quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Rabo preso

Semana de 12 a 18 de outubro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Os escândalos das supostas contas suíças do presidente da Câmara continuam ocupando as manchetes de quase todos os meios de comunicação do país. A iminência de um vergonhoso possível acordo entre o PT e ele, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o intuito de salvar o mandato da presidente Dilma Rousseff, implicaria na completa perda de confiabilidade nas instituições nacionais. Depois da decisão do STF de que o arquivamento ou prosseguimento dos pedidos de impeachment seria decisão monocrática do presidente da Câmara, a maré mudou para Cunha e para a oposição. O impeachment ficou um pouco mais distante, pelo menos num primeiro momento.
Em relação à economia, o índice de atividade econômica do banco central, IBC-BR, recuou 0,76%, em agosto, ante julho, e 2,6% nos últimos 12 meses, colocando por terra o prognóstico do governo, no começo do ano, que chegou a apontar o segundo semestre como o momento inicial da recuperação econômica. A expectativa era de que a confiança dos agentes econômicos seria retomada e que tudo viria de acordo com a receita de bolo: ajuste – retomada da confiança – crescimento.
Neste ponto as críticas são feitas pelo professor da Unicamp, Pedro Rossi, que ao abordar a receita acima exposta, tece o seguinte comentário: “não se trata, contudo, de negar o papel das expectativas no crescimento econômico, mas de questionar seus mecanismos de formação. Um empresário não investe porque o governo fez ajuste fiscal, mas quando há expectativa de demanda e lucratividade. Se o horizonte é de contração da demanda e subida dos juros, não há motivos para investir.” E conclui da seguinte forma: “historicamente, as evidências de sucesso de um ajuste contracionista são muito controversas. O próprio FMI vem questionando a hipótese da "contração fiscal expansionista" e recomenda estratégias de ajuste graduais em detrimento de terapias de choque, como a brasileira”.
A elevada taxa de juros no país parece ter encontrado um limite. Embora não haja consenso de que se tenha atingido ou não a chamada “dominância fiscal” já é disseminado o entendimento de que uma nova alta da taxa Selic traria um impacto negativo cujo efeito seria superior ao controle da inflação corrente, uma vez que pioraria as contas públicas. A elevação dos juros traria um aumento da relação dívida/PIB, o que geraria uma desconfiança, nos investidores estrangeiros, sobre a capacidade de o país honrar com suas dívidas, fazendo com que o real se desvalorizasse. O final seria um efeito negativo sobre a inflação dos anos de 2016 e 2017. Diante desta situação, a expectativa é de que a taxa básica de juros seja mantida no patamar atual. De qualquer forma, a indústria nacional agradece.
Internacionalmente a China continua sendo o centro das atenções. O país, que vinha sendo o motor do crescimento global, coloca em xeque, principalmente, o crescimento de países emergentes, como o Brasil. Cada novo dado negativo divulgado desencadeia revisões no crescimento do próprio país e daqueles com quem possui fortes relações comerciais. O risco maior seria uma queda para abaixo de 6%, o que ainda não aparece no radar das autoridades do país.
Em Brasília, a vergonhosa relação entre a situação, a oposição e Eduardo Cunha, revela a indecente briga de interesses que move a política nacional. O governo não ousa pedir seu afastamento com medo de que ele dê prosseguimento aos pedidos de impeachmentda presidente. A oposição não se atreve a fazer o mesmo porque colocaria todo o esforço de sua campanha pela saída de Dilma Rousseff por água abaixo. E no meio de tudo isso, Cunha usa de seu poder na situação para se manter no cargo.
O mais estranho é a posição tomada pelos diversos grupos que se mobilizaram contra a corrupção e a favor do impeachment da presidente e que tinham como principal palavra de ordem o suposto envolvimento do governo no escândalo da Petrobras. Nas próximas manifestações Cunha será poupado, pelo mesmo motivo que está sendo poupado pela oposição. Parece que a cruzada contra a corrupção não é tão firme assim, e o que realmente importa é o lado onde se encontra o possível corrupto. Se ele defender os nossos interesses, tudo bem, “ele rouba, mas faz”. É dos nossos.

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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