quarta-feira, 24 de maio de 2017

Fez-se o caos


Semana de 15 a 21 de maio de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Com o estouro da bomba da delação da JBS os dados sobre a economia desapareceram dos noticiários. Até o berreiro do governo exaltando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), no primeiro trimestre, em comparação ao quarto trimestre do ano passado, cessou. A euforia foi provocada pela divulgação, pelo Banco Central (BC), do “Índice de Atividade Econômica do Banco Central” (IBC-Br), considerado um indicador antecedente das variações do PIB. Este índice apontou um crescimento de 1,12% para o PIB do trimestre. O governo não disse que este índice é uma estimativa e não a realidade. Também não disse que este número foi afetado pela mudança da metodologia nos cálculos que alterou para cima os valores.
A Fundação Getúlio Vargas também divulgou o seu “Monitor do PIB”, outra estimativa para o mesmo indicador, sem avisar que este número também foi afetado pela mesma alteração nos cálculos. Ninguém comentou também que este elevado número foi influenciado principalmente pelo crescimento do agronegócio (safras recordes) com uma expansão de 11,3%, pela indústria extrativa mineral, que cresceu 2,62% e pelas exportações, que contribuíram com 2,78%. Internamente, porém, a situação revelou outra realidade: o consumo das famílias caiu 0,36%, o do governo, 0,23% e a formação do capital fixo (indicador dos investimentos) recuou 1,93%. Nada a comemorar, portanto. Estamos voltando à condição de uma economia primário exportadora. Isto para não falar em 14,2 milhões de desempregados, resultado de uma taxa de desemprego de 13,7%.
Outro dado comemorado com foguetes pelo governo foi a criação de 59,8 mil empregos, no mês de abril, depois de um número negativo em março. Mas, segundo os economistas do Ibre-FGV, o mês de abril é sempre o mês mais favorável para a criação de empregos e costuma apresentar um saldo que ultrapassa os 100 mil empregados.
Se a economia não apresenta sinais evidentes de recuperação, mas pequenos indícios, a política econômica do governo provoca estragos nos meios empresariais. O câmbio desvalorizado com o dólar mais barato favoreceu as importações, prejudicando a produção nacional. Qualquer início de recuperação vaza a demanda para o exterior através das importações. O discurso do secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, em Washington, provocou a ira da Confederação Nacional de Indústria (CNI), manifestada em uma carta enviada ao ministro Meirelles. No discurso, o secretário proclamou a necessidade de abrir as fronteiras e eliminar as barreiras alfandegárias para as importações o que expõe a indústria nacional à concorrência desleal.
Sem o apoio na população, com índice de aprovação menor que 10%, o governo Temer só conta com uma maioria no congresso, mantida à custa do suborno e da corrupção. Com o aumento do descontentamento da classe empresarial, ao governo só resta a aprovação das reformas, que tanto agradam ao patronato, apresentadas como a salvação do país.
É neste delicado momento que estoura a bomba das delações dos irmãos Batista da JBS. Pela primeira vez aparece claramente o que o jornalista Ricardo Boechat chama de “batom na cueca”. Foram apanhados desta vez, os ladrões, o planejamento do roubo e o dinheiro com mala e tudo, e em notas. Caiu a máscara do Michel Temer e do PSDB, com o seu líder máximo Aécio Neves apanhado negociando um suborno de dois milhões de reais. Ambos foram flagrados, não com o dinheiro na cueca, como era costume, mas na mala, pois o volume era muito grande.
Para o Aécio, suspensão do mandato de senador e abertura de investigação e para o Temer abertura de processo de investigação.
Escândalo, correria de ministros e políticos, reuniões, convocação de advogados e especialistas, o Planalto está em polvorosa juntamente com o PSDB, PMDB e DEM.
O reflexo na economia foi imediato. O “mercado” entrou em pânico. A queda na bolsa ultrapassou os 10% acionando o “circuit break”, sistema automático que desliga o pregão quando a queda do Ibovespa ultrapassa os 10% e que só havia sido acionado na grande crise de 2008. O dólar teve a maior alta desde 1999. As empresas suspenderam a oferta de ações e emissões de bônus. Os fundos de investimentos anunciam prejuízos. O “mercado” mostra sinais de desespero: adeus reformas.
Estamos diante de um governo ilegítimo, impopular, corrupto, ameaçado de impeachment e obrigado a aprovar reformas que agridem toda a população, por um congresso desmoralizado e igualmente corrupto.
Tudo isso em um momento em que a economia patina, não conseguindo sair da maior crise que o país viveu nos últimos anos.
A política domina a economia. Sem uma solução política a situação econômica tenderá a deteriorar-se.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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