sexta-feira, 20 de junho de 2025

CONFLITO ANUNCIADO, APOIO CONDICIONAL E SILÊNCIO CALCULADO

Semana de 09 a 15 de junho de 2025

   

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

Na última sexta-feira (13), Israel lançou uma série de ataques aéreos contra instalações nucleares iranianas, incluindo os complexos de Natanz e Arak. A ofensiva foi justificada por Tel Aviv como uma ação “preventiva” para conter o avanço do programa nuclear do Irã, que, segundo Israel, estaria próximo de alcançar capacidade armamentista. Em resposta, o Irã iniciou contra-ataques com mísseis e drones, marcando uma escalada direta e inédita entre os dois países, que historicamente vinham se enfrentando por meio de proxies e operações indiretas.

Assim, o atual conflito entre Irã e Israel não ocorre em um vácuo geopolítico, tampouco seus desdobramentos se limitam ao Oriente Médio. Ele reverbera em múltiplas camadas: diplomáticas, militares e, principalmente, econômicas. A análise conjunta desses três elementos permite enxergar a complexidade e os dilemas do sistema internacional diante de uma escalada militar envolvendo dois atores historicamente antagônicos.

No campo diplomático, o comportamento das potências globais expõe uma ambiguidade estratégica. Os Estados Unidos, tradicional aliado de Israel, oscilam entre um apoio tácito à ofensiva de Netanyahu e tentativas de dissociação retórica. Isso fica evidente nas declarações ambíguas de Donald Trump, que ao mesmo tempo em que exaltou o poderio militar americano e insinuou ter o líder iraniano sob mira, também recuou, ao afirmar que não tomaria medidas imediatas e adotou um tom sarcástico diante das reações do Irã. Sua retórica beligerante, ao mesmo tempo em que ameaça diretamente o líder iraniano, também sugere a busca por uma "rendição completa" como solução. Já Rússia e China, ainda que aliadas do Irã em discurso, também não apresentam sinais de envolvimento ativo. A retórica de mediação desses países parece mais orientada à manutenção de influência regional e proteção de seus próprios interesses estratégicos – como as sanções que enfrentam – do que a qualquer real disposição de confronto com Israel ou os EUA.

O Irã, por sua vez, adota um discurso de resistência que ecoa seu histórico de confrontos indiretos com o Ocidente, mas a rejeição ao ultimato americano pode ser interpretada tanto como firmeza nacionalista, quanto como uma jogada calculada para evitar negociações em posição de fraqueza. A cautela na resposta – ainda que envolta em ameaças – indica que Teerã entende os riscos de uma guerra aberta com o aparato militar americano.

Essa hesitação generalizada pode ser entendida como um sinal de que ainda não existe grande interesse entre as potências em transformar o embate em uma guerra regional de grandes proporções. Por enquanto, os aliados ideológicos parecem agir com parcimônia. A guerra parece isolada no plano formal, mas certamente será acompanhada de efeitos colaterais e transnacionais profundos.

No campo econômico, um dos impactos sobre o qual mais se fala é o efeito em cadeia, desencadeado via preços. O conflito afeta diretamente o preço do petróleo, um dos ativos mais sensíveis ao risco geopolítico. Como o Fed, o BCE e outros bancos centrais encontram-se acuados entre inflação, volatilidade cambial e risco sistêmico. Paralelamente, a instabilidade no Golfo Pérsico tende a elevar a volatilidade nas bolsas de valores e a comprometer a previsibilidade dos bancos centrais. Uma das consequências disso poderá ser a ruptura de modelos tradicionais de política monetária: os BCs perderão capacidade de previsão, as moedas se tornarão erráticas e os investidores passarão a operar em modo defensivo.

Esse cenário impõe uma leitura pragmática. Nenhuma potência parece querer, de fato, entrar em guerra; mas os países também não podem se mostrar passivos, sob pena de perder influência. O resultado é um teatro de declarações firmes, que inflamam as tensões, enquanto a economia global paga o preço da instabilidade. A “guerra que não interessa a ninguém” torna-se, paradoxalmente, um fator de desorganização estrutural dos mercados e da ordem global.

