quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Apagão Econômico

Semana de 17 a 23 de novembro de 2008


Talvez, ao cruzar com um pedinte na rua e negar-lhe algumas moedas, o peso na consciência tenha impedido um sono tranqüilo de algum cidadão. O que dizer do governo americano que tem negado apenas US$ 25 bilhões aos pedintes presidentes da General Motors, da Chrysler, e da Ford? Neste caso, o apelo ganhou o coral bastante afinado dos parlamentares do partido do presidente eleito e salvador da pátria, Barack Obama. Os democratas estão pressionando para que parte da verba do plano Paulson, secretário do Tesouro americano, seja utilizada nas medidas de apoio à economia, sobretudo ao setor automobilístico, ameaçado de falência generalizada. “A crise do nosso sistema financeiro já se alastrou para o resto da economia. Vai demorar um pouco antes que o crédito seja reativado e conserte o sistema financeiro, algo essencial para a recuperação da economia”, avisou Paulson em discurso aos parlamentares.
Dos US$ 700 bilhões liberados pelo governo americano através do Plano Paulson já foram gastos US$ 250 bilhões, dos quais US$ 200 bilhões com os bancos e US$ 50 bilhões com a seguradora AIG. Realmente é uma decisão muito difícil para o governo optar entre a ajuda aos necessitados banqueiros ou aos necessitados do setor automobilístico, que fazem o sacrifício de viajar de jatinho particular para pedir uns míseros bilhões de dólares. O pior é que todo esse dinheiro será insuficiente para estimular a economia, pois, para os especialistas, são necessários mais US$ 1,2 trilhões.
O corajoso presidente da Repsol YPF, empresa espanhola, queixou-se, no entanto, da postura intervencionista de alguns países. Sem citar nomes, lamentou que “ainda hoje usam a intervenção do Estado para compensar, para mitigar as forças da livre economia.” Para ele a América Latina continuará sendo uma fonte de crescimento mundial nos próximos anos, em grande parte, devido a sua demografia, formada por uma sociedade jovem, cosmopolita e dinâmica.
O presidente francês foi mais comedido ao criar um fundo estratégico de investimentos de € 20 bilhões (US$ 25 bilhões) para ajudar suas empresas de setores chave a enfrentarem a crise financeira mundial. “Diante da crise há duas estratégias: ou a pessoa fica trancada em casa ou enfrenta o mau tempo de forma ofensiva”, disse Sarkozy. “Reforçamos os meios das empresas, reforçamos as universidades, colocamos dinheiro a serviço do desenvolvimento, em vez de adotar políticas chamadas sociais que só servem para adiar o drama.”
Estes são acontecimentos que mostram que a economia mundial esta no meio de um tornado. A zona do euro mergulhou em sua primeira recessão em 15 anos, abrindo o caminho para maiores reduções na taxa de juros. A economia do Japão, a segunda maior do mundo, entrou em sua primeira recessão desde 2001, e o governo e os economistas dizem que a situação pode piorar. O Japão tem a mais baixa taxa básica de juros entre as 20 maiores economias do mundo e sua dívida pública ultrapassa os 180% do PIB. O maior banco japonês, o Mitsibishi UFJ Financial Group, sofreu uma queda de 61% no lucro do segundo trimestre. Já os americanos, com a atual crise, passaram a sofrer de depressão, perda de apetite, insônia e “compulsão por sandaes com calda de chocolate.” A morte do dinheiro das pessoas deixou-as de luto.
No Brasil, segundo Waldir Quadros, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas, o forte ciclo de consumo, apoiado na expansão do financiamento sujeito a “bolhas”, acabou. “O crescimento de 2004 a 2008 já acabou e esta estrutura já está em crise.” Para o presidente Luís Inácio Lula da Silva, porém, o dinheiro está sobrando tanto que anda pulando das mãos dos brasileiros. Segundo ele, a falta de dinheiro não é problema no Brasil. Aliás, para quem tem dinheiro em caixa, o presidente recomendou gastar. “Esta é a hora das pessoas aprenderem a fazer bons negócios, a comprar o carro, a televisão mais barata, sempre com cuidado de que um ser humano não pode gastar mais do que ganha.” É necessário tirar o “dinheiro do colchão”, para fazer a economia girar.
Quem é mesmo que está torcendo contra o Brasil?
E será preciso, pois 35 empresas do setor metalomecânico, fornecedoras do setor automobilístico de Curitiba e região, vão dar férias coletivas para seus funcionários em dezembro, como reflexo direto da crise econômica que vem provocando paradas para o realinhamento da produção em várias montadoras de
veículos. No Paraná, a Volkswagen já deu férias coletivas para 1,8 mil dos 3,6 mil funcionários a partir deste mês, e a Renault, que tem quatro mil trabalhadores, depois de adotar o banco de horas negativo para dispensar temporariamente alguns trabalhadores, resolveu parar completamente a unidade de veículos de passeio, a partir de 2 de dezembro, até 7 de janeiro.
A General Motors do Brasil afirmou que a manutenção do quadro de empregados nas três fábricas do grupo, duas em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul, vai depender do comportamento do mercado até o final do primeiro trimestre do ano que vem. Se o mercado não reagir, a empresa poderá demitir 1,6 mil trabalhadores.
Com a queda de 20% nas vendas de automóveis e veículos comerciais, os preços dos carros novos deverão reduzir-se. “Com essa parada do setor automotivo um carro que custava R$ 30 mil não vale hoje mais que R$ 24 mil e a tendência é que o preço caia ainda mais”, segundo fontes do mercado.
A crise econômica mundial também afetou a gigante Petrobrás. Diante da queda no preço do barril no mercado internacional, a empresa adiou alguns projetos da carteira de exploração e produção. “Quando o petróleo cai de US$ 140 para US$ 60 você tem impacto na geração de caixa da empresa, que é responsável pela manutenção de projetos de curto prazo. São nesses projetos que temos que fazer ajustes”, disse José Jorge de Moraes, gerente geral de exploração e produção da estatal.
Outra alavanca do crescimento dos últimos anos da economia brasileira, o crédito, está dando sinais de que já foi atingido pela crise mundial. O crédito alcançou 36% do produto nacional. O problema é que a inadimplência passou a apresentar uma escalada preocupante, refletindo o excesso de endividamento dos últimos meses.
Apesar de todas estas evidências, existe ainda quem acredite que o pior da crise já passou...

Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br.

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