terça-feira, 2 de maio de 2017

Retomada não está ocorrendo






Semana de 10 a 16 de março de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
O Sinistro Meirelles ataca novamente. Ele sempre esquece as previsões anteriores que fez e, embora teime que a economia está em recuperação, promete que o emprego só será retomado no segundo semestre. Para ele, isso é normal, pois costuma haver sempre uma defasagem na recuperação do emprego em relação à da economia. Meirelles fez essa afirmação ao voltar de Washington onde andou conspirando com “grupos de investidores internacionais” nos últimos dias. Incrédulo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) promete enviar técnicos à Brasília para verificar, in loco, as ações encomendadas. O FMI preocupa-se com as concessões feitas na reforma da Previdência, entre outras. Por outro lado elogia a urgência adotada para as reformas trabalhistas.
O pronunciamento sobre o emprego veio em decorrência da divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD Contínua) feita na sexta-feira passada. Os desempregados que eram 13,5 milhões, em fevereiro, aumentaram para 14,2 milhões no trimestre até março. Este número é 14,9% superior ao trimestre anterior terminado em dezembro. É um recorde histórico desde 2012. Claro que a culpa não é da política econômica do governo Temer, mas da herança maldita dos governos anteriores. Além disso, há uma desculpa teórica. Trata-se de uma “recuperação sem emprego”, ou melhor, uma “jobless recovery”. Esta é uma novidade dos tempos atuais.
Para os analistas, as dúvidas sobre a recuperação permanecem. Os dados são contraditórios e a dificuldade aumenta com as alterações que estão ocorrendo no IBGE e Ipea. Há denúncias de manipulação dos cálculos para atender à demanda do governo de mostrar a recuperação prometida.
Mas a realidade continua embaraçosa. A arrecadação federal, por exemplo, depois de dois meses de alta voltou a cair, em março, atingindo o menor patamar desde 2010. A declaração do IRPJ/contribuição Social sobre o lucro líquido (CSLL) dos bancos caiu 52,8%, comparada a 2016. A arrecadação do PIS/Cofins teve queda de 4% no primeiro trimestre da mesma forma que o Cide-combustíveis e o IOF.
No setor bancário começam a cair os juros e a subir o número de operações. Estas alterações, embora consideradas incipientes, são motivo de comemorações. Em março, ante fevereiro, o estoque dos empréstimos e financiamentos cresceu 0,2% embora em 12 meses este número mostre recuo de 3,5%. Os dados do BNDES não são tão animadores apesar do banco falar em sinais insipientes de recuperação na demanda por recursos do banco. Mas os dados mostram que, em comparação com 2016 esta demanda foi 17% menor. As consultas caíram 10% e os enquadramentos, 17%.
Voltando à economia, o setor de papelão e celulose comemora sinais regulares de retomada, mas o setor siderúrgico reage fortemente contra a política do governo de recisão das cláusulas do conteúdo local para os financiamentos e compras estatais. O presidente executivo do Instituto do Aço Brasil propõe que o governo assuma a defesa da indústria nacional imitando os EUA com o lema “buy brazilian”. Marco Polo Lopes afirma taxativamente que a “Retomada não ocorreu, não está ocorrendo e não ocorrerá ainda em 2017”.
Dentro do próprio governo a Caixa Econômica Federal manifesta sua preocupação com a reforma trabalhista, pois pode reduzir a receita do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) prejudicando o financiamento da casa própria com consequências para a construção civil.
Fora do governo as manifestações se multiplicam. A greve geral do dia 28 uniu todas as centrais sindicais de trabalhadores, a Igreja católica pela voz da CNBB e de muitos bispos arcebispos e padres, várias igrejas evangélicas, os movimentos sociais e populares, artistas, profissionais liberais, professores e muitas empresas.
Tudo isso ocorre quando a desaprovação ao governo Temer atinge um ponto ainda mais elevado. Segundo a Ipsos, em pesquisa realizada no início de abril, 87% dos brasileiros desaprovam a forma de Temer governar. A aprovação do governo caiu de 17% para 10%. Apenas 4% da população julga a administração boa ou ótima enquanto 75% a consideram ruim ou péssima.
O desespero do governo é visível. Só lhe resta o apoio de parte da classe empresarial e de um congresso comprado, considerado o mais corrupto de todos os tempos. O próprio governo, ameaçado pela Lava-Jato, afoga-se na corrupção. Para mostrar serviço precisa aprovar urgentemente as suas reformas encomendadas pelos seus financiadores e que representam o maior retrocesso nas conquistas obtidas pelos trabalhadores nos últimos 70 anos.
Se o sistema aguentar até 2018 é preciso que o povo lhes dê o troco. Será a “volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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