Enquanto isso, em um timing digno de roteiro político mal escrito, um grupo de prefeitos brasileiros decidiram embarcar rumo a Israel justamente no auge da escalada militar com o Irã. Entre eles, Cícero Lucena, prefeito de João Pessoa. Em vez de priorizar agendas locais urgentes — como saneamento básico, saúde pública e educação — o prefeito optou por visitar um país em guerra, sob o pretexto de “troca de experiências” e “inovação tecnológica”. Aparentemente, a gestão de conflitos armados entrou no currículo da administração municipal. Resta saber se os gestores voltarão com drones, escudos antimísseis ou apenas com selfies ao lado de bunkers, enquanto suas cidades seguem enfrentando problemas bem mais concretos e menos cinematográficos.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Antonio Queirós, Camylla Martins, Julia Bomfim, Julia Dayane e Nelson Rosas.

 

Share:

sábado, 14 de junho de 2025

DOR NA PALESTINA, FELICIDADE (AINDA INCOMPLETA) NO BRASIL

Semana de 02 a 08 de junho de 2025

   

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Caro leitor, antes de iniciar a análise propriamente dita, preciso destacar dois temas que trazem sentimentos opostos.

O primeiro é a, cada vez mais, escancarada ação genocida do Estado de Israel contra a população da Palestina. Se, desde o começo, a desproporção do ataque do Estado judeu já foi flagrante, não é de hoje que o que tem acontecido por lá se transformou em um massacre abominável. Campos de concentração, há. Pessoas passando fome, também. O que está faltando para que isto seja chamado de holocausto palestino, câmara de gás?

 O segundo tema a ser destacado é que, nesta semana que ainda não terminou, não há a menor possibilidade de qualquer brasileiro com o mínimo de intelecto escrever algo e não falar do prazer em ver militares sentados no banco dos réus da justiça civil. É muita alegria ver um troglodita, metido a corajoso, se amofinar diante de um juizado composto pela Suprema Corte do país. Nesse momento, para além das lembranças de toda a pressão contra as Eleições de 2022, vem à mente, também, o conjunto de iniquidades praticadas por Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19. É possível que, pela primeira vez na nossa história, vejamos uma rápida (mesmo que tímida) resposta às atrocidades praticadas por militares brasileiros. Para termos a cereja em cima do bolo, só faltaria mesmo a burguesia que o apoiou pagar junto. Mas, eu sei, isto é querer demais... Enfim, vamos aos fatos da semana que já acabou.

 Como já foi trazido na análise passada, há uma verdadeira guerra de narrativas acerca dos fatos sobre a economia brasileira. Os dados mostram uma melhora significativa em várias dimensões, desde a queda na desigualdade de renda até o aumento nos investimentos e nas exportações. Porém, os noticiários vivem afirmando que isto é um problema para o país, que não deveríamos crescer tanto e gerar tanto emprego.

De acordo com os dados oficiais do IBGE, a economia brasileira cresceu 1,4% entre o último trimestre de 2024 e o primeiro trimestre de 2025. No contexto das confusões internacionais, lideradas por Donald Trump, nosso crescimento foi maior do que o da União Europeia (0,3%) e o do G7 (0,1%), ficando atrás, contudo, de outros países emergentes, como a China (5,4%).

Detalhando um pouco, é importante destacar que houve uma forte contribuição da Agropecuária no crescimento geral, que saltou 12,2% no período. Esta cifra reflete uma recuperação da forte queda do fim do ano passado (-4,4%). No caso dos Serviços, não houve uma mudança significativa em relação ao período anterior, crescendo 0,3% nesses primeiros meses de 2025. Contudo, a Indústria de Transformação foi o ponto negativo, literalmente, tendo em vista que o PIB do setor caiu 1,0%. Por sua vez, a Construção Civil reduziu em 0,8% seu PIB. A situação geral da Indústria só não foi pior por causa da Indústria Extrativa (+2,1%) e dos Serviços Industriais de Utilidade Pública (+1,5%).

