Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, o governo já determinou, sem qualquer
base na realidade, que a única alternativa de salvação para o Brasil e sua
economia está nas reformas. Alguns passos já foram dados. O projeto de
terceirização foi aprovado, a Reforma Trabalhista segue no Senado e o governo
continua a fazer as mais descaradas negociatas para conseguir os 308 votos para
a aprovação da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. Empresários,
economistas e o governo (amparado por um Congresso corrupto) fazem coro tentando
convencer a população de que são os interesses das pessoas, e não os seus, que
estão sendo garantidos mediante o arrocho nas contas e a flexibilização do
mercado de força de trabalho.
O presidente Michel Temer minimizou a greve geral do
dia 28 de abril e já afirmou que não recuará nas reformas. As centrais
sindicais prometeram uma nova greve no mês de maio. Para recuperar sua
popularidade e gerar a impressão de que resultados positivos já estariam sendo
observados, vale tudo para o governo. Vale, inclusive, refazer os cálculos da
Pesquisa Mensal do Comércio e da Pesquisa Mensal dos Serviços de janeiro. As
vendas do varejo restrito saltaram de uma queda de 0,7% para crescimento de
5,5% e os serviços de uma queda de 2,2% para alta de 0,2%.
Mas, a realidade econômica não perdoa. E os
analistas continuam “intrigados”, pois a recuperação não se consolida. A mais
recente justificativa para o atraso na decolagem econômica vem do Instituto
Brasileiro de Economia (IBRE). Para o órgão, há ainda um elevado grau de
incerteza, então as empresas não investem, não contratam, e os consumidores não
compram. As incertezas seriam reduzidas, diz o governo, aplaudido pela maioria
dos economistas, se as infames reformas fossem aprovadas. Assim, como num passe
de mágica, teríamos aumento dos investimentos e do consumo.
Para a maioria dos analistas, a retomada econômica,
embora lenta, já está em curso. Mas, a depender dos resultados de uma das
fontes do investimento nacional, a reanimação não irá acontecer tão cedo.
Segundo o Ministério da Fazenda, em virtude do contingenciamento, o
investimento público caiu 61% no primeiro trimestre, quando comparado ao
primeiro trimestre do ano passado. Já os investimentos privados acumularam
queda de 25,9% nos últimos três anos. No que se refere a um período mais
recente, contudo, o Indicador Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
de Formação Bruta de Capital Fixo, em fevereiro, elevou-se 3,4% em relação a
janeiro, quando havia caído 5,3%. O Ipea estima alta de apenas 0,1% do
investimento em 2017.
Ouvidos pelo Jornal Valor Econômico, os economistas
Armando Castelar, Daniel Leichsenring e Luiz Carlos Mendonça de Barros são
unânimes em afirmar que a reanimação já está ocorrendo e que as incertezas
políticas seriam o único impasse para que a fase se concretize. Preferimos
observar outro fato da realidade, pois um novo balde de água fria foi jogado
nestas previsões.
A “surpresa” da semana foi a queda de 1,8% da
produção industrial em março, comparado a fevereiro deste ano. A Pesquisa
Industrial Mensal – Produção Física do IBGE apurou queda em 15 dos 24 setores
pesquisados. Na indústria de transformação, as maiores quedas aconteceram nos
setores de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-23,8%), veículos
automotores, reboques e carrocerias (-7,5%) e combustíveis (-3,3%). Na apuração
por categorias de uso, houve queda generalizada. A produção de bens de capital
e de bens intermediários caiu 2,5%, a produção de bens duráveis desabou 8,5% e
a de bens semiduráveis e não duráveis, 1,8%. O faturamento real do setor
aumentou 2,4% em março, mas, pelo terceiro mês consecutivo, o emprego caiu,
recuando em 0,2%.
Dessazonalizada, a produção industrial cresceu 0,7%
quando comparada ao trimestre anterior, número que ficou bem abaixo das
expectativas que ultrapassavam 1%. Esperamos que o governo não “recalcule” os
números da indústria assim como o fez em janeiro com a Pesquisa Mensal do
Comércio e a Pesquisa Mensal dos Serviços. Se assim o fizer, irá
definitivamente enterrar a credibilidade do IBGE para mascarar os pífios
resultados do primeiro trimestre.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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