quarta-feira, 10 de maio de 2017

Queda da produção industrial em março reforça cenário de crise


Semana de 01 a 07 de maio de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, o governo já determinou, sem qualquer base na realidade, que a única alternativa de salvação para o Brasil e sua economia está nas reformas. Alguns passos já foram dados. O projeto de terceirização foi aprovado, a Reforma Trabalhista segue no Senado e o governo continua a fazer as mais descaradas negociatas para conseguir os 308 votos para a aprovação da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. Empresários, economistas e o governo (amparado por um Congresso corrupto) fazem coro tentando convencer a população de que são os interesses das pessoas, e não os seus, que estão sendo garantidos mediante o arrocho nas contas e a flexibilização do mercado de força de trabalho.
O presidente Michel Temer minimizou a greve geral do dia 28 de abril e já afirmou que não recuará nas reformas. As centrais sindicais prometeram uma nova greve no mês de maio. Para recuperar sua popularidade e gerar a impressão de que resultados positivos já estariam sendo observados, vale tudo para o governo. Vale, inclusive, refazer os cálculos da Pesquisa Mensal do Comércio e da Pesquisa Mensal dos Serviços de janeiro. As vendas do varejo restrito saltaram de uma queda de 0,7% para crescimento de 5,5% e os serviços de uma queda de 2,2% para alta de 0,2%.
Mas, a realidade econômica não perdoa. E os analistas continuam “intrigados”, pois a recuperação não se consolida. A mais recente justificativa para o atraso na decolagem econômica vem do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE). Para o órgão, há ainda um elevado grau de incerteza, então as empresas não investem, não contratam, e os consumidores não compram. As incertezas seriam reduzidas, diz o governo, aplaudido pela maioria dos economistas, se as infames reformas fossem aprovadas. Assim, como num passe de mágica, teríamos aumento dos investimentos e do consumo.
Para a maioria dos analistas, a retomada econômica, embora lenta, já está em curso. Mas, a depender dos resultados de uma das fontes do investimento nacional, a reanimação não irá acontecer tão cedo. Segundo o Ministério da Fazenda, em virtude do contingenciamento, o investimento público caiu 61% no primeiro trimestre, quando comparado ao primeiro trimestre do ano passado. Já os investimentos privados acumularam queda de 25,9% nos últimos três anos. No que se refere a um período mais recente, contudo, o Indicador Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de Formação Bruta de Capital Fixo, em fevereiro, elevou-se 3,4% em relação a janeiro, quando havia caído 5,3%. O Ipea estima alta de apenas 0,1% do investimento em 2017.
Ouvidos pelo Jornal Valor Econômico, os economistas Armando Castelar, Daniel Leichsenring e Luiz Carlos Mendonça de Barros são unânimes em afirmar que a reanimação já está ocorrendo e que as incertezas políticas seriam o único impasse para que a fase se concretize. Preferimos observar outro fato da realidade, pois um novo balde de água fria foi jogado nestas previsões.
A “surpresa” da semana foi a queda de 1,8% da produção industrial em março, comparado a fevereiro deste ano. A Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física do IBGE apurou queda em 15 dos 24 setores pesquisados. Na indústria de transformação, as maiores quedas aconteceram nos setores de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-23,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-7,5%) e combustíveis (-3,3%). Na apuração por categorias de uso, houve queda generalizada. A produção de bens de capital e de bens intermediários caiu 2,5%, a produção de bens duráveis desabou 8,5% e a de bens semiduráveis e não duráveis, 1,8%. O faturamento real do setor aumentou 2,4% em março, mas, pelo terceiro mês consecutivo, o emprego caiu, recuando em 0,2%.
Dessazonalizada, a produção industrial cresceu 0,7% quando comparada ao trimestre anterior, número que ficou bem abaixo das expectativas que ultrapassavam 1%. Esperamos que o governo não “recalcule” os números da indústria assim como o fez em janeiro com a Pesquisa Mensal do Comércio e a Pesquisa Mensal dos Serviços. Se assim o fizer, irá definitivamente enterrar a credibilidade do IBGE para mascarar os pífios resultados do primeiro trimestre.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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