Para encerrar a descrição dos dados sobre o PIB, alguns componentes da demanda foram destaques positivos: os aumentos de 3,1% nos Investimentos e de 2,9% nas Exportações. Isto mostra maior pujança da atividade econômica, pois corresponde, por um lado, a um aumento na capacidade produtiva, nas contratações e na geração de renda, e, por outro, a um aumento nas vendas internacionais, o que traz uma maior quantidade de dólares para o país. Contudo, o aumento de 5,9% nas Importações reflete uma fraqueza de longa data na estrutura produtiva brasileira. Nas últimas décadas, sempre que precisamos crescer, tivemos que comprar mais do resto do mundo por falta de capacidade produtiva interna. Isto se reflete, sempre, no aumento da inflação.

Bom, reforçando o que já foi dito em análises anteriores, em especial a da semana passada, não dá para encontrar uma conexão crível entre os fatos e a narrativa que tem sido criada sobre a economia do Brasil. Muito longe do ideal, as políticas que estão sendo adotadas buscam romper a perversa lógica da contenção da inflação pelo sufocamento da economia. O problema é que, como têm mostrado as pesquisas de intenção de votos, parece que isto não chega plenamente à realidade das pessoas. Mas aí o problema já é outro, está no próprio capitalismo.

Deixemos essa discussão para outro dia...


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antonio Fontes, Bruno Lins, Camylla Martins, Guilherme de Paula,  Lara Souza, Nelson Rosas, Rosângela Palhano e Victoria Rodrigues.

Share:

sexta-feira, 6 de junho de 2025

O BRASIL À BEIRA DO COLAPSO? A VERDADE CAMUFLADA PELO JORNALISMO ECONÔMICO

Semana de 26 de maio a 01 de junho de 2025

   

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

Estimado leitor, diante dos últimos dados publicados sobre a conjuntura econômica, não temos outra escolha a não ser continuar denunciando a intensa sabotagem pela qual vem passando o governo brasileiro neste âmbito. Mesmo diante dos excelentes resultados econômicos, a imprensa brasileira, através de suas manchetes, crava o discurso de que o crescimento econômico é ruim para o país. É impressionante como o dogma econômico do combate ao mal inflacionário (a inflação está acima da meta, mas não há descontrole) foi assimilado ao ponto das opiniões teóricas divergentes e dos afetados pelas decisões de política econômica serem totalmente vetados pela imprensa. Quando os juros se alteram, não escutam os setores comercial e produtivo; quando o desemprego cai e/ou a renda aumenta, não escutam os trabalhadores ou os seus sindicatos; quando se introduz políticas sociais, não se ouve os beneficiados e as transformações que elas produzem em suas vidas. Todas essas vozes foram caladas. Ouve-se apenas um lamento: crescer gera inflação. E inflação deve ser combatida pelo asfixiamento da demanda. O jornalismo econômico virou o samba de uma nota só.

Assim como diz a canção de Tom Jobim, a imprensa não quis todas as notas e, para não correr o risco de ficar sem nenhuma, escolheu ficar numa nota só... Mas não estamos falando de amor, e sim da economia. E ela é complexa. Os recentes resultados econômicos foram bons e aqui os apresento. O IBC-Br, indicador do PIB calculado pelo Banco Central, avançou 1,3% no primeiro trimestre; a produção agroindustrial cresceu 3,6% em março pela terceira vez seguida e fechou o primeiro trimestre com aumento de 1,6%, segundo Índice de Produção Agroindustrial da FGV Agro; o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apurou abertura líquida de 257.528 vagas de trabalho com carteira assinada em abril, resultado bem acima das 170.513 vagas previstas pelo Valor Data; o Índice de Confiança do Comércio (Icom) da FGV está se recuperando e apresentou alta de 1,2 ponto em maio e chegou a 88,7 pontos (numa escala máxima de 200); o Índice de Confiança de Serviços (ICS) também da FGV, cresceu 1,5 ponto em maio, para 91,9 pontos; e, por fim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação, subiu 0,36% em maio ante 0,43% em abril, segundo o IBGE, e, de novo, o Valor Data errou, pois estimava crescimento de 0,44%.

