Rosângela Palhano Ramalho
[i]
No rescaldo da delação da JBS, o clima no governo
continua tenso. A cada sinal dado, mesmo que ínfimo, os resultados da
conjuntura econômica são comemorados. Mas, não há sinais concretos de retomada
e a divulgação dos áudios do empresário da JBS soterrou os precoces festejos. O
país está em compasso de espera. À espera de um nome de consenso para
substituir o então presidente Temer, e também à espera do julgamento da
cassação da chapa Dilma-Temer. Enquanto isso, o governo torce para que o homem
da mala, o deputado Rocha Loures, não delate.
Os novos escândalos políticos afetaram de imediato
as negociações realizadas na Bolsa de Valores e as cotações da taxa de câmbio.
Foi o caos. Os indicadores de confiança foram abaixo e após uma semana, os
efeitos ainda repercutem nas projeções. O Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) que já apresentava uma previsão de queda do
Produto Interno Bruto de 0,1%, no segundo trimestre, e de baixo crescimento de
0,4%, para a economia, neste ano, reforça que, com este novo evento, há sérias
ameaças à lenta recuperação que se desenhava.
Segundo o Instituto de Finanças Internacionais
(IIF), as incertezas quanto à aprovação das reformas, pode comprometer a queda
da taxa de juros que estava em curso. O mercado recuou e passou a prever uma
queda menor para os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária
(Copom).
A 4E Consultoria diminuiu as suas previsões para o
PIB, em 2017 e 2018. Para 2017, a queda do PIB foi alterada de -0,1% para -0,3%
e, para o ano que vem, o crescimento foi revisto de 2,5% para 1,2%.
O mais grave é que, mesmo sem registrar os efeitos
da delação, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao divulgar os dados de
abril, demonstrou que a indústria ainda não se recuperou da recessão,
desmentindo as afirmações do presidente Temer. O indicador da produção caiu de
54,8 pontos, em março, para 41,6, em abril. No mesmo período, o indicador de
emprego caiu de 47,5 para 47 pontos, o índice de evolução dos estoques subiu de
49,1 para 50,9 pontos e o índice de utilização da capacidade instalada da
indústria caiu de 65% para 63%.
A única estatística positiva para o PIB foi a
estimativa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
para a produção agrícola: um crescimento em torno de 6% neste ano.
E por falar no IBGE, o presidente do órgão,
economista Paulo Rabello de Castro, ao tentar explicar as últimas lambanças
referentes às pesquisas de Comércio e de Serviços, afirmou que “... não houve
uma mudança de metodologia, pelo contrário, houve uma observância da
metodologia.” Em entrevista ao Jornal Valor Econômico, frisou que uma amostra
menor que a normal, o resultado ruim do mês de dezembro e a não retropolação do
índice, resultou numa melhoria dos índices da Pesquisa Mensal de Comércio em
janeiro. Entenderam?
Em relação à conjuntura, Rabello de Castro vai na
contramão da percepção do governo ao afirmar que o ambiente econômico “não
melhorou”. Quando questionado se as mudanças nas pesquisas foram encomendadas
para provocar um sentimento positivo quanto à evolução econômica, esbravejou:
“Que se dane o governo. Eu não ‘tô’ aqui nem para produzir dados bons nem dados
ruins para ninguém. Os dados são o que são”.
Para tentar reverter os estragos, o presidente Temer
reuniu o seu ministério suplicando por “agendas positivas”. O desbloqueio do
Orçamento foi o primeiro ato. Foram liberados mais de R$ 3,1 bilhões para
gastos este ano. Três medidas provisórias garantiram a folga: a renegociação
das dívidas municipais e estaduais para com a Previdência, a reprogramação das
outorgas dos aeroportos e a regularização de débitos não tributários com
autarquias e fundações.
No entanto, os números continuam a mostrar que a
economia não está “colaborando”. Não haverá “agenda positiva” que neutralize ou
reverta o estrago provocado pela delação da JBS.
Só um milagre...
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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