quarta-feira, 7 de outubro de 2015

1, 2, 3 e... pronto

Semana de 28 de setembro a 04 de outubro

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Não pensem que estou fazendo propaganda da canjiquinha da São Braz. Estou me referindo à estratégia da política econômica do ministro da fazenda Joaquim Levy, apresentada em um evento com empresários no último dia 30. É isso mesmo, leitores. É assim que o ministro pretende resolver os problemas do país, conclamando todos a trabalhar juntos em prol do 1, 2, 3.
Também em entrevista ao jornal Valor Econômico ele formulou sua proposta: vamos sair da crise e retomar o crescimento executando o 1, 2, 3.
Mas, que ritual será este?
É o próprio Levy quem explica: 1 é o ajuste fiscal, ou melhor, a austeridade fiscal (equilibrar o orçamento); 2 é o relaxamento monetário, com a redução dos juros e aumento do crédito. Com isto a demanda recupera-se rapidamente, mas, para garantir as condições de oferta, é preciso o 3, as reformas estruturais.
Segundo o ministro, com isto a “resposta é garantida” e “a experiência mostra que”... “o crescimento vem com rapidez”. Ele só não mostrou em que tempo e lugar ocorreu esta experiência.
Enquanto Levy continua fervorosamente a acreditar que as medidas que está implementando “serão o esteio da estabilização econômica e de um novo ciclo de desenvolvimento”, a economia afunda. Todos os indicadores apresentam um quadro desolador. Não há luz no fim do túnel. Pelo contrário, como afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Moan, “no fundo do poço existe um porão”. Com efeito, em setembro, as vendas de automóveis caíram 34%, em relação ao mesmo mês de 2014, e 4,6%, em relação a agosto. De janeiro a agosto, a queda acumulada foi de 22,7%. Em todo o país a produção industrial, que em julho já havia caído 1,5%, em relação a junho, caiu mais 1,5%, em agosto. A utilização da capacidade instalada, em agosto, bateu o recorde, chegando a 77,9%, o nível mais baixo desde 2003.
A situação internacional também continua preocupante. Acentua-se a desaceleração da China com a queda de 8,8% nos lucros das empresas, em agosto, em relação a 2014, apesar dos cinco cortes nas taxas de juros, da redução dos depósitos compulsórios e da desvalorização do Yuan. Todos os índices que medem a situação da economia da União Europeia apresentam queda, a deflação continua (0,1% em setembro em relação a 2014) e o desemprego ronda os 11%. Nos EUA, a economia atinge o menor nível nos últimos dois anos e Christine Lagarde, diretora gerente do FMI prevê uma queda no ritmo da expansão da economia mundial, em 2015.
No Brasil, a grave situação econômica deteriora-se ainda mais com a crise política que desestabiliza o país. No seu discurso, na abertura da 70ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, a presidente Dilma reconhecendo que, durante seis anos, seu governo tentou conter os efeitos da crise mundial, afirmou que o esforço chegou ao limite “por razões fiscais internas” e por razões externas: fim do ciclo das commodities e lenta recuperação da economia mundial. Também o ex-diretor do Banco Central Luiz Awazu Pereira, em um almoço de despedida organizado por Otavio de Barros, do Bradesco, declarou que a “reação anticíclica do governo à crise global foi longe demais”. E o resultado chegou em forma de crise econômica, com recessão e desemprego.
Duas autoridades do governo, finalmente, reconhecem o que temos falado em nossas Análises. Não se brinca com a crise econômica da qual ninguém escapa. Não há responsável por ela, mas a política econômica pode alterar sua ação, para pior, ou melhor. As opiniões dos economistas divergem de acordo com as teorias que os inspiram. No quadro político atual muito difícil torna-se a aplicação de qualquer medida, sabotada pelos interesses mais mesquinhos dos diferentes grupos políticos.
Somando-se os escândalos de corrupção que atingem os presidentes da Câmara e do Senado, muitos senadores e deputados, além de dirigentes dos partidos, principalmente o PT, assim difícil é a missão do Levy com o seu 1, 2, 3.
Vai faltar o pronto, e muito mais.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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