Entretanto, todos estes resultados foram tratados no jornalismo como grandes decepções e/ou surpresas (negativas, é claro!). A realidade se comporta de forma diferente do que prevê o dogma teórico e ao invés de a teoria ser questionada, procura-se um culpado por ela não estar funcionando como deveria. O bode expiatório se reveza entre a resiliência da atividade econômica e Lula. A resiliência pode ser quebrada a qualquer momento pelos juros, então se pode conviver com ela, mas Lula precisa ser parado! Chega de inconsequências! Reajuste salarial dos servidores públicos? Política de valorização do salário-mínimo? Liberação do FGTS? Benefícios sociais? Isenção do Imposto de renda para quem ganha menos? Nada disso. Os teóricos dogmáticos e aqueles que são beneficiados por suas soluções econômicas encontraram a desculpa perfeita: a culpa é de Lula, o esbanjador que quer se reeleger.

Por isso, o jornalismo econômico e seus respectivos editoriais vendem a ideia de que uma tragédia está em curso pois “há a possibilidade de o PIB do Brasil crescer 3% em 2025” e, como “a economia vai continuar super resiliente”, isto “vai pressionar” a inflação. Não, não há pressão inflacionária. Isto é mentira. O PIB está crescendo e a inflação está caindo. É isto que as estatísticas mostram. A choradeira é vergonhosa. Contenham-se! Façam-se a seguinte pergunta: por que a economia cresce, apesar dos juros altos e com inflação sob controle?

Não. O Brasil não está à beira do colapso. Quem está colapsando são a teoria econômica e os rentistas que não suportam ver a inclusão do povo no orçamento da União.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Lara Souza, Paola Arruda, Victória Rodrigues, Guilherme Gomes, Ícaro Moisés, Nelson Rosas, Brenda Tiburtino, Maria Júlia Alencar e Miguel Oliveira.


Share:

domingo, 1 de junho de 2025

A LUTA CONTRA AS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

Semana de 19 a 25 de maio de 2025

   

Nelson Rosas Ribeiro[i]

   

A questão da Selic, taxa básica de juros, que é estabelecida pelo Copom, órgão do Banco Central (BC), e que regula as taxas de juros da economia, tem sido tratada, nesta coluna, de diversos modos. Pode ser até repetitivo, mas a importância do assunto é tal que não podemos nos omitir, já que o Copom voltou a se reunir e estabelecer um novo patamar para a taxa: aumentou de 14,25% para 14,75%. O pior é que, mesmo com a mudança de vários diretores e do próprio presidente do BC, a política e as justificativas para o aumento continuam a ser as mesmas. Como a inflação, considerada como causada pelo excesso de demanda, tem sido “resiliente”, e continua a ameaçar a economia, o remédio para combatê-la, o único que o BC conhece, o aumento da taxa Selic, continua a ser aplicado. Dizem eles, que os juros elevados, fazem com que os consumidores deixem de consumir, as empresas deixem de investir, reduzindo com isto o seu consumo produtivo, e o governo também reprima sua política distributiva e de gastos. Em outras palavras, o remédio é aumentar o desemprego, diminuir os salários, dificultar os empréstimos e os investimentos, ou seja, desacelerar a economia. O BC lamenta que o crédito vem crescendo a dois dígitos, garantindo o ritmo de crescimento da economia. O comércio, a indústria e os serviços continuam a crescer, o mercado de trabalho permanece forte e os salários aumentaram em torno de 4%. As previsões para o PIB ultrapassaram os 4%. Isto é inadmissível.

É nesta frente que opera a Organização Criminosa, que atua no Banco Central e que, intencionalmente, trabalha para derrubar a economia, sendo aplaudida pela oposição, pois concorre para enfraquecer o governo e criar um ambiente negativo à reeleição do presidente Lula. Curiosamente, graças à estúpida ideologia econômica que adotam, economistas e partidários do presidente aliam-se a esta matilha de cães raivosos. Sobre os efeitos nefastos da elevação da Selic, para a economia, remeto os leitores para as duas últimas análises publicadas nesta coluna.

