quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Recessão e inflação: a tragédia do Copom

Semana de 19 a 25 de outubro de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

O Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC) responsável pela política monetária, em sua reunião da quarta feira da semana passada, resolveu não elevar a taxa de juros de referência Selic, mantendo-a nos atuais 14,25% anuais (a maior do mundo). Segundo os tradutores do coponês, o BC mudou sua política adiando o plano de fazer convergir a inflação para a meta de 4,5% ao ano, já em 2016. O comunicado divulgando a notícia informou que a taxa será mantida “por um período suficientemente prolongado” e que este é o caminho para “a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política monetária”. Dizem os entendidos em “coponês” que isto significa cerca de dois anos. Comenta-se que o BC está preocupado com a desaceleração da economia, o aumento do desemprego, a queda na produção e nas vendas, ou seja, não há excesso de demanda, mas sim excesso de produção o que torna a inflação observada um mistério e insensível ao aumento dos juros. A elevação dos preços observada é estranha e inexplicável. Para este problema a teoria econômica oficial e o BC não têm solução. Não querem admitir que estamos novamente diante da estagflação, inflação com estagnação.
Nestas circunstâncias, a ação do Levy com sua austeridade fiscal, sacrificando os programas sociais e os direitos dos trabalhadores, só contribui ainda mais para o quadro recessivo além de ampliar o descrédito do governo.
Com efeito, os dados continuam revelando o caminho para o fundo do poço. A Ford divulgou um relatório mostrando que, nos últimos quatro anos a indústria de veículos perdeu R$41,9 bilhões no faturamento, cortou US$3,6 bilhões de remessas para suas matrizes e deixou de vender 1,1 milhão de veículos. Roberto Cortes, presidente da MAN, afirmou que a indústria de veículos comerciais pesados opera com ociosidade superior a 70%. Segundo a Confederação Nacional da |Indústria (CNI), o uso da capacidade instalada na indústria em geral, em agosto, foi de 77,9%, o mais baixo desde janeiro de 2003. Entre janeiro e agosto, o numero de horas trabalhadas caiu 9,2%. A renda média do trabalhador, nos últimos 12 meses, caiu 3,5%. Também de janeiro a agosto o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) calcula que o emprego industrial caiu 5,6% e a produção 6,9%.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimac), o setor terá, em 2015, o terceiro ano de queda no faturamento. No ano passado foram cortados 13 mil empregos, ou seja, 3,3% do pessoal ocupado e, em 2015 já perderam o emprego 7% do total dos empregados.
A Sondagem Econômica Industrial do Rio de Janeiro feita pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostrou que o Índice de confiança do Empresário Industrial (Icei-RJ) chegou a 34 pontos, em outubro (Índice de 0 a 100. Abaixo de 50 indica pessimismo), o pior valor desde 2005.
Não há nenhum dado que aponte a possibilidade de reversão da tendência de crise. E não podia ser diferente. O Brasil entrou atrasado na crise mundial (a marolinha do Lula), depois de serem esgotados todos os recursos da política econômica anticíclica do ex-ministro Mantega. Agora pagamos o preço. O problema é que com a ocorrência da inflação, em simultâneo com a desaceleração e levando de quebra a política de austeridade fiscal do Levy, tudo se agrava.
Com o desemprego e a redução da renda e do consumo não parece que a reversão do ciclo possa originar-se no mercado interno. E para nossa infelicidade há uma nova ameaça de crise pairando sobre o mundo.
Se acrescentarmos a corrupção descoberta a cada nova investigação, o descrédito do PT e do governo, a fúria histérica e golpista da oposição de direita e a canalhice dos políticos encastelados no congresso nacional, comandados por um gangster, teremos o quadro em que a presidente Dilma é obrigada a mover-se, apanhando de todos os lados e incapaz de extirpar o germe da roubalheira que rói as entranhas do seu governo.
Difícil o destino da presidente!

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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