sábado, 9 de agosto de 2025

ENTRE TARIFAS E ALGEMAS, BRASIL RESPONDE

Semana de 28 de julho a 03 de agosto de 2025

  

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

Em mais uma demonstração de instabilidade política e econômica, Donald Trump decidiu amenizar o chamado “tarifaço” contra o Brasil, retirando da lista de produtos taxados cerca de 700 itens – aproximadamente 40% do total exportado pelo país aos Estados Unidos. Entre os beneficiados estão tecnologias da Embraer, minerais estratégicos e alguns produtos alimentícios, como o suco de laranja, que havia se tornado um símbolo nas discussões sobre a medida. Vale lembrar que Trump prometeu iniciar a cobrança em 1º de agosto, mas também recuou nesse aspecto e adiou seu início para o dia 6 de agosto, num típico movimento “morde e assopra”. O recado, caro leitor, é claro: Trump não mantém posições estáveis, e essa volatilidade mina previsibilidade nas relações comerciais.

Mais grave que o vaivém é o discurso usado para justificar a sobretaxa. Os Estados Unidos decidiram colocar o Brasil como uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança, política externa e economia nacionais. Fica a pergunta: que ameaça real representa o Brasil para os EUA? O Brasil, tão subestimado pelos Estados Unidos ao longo das décadas, “agora” é motivo de terror?

A verdade, caro leitor, é que essa retórica revela uma contradição gritante. O mesmo país que, por décadas, pregou e impôs o livre comércio mundo afora agora parece convenientemente esquecê-lo. Quando os ventos não sopram a seu favor, os EUA abandonam os princípios que diziam defender e recorrem a um protecionismo disfarçado de medida de segurança. No fim, essa é apenas mais uma mostra de que não são valores econômicos universais que movem a decisão norte-americana, mas sim interesses domésticos e conjunturais.

No campo interno, a tarifa de 50% que se manteve sobre produtos-chave como café, carne bovina, têxteis e calçados certamente vai afetar a rentabilidade dos produtores brasileiros. No entanto, para o consumidor, pode haver um efeito imediato de queda de preços, já que parte da produção que iria para os EUA ficará no mercado interno. Estimativas indicam um impacto pontual de até -0,24 ponto porcentual no IPCA, puxado pela maior oferta de carnes, café e etanol. Ainda assim, há riscos de desestímulo à produção, o que pode afetar o emprego e a renda no país.

Ciente dos desafios, o governo brasileiro preparou um plano de contingência para minimizar o impacto econômico. A estratégia inclui crédito subsidiado, medidas de manutenção de empregos e foco especial em micro, pequenas e médias empresas, que representam uma fatia relevante das exportações para os EUA. Não é a primeira vez que o país adota uma reação rápida: em 2024, diante das enchentes no Rio Grande do Sul, um pacote emergencial de apoio às empresas e reconstrução de infraestrutura evitou um impacto maior sobre o PIB e o emprego, sendo reconhecido como uma ação bem-sucedida. A expectativa agora é que a nova rodada de medidas consiga amortecer os danos do tarifaço, especialmente em setores estratégicos.

Enquanto o Brasil enfrenta turbulências externas, no front interno um acontecimento histórico marca a política nacional: a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes. A medida foi tomada após Bolsonaro descumprir reiteradamente determinações judiciais, reforçando a ideia de que ninguém, por mais popular ou poderoso que seja, está acima da lei. Alvo também de ataques dos EUA, Moraes resiste e reafirma o compromisso do país com o Estado de Direito.

Entre a instabilidade comercial vinda de fora e a reafirmação democrática dentro de casa, o Brasil se encontra num ponto decisivo. A reação ao protecionismo de Trump exigirá habilidade diplomática e diversificação de mercados; a prisão de Bolsonaro, por sua vez, reforça que a democracia brasileira, apesar de todos os desafios, permanece viva e combativa. O que vem pela frente será um teste de resistência — tanto para nossa economia quanto para nossas instituições.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduada em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram:  Ícaro Formiga, Icaro Moisés, Jéssica Brito, Lara Souza, Nelson Rosas e Raquel Lima .

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