Mas, o BC está combativo e pede calma ao público, pois vai continuar a elevar a taxa Selic até conseguir derrubar os teimosos que insistem em manter o crescimento. E o único caminho é reduzir a demanda, pois a oferta não se pode aumentar, segundo um outro tabu: um tal de “produto potencial”.  Como o Brasil já atingiu o limite de seu produto potencial, se ultrapassá-lo, disparará a inflação sem controle. O Copom acalma o mercado afirmando que “… o processo de moderação de crescimento deve ocorrer, após vários anos de surpreendente dinamismo”.  O presidente do BC, Gabriel Galípolo, tranquiliza ainda mais o mercado prometendo que a Selic permanecerá elevada, “por um período bastante prolongado.” Enquanto a economia resistir, se mantiver resiliente, o Copom será implacável. Isso dito por eles próprios. Por isto, temos afirmado, que a Organização Criminosa que atua na direção do BC, é muito mais maléfica que o PCC ou o CV. Enquanto estes causam mal a algumas pessoas, aquela causa mal ao país e, portanto, à toda a população. São traidores da pátria.

Para tristeza geral, no entanto, a economia teima em não desacelerar. A Organização Criminosa que comanda o BC enfrenta um inimigo poderoso que trabalha na direção contrária. Fiel aos seus compromissos eleitorais o governo esforça-se para alimentar o crescimento da economia e melhorar as condições de vida da população com algum sucesso. A concessão de novos créditos avançou 18,2% para pessoas jurídicas e 12,5% para pessoas físicas, em março. Os consumidores, estimulados pela solidez do mercado de trabalho, estão dispostos ao endividamento e as empresas, além do crédito bancário, passaram a fazer captações no mercado de capitais. O aumento do salário-mínimo injetou mais R$81,5 bilhões na economia. A indústria cresceu, até agora, 1,9%. Em 12 meses, o varejo restrito expandiu-se 3,1% e o ampliado 3%. O governo criou o crédito consignado para o trabalhador privado, com garantia do FGTS, e uma linha de R$30 bilhões para uma nova faixa de renda do Minha Casa Minha Vida, para a classe média. Pretende estender o Gás para Todos, de 1,2 milhão de família, para 17 milhões e isentar do pagamento de luz os que consumem até 80kWh, que atinge 60 milhões de pessoas.

Como se pode ver, o governo não desiste e luta com bravura para manter o crescimento e cumprir seus compromissos com os mais necessitados. E além de tudo tem de travar a luta contra a outra Organização Criminosa, que não dá tréguas dentro do congresso.

Vida difícil a do governo Lula!


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Camylla Martins, Guilherme de Paula, Jessica Brito, Lara Souza, Paola Arruda, Victoria Rodrigues e Ryann Felix.




Share:

sábado, 24 de maio de 2025

DOGMA ECONÔMICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Semana de 12 a 18 de maio de 2025

    

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

A cada quarenta dias, o Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne para decidir os rumos da taxa básica de juros. Apesar de existirem outras opções, este é o único instrumento de combate à inflação que o país executa. Em sua última reunião, o Copom elevou a taxa pela sexta vez consecutiva, que passou de 14,25% para 14,75%. Temos reforçado reiteradamente que, mesmo não havendo descontrole inflacionário, há fervorosa defesa de que o arrocho econômico é essencial. O embasamento teórico que justifica a medida consolidou-se como dogma, como tabu, como verdade inquestionável. A teoria que representa a elite econômica e financeira, impôs ao país o sistema de metas inflacionárias que limita o crescimento econômico a níveis muito baixos.

No dia 13 de maio de 2025, foi divulgada a ata da última reunião do Copom. O documento reúne todas as justificativas que embasaram o aumento recente dos juros. O cenário externo, diz o relatório, “mostra-se adverso e particularmente incerto” e “alimenta incertezas”, o que exige “cautela por parte de países emergentes em ambiente de maior tensão geopolítica”. E, para nossa infelicidade, alerta o Copom, “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado dinamismo”. Vejam só! O brasileiro, que nos últimos anos obteve ganhos de renda continua comprando, as empresas, para suprir a demanda, continuam investindo e o governo se atreve a governar, gastando. Como então frear uma inflação de demanda, único diagnóstico que explica a alta de preços? Ora, reduzindo a demanda, a partir do único remédio da prateleira: juros nela! Então, diz a autoridade monetária, “...o arrefecimento da demanda agregada é um elemento essencial do processo de reequilíbrio entre oferta e demanda da economia e convergência da inflação à meta.” O grupo de distintos senhores sentados à mesa do Copom não se importa com o custo social de suas decisões, afinal, eles estão ali para adequar a realidade aos pressupostos teóricos que compartilham.

