Semana de 24 a 30 de novembro de
2025
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
A história daquilo que chamamos de Brasil
se confunde com a própria história do capitalismo. Fruto da expansão marítima
europeia, a ocupação do nosso território teve uma função clara: atender aos
interesses econômicos da burguesia mercantil europeia, em especial, a
portuguesa. Nossa maior função era fornecer matérias-primas e alimentos baratos
para o capitalismo nascente europeu. Mesmo com a independência política,
continuamos a cumprir esta função, não mais como colônia, mas periferia no
sistema internacional.
No início, nos idos de 1500, era tudo mato,
literalmente... O principal produto fornecido pela então chamada Terra de Santa
Cruz era o pau-brasil. Esta árvore era extraída diretamente da natureza pelos
indígenas e adquirida por meio do escambo. Em seguida, era embarcada em toras
de madeira nas caravelas. Depois, já como Brasil, a ocupação colonial do
território esteve em função do fornecimento de açúcar à Europa. Diferentemente
da fase do pau-brasil, a fase do açúcar envolvia não apenas o plantio da cana
(um cultivo exótico, originário da Ásia), mas seu beneficiamento e
transformação em produto final.
Concomitantemente à decadência da atividade
açucareira brasileira descobriu-se no Brasil aquela que era a mercadoria mais
desejada à época: o ouro. Muito mais do que um produto desejado pelo consumo
direto, este metal, como dinheiro, simbolizava a própria riqueza material.
Assim, no século XVII iniciou-se mais uma fase no desenvolvimento colonial
brasileiro, liderada pela atividade extrativa do ouro. Esta fase durou até fins
do século XVIII, quando, por contrabando, já havia se iniciado o cultivo de outra
planta exótica no território nacional.
O café chegou ao Brasil por volta de 1720,
através do estado do Pará, se expandindo para o resto do país ao longo do
século. Mas foi apenas após a independência, já no início do século XIX, que a
cafeicultura assumiu o protagonismo na dinamização da economia nacional.
Tivemos, então, o início da fase cafeeira, a qual ainda se caracterizava como
uma atividade voltada para o atendimento das necessidades estrangeiras.
Ela se inicia sob uma base econômica
herdada do antigo sistema colonial, ainda escravista, monocultora,
latifundiária e exportadora. Com o tempo, diante do desenvolvimento da própria
atividade e das pressões externas advindas, sobretudo, da Inglaterra, novas
bases foram surgindo e se consolidando. A cafeicultura foi se transformando
numa atividade capitalista, trocando a exploração escravista pela assalariada
imigrante e introduzindo forças produtivas mecanizadas.
Este foi o ponto de partida para uma
profunda mudança que se sucedeu ao longo do século XX: apesar de não ter
elevado nossa economia a uma posição de país avançado e de ter mantido nossa
condição de economia dependente, passamos por um intenso processo de
industrialização voltada para o consumo interno. O que isto significou? Que
grande parte daquilo que são as riquezas naturais do país, como os minerais e o
solo fértil, passaram a ser beneficiados no nosso próprio território. Para além
de exportador de produtos primários, passamos a beneficiá-los e transformá-los
em bens de consumo para a economia local, gerando dinâmica (emprego e renda)
dentro do país. Esta fase ocorreu entre 1930 e a década de 1970.
Contudo, a partir dos anos 1990, passamos
por um processo regressivo de desenvolvimento econômico, conhecido como
desindustrialização. Os motivos para isso são os mais diversos, mas, em sua
essência, está a forma como o capitalismo passou a se dinamizar nos últimos 50
anos. Dentre os fatores que resultaram deste processo, viu-se uma mudança na
forma como alguns países atuam na divisão internacional do trabalho. Alguns
países da periferia do capitalismo global passaram a exportar produtos de alto
valor agregado, enquanto outros, como o Brasil, regressaram à posição de
grandes fornecedores de bens primários e importador de manufaturados de alta
intensidade tecnológica. Foi nesse contexto que ganhamos a falaciosa alcunha de
“celeiro do mundo”.
Pois bem, o Brasil se encontra em mais um
momento em que tem a “oportunidade” de “escolher” o que fazer com a riqueza
natural que possui: utilizamos nossas imensas jazidas de terras-raras para
atender diretamente os mercados estrangeiros, ávidos pelo material bruto, ou
desenvolvemos uma indústria nacional capaz de beneficiar os minerais e, com
isso, criar emprego e renda de maior qualidade em nosso território?
Essa não é uma pergunta muito difícil de responder...
[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antônio Queirós, Jessica Brito, Julia
Bomfim, Maria Julia Alencar e Ícaro Moisés.


