sábado, 20 de setembro de 2025

POLÍTICA MONETÁRIA CONDENA O BRASIL AO BAIXO CRESCIMENTO

Semana de 08 a 14 de setembro de 2025

      

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

Caro leitor, na coluna anterior já prenunciávamos a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e os asseclas militares que constituíram uma organização criminosa que visava, por meio de um golpe, pôr fim à democracia brasileira. O bando, segundo os autos do processo, conspirou para que o ex-presidente permanecesse no poder, mesmo após a derrota nas eleições presidenciais de 2022. Finalizado o julgamento em 11 de setembro, 7 dos 8 dos integrantes do núcleo golpista principal foram condenados à prisão em regime fechado, pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Parafraseando a fala da ministra Cármen Lúcia, o julgamento é um marco, pois representa o “...encontro do Brasil com seu passado, presente e futuro.” O líder da organização criminosa foi condenado a 27 anos e 3 meses de reclusão; o ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto, foi sentenciado a 26 anos; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, foram condenados a 24 anos cada; o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, recebeu 21 anos; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, foi sentenciado a 19 anos; o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, que escapou dos crimes contra o patrimônio, pois já exercia o mandato de deputado, foi condenado a 16 anos, um mês e 15 dias e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, cumprirá dois anos em regime aberto, por ter celebrado acordo de colaboração premiada.

Em relação ao tarifaço os desafios permanecem. Apesar de o governo ter aprovado um pacote para minimizar os efeitos sobre os setores atingidos, a ameaça de imposição de novas sanções, em virtude de a Justiça Brasileira estar cumprindo o seu dever constitucional julgando criminosos, é constante. Um dia depois da condenação da quadrilha golpista, o subsecretário da Diplomacia Pública dos Estados Unidos, Darren Beattie, declarou que a decisão que era um “acontecimento sombrio com a máxima seriedade.” O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, disse que seu país “condena o uso da lei como arma política.” E por fim, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou, do alto de sua característica arrogância, que o governo dos EUA dará “resposta à altura”.

Enquanto se empenha em salvar a economia interna, o governo enfrenta duros embates no Congresso Nacional, ao tentar aprovar projetos que lhe são caros, como o que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e a proposta que muda a previdência dos militares estabelecendo idade mínima de 55 anos para aposentadoria, além de 35 anos de serviço.

Em relação à conjuntura, o indicador do varejo mostra que o volume de vendas do setor caiu 0,3% em julho em relação a junho, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. Mas, diante de todas as dificuldades, a economia brasileira resiste, e mesmo desacelerando por causa dos juros altos, ainda cresceu 0,4% no segundo trimestre do ano quando comparada ao primeiro.

Já o IPCA de agosto, indicador oficial da inflação, caiu 0,11% e registrou a primeira deflação mensal desde julho de 2023. É uma boa notícia. Temos um crescimento moderado com queda do nível de preços. Mas ainda não basta, dizem os analistas. Ao invés de celebrar o ganho no poder de compra dos brasileiros, mostram preocupação com os preços dos serviços. O combate à inflação no Brasil regrado por metas de inflação extremamente rígidas, faz soar naturalmente absurdos como o proferido por um especialista da AZ Quest. Questionado sobre os valores apresentados pelo IPCA de agosto ele nos tranquiliza afirmando que os efeitos da política de juros altos “...deve chegar ao mercado de trabalho e, consequentemente, ajudar a inflação de serviços a arrefecer para níveis mais próximos compatíveis com a meta.” Desempregar pessoas propositadamente não é um problema. Esta é a visão do Banco Central, amplamente corroborada pelo mercado financeiro.

Portanto, enquanto o sistema judiciário brasileiro aprisiona em regime fechado, o chefe da organização criminosa golpista e seus comparsas, o sistema de metas de inflação adotado pela autoridade monetária, condena a economia brasileira ao cárcere do baixo crescimento e do desemprego.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.comrospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram:  Antônio Queiroz, Paola Arruda, Lara Souza, Julia Dayane, Ícaro Moisés, Nelson Rosas e Bruno Lins.

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