Mas, por que no “essencial” “reequilíbrio entre oferta e demanda” não se preserva a demanda em troca do aumento da oferta? Não, caro leitor, isto não é possível. A teoria diz que já crescemos o máximo que poderíamos, ou melhor, já ultrapassamos o produto potencial, o limítrofe do crescimento econômico interno. Se crescermos mais que isso, só herdaremos inflação. E por que não estimulamos a oferta para conduzir o nível de preços para baixo? Ah!, diz a teoria, isto é impossível no curto prazo! Transpor esta barreira exigiria muito esforço da economia e as empresas precisariam de um grande horizonte de planejamento para os novos investimentos. Deixemos isso para o longo prazo. É preciso matar a economia agora.

Entretanto, contrariando todos os postulados teóricos, a economia brasileira segue crescendo, mesmo com os aumentos consecutivos dos juros, desde setembro de 2024. Isto tem contrariado o Copom que, ressabiado, observa em sua ata: “Alguns fatores elencados durante a reunião seguem dando confiança ao Comitê de que o processo de moderação de crescimento deve ocorrer, após vários anos de surpreendente dinamismo.” A economia brasileira não está se deixando matar. Dados recentes da Pesquisa Mensal de Serviços realizada pelo IBGE apontam crescimento do setor de serviços de 0,3% em março, comparado a fevereiro. E a Pesquisa Mensal do Comércio, também do IBGE, apurou alta de 0,8% no volume de vendas no varejo totalizando crescimento de 0,9%, no primeiro trimestre do ano.

Diante dos fatos, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, se apressou em dizer que a Selic permanecerá elevada por “período bastante prolongado”. E ainda afagou os especuladores dizendo que eles não precisam “se emocionar” com os dados ainda virtuosos da atividade econômica, porque teremos “um longo período de aperto...” Independentemente de quem seja o mandatário do Banco Central, o restrito arcabouço teórico aplicado à realidade econômica, continuará a acorrentar-nos em um círculo vicioso de juros altos, inflação moderada, baixo crescimento e intensa especulação financeira. Neste cenário, todos devem cumprir o seu papel: as empresas têm que parar de investir, os trabalhadores não podem estar empregados, nem podem consumir e o governo não pode gastar. Afinal, o asfixiamento da economia é “necessário”. Durma-se com um barulho desse.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Lara Souza, Paola Arruda, Victória Rodrigues, Guilherme Gomes, Júlia Bomfim, Julia Dayane Rodrigues, Maria Júlia Alencar.

Share:

quinta-feira, 15 de maio de 2025

O BRASIL ESTÁ INDO BEM, MAS POR QUE NÃO ESTAMOS AINDA MELHOR?

Semana de 05 a 11 de maio de 2025

   

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Caro leitor, a análise desta semana traz uma reflexão mais profunda que nos ajuda a entender a qualidade do atual crescimento econômico brasileiro. Como tem sido (relativamente mal) noticiado, o Brasil apresentou significativa melhora nos indicadores econômicos. O emprego informal é o menor dos últimos cinco anos, o nível de subutilização da força de trabalho é a segunda menor desde 2012, as exportações estão batendo recorde, a indústria tem crescido de forma sustentada e disseminada, a desigualdade de renda caiu, o comércio com a China se ampliou. A situação do Brasil melhorou ao ponto de subirmos cinco posições no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), sendo puxado pelo aumento da renda.

Afinal, diante disso tudo, por que não estamos surfando na onda desse crescimento? A resposta tem a ver com a forma como a indústria se organiza atualmente.

