gradual” da nossa economia é visível, não se pode afirmar que estamos na fase de reanimação. O bom desempenho do setor de bens de capital, que deveria, em tese, garantir a retomada dos investimentos industriais, esconde em suas estatísticas dois subsetores que acabam por inflar os dados: o de caminhões e máquinas agrícolas. Devido à boa safra agrícola, principalmente, esses dois subsetores contribuíram para a alta dos bens de capital, mas em nada estão contribuindo para o aumento da capacidade produtiva industrial.
            Será então que o Brasil está recuperando o vigor econômico? Segundo o ministro da Fazendo, Guido Mantega, sim. Ao comentar as estatísticas, declarou que a produção industrial vai “muito bem, obrigado”. Ainda, segundo ele, se em seis meses de observação, quatro apresentam crescimento e dois têm resultado negativo, prevalece o crescimento. É uma forma bem particular de ver os números.
            Será este sobe e desce da atividade econômica, o tal crescimento sustentado?


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O assunto agora é a China



Semana de 22 a 28 de julho de 2013


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Esta semana que passou foi marcada pela visita do Papa Francisco ao Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude, fato que dominou todo o noticiário dos principais jornais do país. Teólogos, padres e ex-padres já veem o novo líder da igreja católica como sinal da mudança. O professor Leonardo Boff, que já foi da Ordem Franciscana, afirmou que “Francisco mudará muita coisa. Ele não está reformando somente a Cúria, está reformando o papado”. Já para o padre José Oscar Beozzo, “O papa tem dito que a igreja tem que sair da sacristia e ir para a periferia, para onde o povo está precisando. Não quer uma igreja burguesa, acomodada”. Mas, por mais que o sumo pontífice tenha abordado temas muito relevantes, nesta coluna somos obrigados a voltar para a economia e dedicaremos nossa atenção ao estouro da economia da China, país que já se auto denominou de socialista. Como esta afirmação pode parecer exagero, vamos aos fatos.
            Em toda a história da humanidade o homem precisou produzir e, consequentemente, distribuir boa parte dos elementos que servem a sua sobrevivência. Para isto, foi necessário criar e manusear os instrumentos e meios que são usados durante o processo produtivo (máquinas, equipamentos, matérias-primas, etc.). Ou seja, os meios de produção que servem para a criação de outros meios de produção e, principalmente, dos meios de consumo (alimento, vestuário, etc.).
            Pois bem, estamos vendo há décadas a República Popular da China transformar-se rapidamente numa economia capitalista. O principal agente que trouxe esta mudança foi o partido “comunista” chinês. Não se sabe ao certo o porquê, mas o Estado chinês mais parece com os antigos estados despóticos orientais característicos do modo de produção asiático. O processo de realização dos investimentos no país, em muito se assemelha à organização das grandes obras dos sistemas de irrigação, nas chamadas sociedades hidráulicas e das pirâmides, na civilização egípcia.
            Segundo um artigo publicado no The Wall Street Journal, “o governo faz planos de investimento e as empresas devem segui-los, quaisquer que sejam as condições de mercado”. Ao desagregarmos a riqueza produzida, a cada ano, na China podemos mensurar o que isto significa. Desde a década de 1990, para cada US$ 100 contabilizados no Produto Interno Bruto (PIB), pelo menos US$ 35 correspondiam a novos investimentos. Em 2012 este valor chegou a US$ 48,1. No mesmo período, o máximo que o Brasil conseguiu foi uma proporção de US$ 21 de investimento para cada US$ 100 de PIB. Porém, os números do país asiático escondem um grande problema. Segundo os autores do texto, Dinny McMahon e Bob Davis, “Ao comprimir em poucos anos o que normalmente seria uma década de investimentos, a China apressou o fim da sua fase de crescimento rápido. Muitos projetos [fábricas] foram duplicados, acabando por criar excesso de oferta em todos os setores, da habitação ao aço, do cimento aos equipamentos de energia solar”.
            Para o economista americano Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim desde 2002, o governo precisa reequilibrar a economia. O que ocorre atualmente é que “Com tanto investimento liderado pelo governo central e pelos governos locais, e com a garantia desses governos de pagamento, isso criou um déficit fiscal muito maior do que se vê nas estatísticas oficiais”. Segundo ele, o déficit fiscal “real” da China está entre 10% e 25% do PIB. Os suspeitos dados oficiais relatam um valor em torno de 2%.
            A grande crítica feita pelos economistas ao modelo chinês é a de que os investimentos por si só não garantem longos anos de bonança. Para que o PIB siga uma trajetória de crescimento sustentável, sem haver um excesso de capacidade produtiva, seria necessário reduzir os estímulos ao investimento e fomentar o consumo das famílias.
            Sem querer entrar na questão da desigualdade de renda, que também contribui para a fraca demanda, digo que não há saída para o país. Aquilo que é inevitável no capitalismo, e que, em algum momento, iria chegar à China, a crise de superprodução de capitais, teve sua primeira manifestação paradoxalmente antecipada pelo partido “comunista”.
            O que aparenta ser apenas um desequilíbrio entre oferta e demanda é muito mais do que um mau uso das políticas econômicas. Até porque, no capitalismo, por se buscar apenas a expansão da riqueza com o objetivo de produzir mais lucros, pouca importância se dá às necessidades sociais. Neste sistema, a satisfação dos interesses individuais, quer seja dos empresários, quer seja dos seus representantes, é o que dá a dinâmica à economia.
            A China que o diga...


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
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