Semana de 05 a 11 de outubro de 2015
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Caro leitor, enquanto o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, projeta os passos mágicos (1, 2, 3...) para que a economia brasileira volte a crescer, a atividade econômica ruma para o abismo.
A indústria automobilística continua no “porão do fundo do poço”. A queda das vendas em 2015 será de 27,4% e a produção cairá 23,2%, uma estimativa bastante distante da estabilidade das vendas e do crescimento da produção de 4% previstas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no início do ano.
Segundo a Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção da indústria de bens de capital encolheu 7,6%, em agosto, comparada a julho. No acumulado até agosto, a fabricação do setor caiu 22,4%, o que significa retardamento dos investimentos produtivos.
Para a inflação o cenário é tenebroso. O IBGE apurou que a inflação cresceu 0,54% em setembro. No acumulado anual, o índice alcançou 7,64% e ultrapassará 10% ao final de 2015.
Todas as projeções anunciadas para a atividade econômica brasileira preveem queda em torno de 3%. A Confederação Nacional da Indústria em seu Informe Conjuntural prevê queda de 2,9% do PIB em 2015 e de 6,1% da produção industrial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima contração do PIB de 3% e o Banco Mundial prevê queda de 2,58%.
A apreensão em torno dos rumos da economia mundial é crescente. O economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld alertou: “Seis anos depois de o mundo ter saído de sua mais ampla e profunda recessão do pós-guerra, o cálice sagrado de uma expansão global robusta e sincronizada permanece ilusório”.
A desaceleração dos países emergentes, em especial da China, põe o mundo em alerta. A economia chinesa, prevê o FMI, crescerá 6,8% este ano e a queda de sua demanda continuará afetando negativamente o preço das commodities. A enxurrada de dinheiro derivada dos “quantitative easing” americano e europeu, aumentou o endividamento das empresas não financeiras e os riscos de falência, não só no mundo emergente, mas também nos países desenvolvidos, aumentou.
Nem mesmo os melhores exemplos se sustentam. A Alemanha, maior economia da Europa, começa a dar sinais de arrefecimento. As exportações alemãs caíram 5,2% e as importações caíram 3,1%, em setembro, comparado a agosto. As encomendas industriais e a produção interna caíram. A previsão para o crescimento alemão passou de 2,1% para 1,8%.
Maus sinais vêm também da economia americana. A criação de empregos, em setembro, foi de 142 mil postos, abaixo dos 200 mil esperados. O ganho dos trabalhados ficou estável e a inflação continua baixa e não chegará a 2% este ano.
Com sinais tão ruins, a projeção de crescimento do FMI para os países desenvolvidos é de 2% neste ano e 2,2% no ano que vem.
Enquanto isso, os Estados Unidos, Japão e dez outros países que são banhados pelo Oceano Pacífico, lançaram um acordo histórico, com o objetivo de diminuir as barreiras comerciais a bens e serviços e a determinar regras para o comércio.
A Parceria Transpacífico, abrirá mercados agrícolas, endurecerá normas de propriedade intelectual de empresas farmacêuticas e de tecnologia, criando um bloco econômico que desafiará a influência da China. Em seu discurso, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deixou claro: “Não podemos deixar países como a China escreverem as regras da economia global.”
No momento em que os Estados Unidos se protegem da China com a Parceria Transpacífico, a China determina os rumos para uma nova recessão mundial, que poderá ocorrer mesmo antes de termos superado a última.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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