No passado, a estrutura produtiva dos países industrializados tinha um enraizamento muito forte no próprio território ao qual pertencia. Na prática, grande parte dos fornecedores de insumos estavam próximos, frequentemente nos arredores das grandes fábricas. Estas, por sua vez, formavam o centro em torno do qual se constituíam os grandes polos produtores de bens de uma mesma família: automobilístico, têxtil, petroquímico, etc. Soma-se a isso um conjunto de serviços que se formavam para a manutenção dessas atividades: bancos, comércio, saúde, beleza, educação, transporte, etc.

Como resultado, quando determinados setores entravam em rota de crescimento, essa expansão se espalhava para outros setores nacionais e, com isso, toda a economia se aquecia. O auge do crescimento econômico sempre foi um momento de euforia, que, diante da bonança generalizada, preparava as condições para a chegada da superprodução.

Entretanto, para a maior parte dos países capitalistas, isto não é mais a regra. Dentre outros fatores, um dos motivos fundamentais está na forma como se produz e se distribui a riqueza hoje. Cada vez mais, liderada por grandes conglomerados, a produção da maior parte dos bens que consumimos percorre uma ampla gama de países antes de chegar às nossas mãos.

Comandadas pelas chamadas empresas transnacionais, o que temos hoje são cadeias produtivas fragmentadas e dispersas em diversos países. A concepção do produto ocorre em um local, a produção das partes em outro, a montagem em outro e, por fim, o consumo pode ocorrer em qualquer lugar do planeta.

A grande novidade disto é que essas transnacionais conseguem acessar os locais mais remotos da Terra, se aproveitando das vantagens que cada um pode proporcionar: é mão de obra barata num lugar, leis trabalhistas flexíveis em outro, falta de legislação ambiental em outro, domínio exclusivo de jazidas minerais em outro e assim por diante.

Como resultado, as empresas transnacionais têm acesso aos fornecedores mais baratos e, consequentemente, têm custos mais baixos que as concorrentes. Assim, do ponto de vista empresarial, o padrão da organização industrial dessas empresas tem o melhor dos mundos, pois garante a elas a maior rentabilidade possível. Porém, isto traz consequências macroeconômicas importantes.

Limitando-se ao tema proposto nesta curta análise, o principal problema está no que chamamos de vazamento dos efeitos multiplicadores da produção. Quando uma empresa amplia sua produção, ela compra mais máquinas, equipamentos, matérias-primas, insumos auxiliares, etc. de outras empresas. Estas, por sua vez, também precisam comprar mais meios de produção para atender àquela empresa inicial. Cria-se, assim, um “círculo virtuoso” de crescimento.

Sob os padrões tradicionais da industrialização, quando a maior parte deste efeito multiplicador era concentrado nos polos produtores dos bens, isto resultava num forte crescimento da economia local. Mas isto não é mais observado na atualidade. Por exemplo, em 2024, a indústria automobilística do estado de Pernambuco buscou partes dos seus veículos nos EUA, Alemanha, Japão, França, Suécia e México, trouxe pneus de Taiwan, motores da Itália, laminados da Coreia do Sul, partes elétricas e eletrônicas da China. Em outras palavras, no atual padrão de industrialização, baseado em cadeias produtivas globais, os estímulos ao crescimento de um país são canalizados para fora do seu território, atingindo outras economias.

Nesse contexto, indo além de uma análise superficial da qualidade da propaganda do governo, é preciso compreender que a qualidade do próprio crescimento econômico brasileiro mudou nas últimas décadas. O efeito multiplicador dos nossos investimentos passou a se dispersar internacionalmente e, por isso, não mais gerar a mesma bonança de outrora. Este, por exemplo, é um dos principais motivos para debatermos a importância da nossa “reindustrialização”. Ela é fundamental para que o crescimento volte a acontecer de forma abrangente e ampla, alcançando mais elos da cadeia produtiva nacional.


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antonio Queirós, Brenda Tiburtino, Camylla Costa, Guilherme de Paula, Icaro Moisés e Lara Souza.

