Nelson Rosas Ribeiro[i]
Com o estouro da bomba da delação da JBS os
dados sobre a economia desapareceram dos noticiários. Até o berreiro do governo
exaltando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), no primeiro trimestre,
em comparação ao quarto trimestre do ano passado, cessou. A euforia foi
provocada pela divulgação, pelo Banco Central (BC), do “Índice de Atividade
Econômica do Banco Central” (IBC-Br), considerado um indicador antecedente das
variações do PIB. Este índice apontou um crescimento de 1,12% para o PIB do
trimestre. O governo não disse que este índice é uma estimativa e não a
realidade. Também não disse que este número foi afetado pela mudança da
metodologia nos cálculos que alterou para cima os valores.
A Fundação Getúlio Vargas também divulgou o
seu “Monitor do PIB”, outra estimativa para o mesmo indicador, sem avisar que
este número também foi afetado pela mesma alteração nos cálculos. Ninguém
comentou também que este elevado número foi influenciado principalmente pelo
crescimento do agronegócio (safras recordes) com uma expansão de 11,3%, pela
indústria extrativa mineral, que cresceu 2,62% e pelas exportações, que
contribuíram com 2,78%. Internamente, porém, a situação revelou outra
realidade: o consumo das famílias caiu 0,36%, o do governo, 0,23% e a formação
do capital fixo (indicador dos investimentos) recuou 1,93%. Nada a comemorar,
portanto. Estamos voltando à condição de uma economia primário exportadora.
Isto para não falar em 14,2 milhões de desempregados, resultado de uma taxa de
desemprego de 13,7%.
Outro dado comemorado com foguetes pelo
governo foi a criação de 59,8 mil empregos, no mês de abril, depois de um
número negativo em março. Mas, segundo os economistas do Ibre-FGV, o mês de
abril é sempre o mês mais favorável para a criação de empregos e costuma
apresentar um saldo que ultrapassa os 100 mil empregados.
Se a economia não apresenta sinais
evidentes de recuperação, mas pequenos indícios, a política econômica do
governo provoca estragos nos meios empresariais. O câmbio desvalorizado com o
dólar mais barato favoreceu as importações, prejudicando a produção nacional.
Qualquer início de recuperação vaza a demanda para o exterior através das
importações. O discurso do secretário de Assuntos Internacionais do Ministério
da Fazenda, em Washington, provocou a ira da Confederação Nacional de Indústria
(CNI), manifestada em uma carta enviada ao ministro Meirelles. No discurso, o
secretário proclamou a necessidade de abrir as fronteiras e eliminar as
barreiras alfandegárias para as importações o que expõe a indústria nacional à
concorrência desleal.
Sem o apoio na população, com índice de
aprovação menor que 10%, o governo Temer só conta com uma maioria no congresso,
mantida à custa do suborno e da corrupção. Com o aumento do descontentamento da
classe empresarial, ao governo só resta a aprovação das reformas, que tanto
agradam ao patronato, apresentadas como a salvação do país.
É neste delicado momento que estoura a
bomba das delações dos irmãos Batista da JBS. Pela primeira vez aparece
claramente o que o jornalista Ricardo Boechat chama de “batom na cueca”. Foram
apanhados desta vez, os ladrões, o planejamento do roubo e o dinheiro com mala
e tudo, e em notas. Caiu a máscara do Michel Temer e do PSDB, com o seu líder
máximo Aécio Neves apanhado negociando um suborno de dois milhões de reais.
Ambos foram flagrados, não com o dinheiro na cueca, como era costume, mas na
mala, pois o volume era muito grande.
Para o Aécio, suspensão do mandato de
senador e abertura de investigação e para o Temer abertura de processo de
investigação.
Escândalo, correria de ministros e
políticos, reuniões, convocação de advogados e especialistas, o Planalto está
em polvorosa juntamente com o PSDB, PMDB e DEM.
O reflexo na economia foi imediato. O “mercado”
entrou em pânico. A queda na bolsa ultrapassou os 10% acionando o “circuit
break”, sistema automático que desliga o pregão quando a queda do Ibovespa
ultrapassa os 10% e que só havia sido acionado na grande crise de 2008. O dólar
teve a maior alta desde 1999. As empresas suspenderam a oferta de ações e
emissões de bônus. Os fundos de investimentos anunciam prejuízos. O “mercado”
mostra sinais de desespero: adeus reformas.
Estamos diante de um governo ilegítimo,
impopular, corrupto, ameaçado de impeachment e obrigado a aprovar reformas que
agridem toda a população, por um congresso desmoralizado e igualmente corrupto.
Tudo isso em um momento em que a economia
patina, não conseguindo sair da maior crise que o país viveu nos últimos anos.
A política domina a economia. Sem uma
solução política a situação econômica tenderá a deteriorar-se.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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