Share:

sábado, 10 de maio de 2025

MUITO DINHEIRO

Semana de 28 de abril a 04 de maio de 2025

   

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

Já faz um tempo que falamos que a elevação dos juros no Brasil tem imposto um custo elevado ao setor produtivo. Esse impacto, todavia, não é isolado – ele se insere em um quadro mais amplo de fragilidade política e institucional. A alta da Selic, que atingiu 14,75%, vem sendo justificada como uma resposta “ao avanço inflacionário e à deterioração das expectativas”. Seus efeitos colaterais, no entanto, estão se acumulando e seu preço está cada vez mais alto: de um lado, as empresas enfrentam dificuldades crescentes para honrar dívidas e investir; de outro, o setor público vê suas despesas com juros se aproximarem da casa de R$ 1 trilhão anuais.

Do ponto de vista empresarial, os números são alarmantes. Estudo da Alvarez & Marsal, veiculado pelo Valor Econômico na última semana, mostra que as companhias brasileiras terão que desembolsar cerca de R$ 126 bilhões a mais em juros até 2030. Isso significa que uma parte importante do caixa, que poderia ser aplicada em expansão, modernização ou inovação, está sendo “desviada” para sustentar uma estrutura de endividamento cada vez mais pesada. Já em 2025, os gastos adicionais estimados com juros somam R$ 26 bilhões, comprometendo o fôlego de empresas de diversos setores, especialmente aquelas que atuam em indústrias intensivas em capital, como siderurgia, petroquímica e infraestrutura.

Do outro lado da mesma moeda está o setor público: o Brasil gastou, em 12 meses até fevereiro, mais de R$ 923 bilhões apenas com o serviço da dívida — valor que representa quase 8% do PIB e responde por praticamente todo o déficit nominal do país. A conta dos juros, portanto, asfixia tanto o Estado quanto o setor privado, formando uma armadilha econômica que limita o crescimento e agrava a desigualdade.

Há aqui um efeito circular perverso. A Selic alta eleva o custo da dívida pública, que, por sua vez, aumenta o déficit nominal. Esse déficit alimenta as “incertezas do mercado” quanto à “sustentabilidade fiscal do país”, pressionando novamente as taxas de juros longas e “exigindo” uma política monetária ainda mais restritiva para conter as expectativas inflacionárias. Assim, mesmo com sinais de arrefecimento na inflação e com um câmbio relativamente estável, o discurso econômico hegemônico insiste em manter o país preso a um ciclo de juros elevados, crescimento baixo e endividamento crescente, que só beneficia grandes rentistas.

O resultado nós já sabemos e sentimos, caro leitor. Uma economia paralisada entre dois mundos: o privado, endividado e sufocado por custos financeiros crescentes, e o público, comprometido com despesas fixas, as quais o impedem de direcionar recursos para outras áreas econômico-sociais. Nesse cenário, tanto as empresas quanto o governo gastam mais para simplesmente manter-se operando — sem espaço para investir, inovar ou expandir. A política monetária, que deveria ser uma âncora de estabilidade, transforma-se em um obstáculo para o crescimento. A industrialização se mostra cada vez mais distante.

Diante de tudo isso, é preciso reconhecer que a política monetária brasileira não opera num vácuo técnico neutro, mas dentro de um arranjo em que expectativas — muitas vezes moldadas por interesses financeiros — se impõem como verdades incontestáveis, condicionando decisões que impactam diretamente o setor produtivo e a vida das pessoas. A manutenção de juros altos, mesmo em contextos em que a inflação real não justifica tal rigidez, revela uma captura ideológica da política econômica por uma racionalidade de mercado que favorece os detentores de capital financeiro em detrimento do investimento produtivo e do crescimento sustentável.

Romper esse ciclo exige mais do que ajustes técnicos: exige coragem política para questionar a teoria econômica dominante, enfrentar os interesses cristalizados no sistema financeiro e construir uma nova lógica econômica que privilegie o desenvolvimento, a produção e o bem-estar social.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduada em Relações Internacionais (UFPB).(paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Bruno Lins, Ícaro Formiga, Lara Souza, Miguel Oliveira e Ryann Felix.

 

Share:

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog