Semana de 29 dezembro de 2008 a 04 de janeiro de 2009
A redução do nível de atividade econômica mundial, a restrição ao crédito e o colapso do sistema financeiro internacional, estão afetando de maneira significativa o rendimento dos trabalhadores e o emprego. No final do ano passado, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um relatório sobre a “Desigualdade de Rendimentos na Era da Globalização”, com dados reveladores sobre o atual mundo do trabalho. Segundo o Relatório, em 51 dos 73 países pesquisados, a proporção dos salários, como parte total dos rendimentos, diminuiu, nas últimas duas décadas. A maior redução foi registrada na América Latina e no Caribe (-13%), seguida da Ásia e Pacífico (-10%) e das Economias Avançadas (-9%). Durante o mesmo período, verificou-se também que a diferença entre os 10% dos assalariados, com rendimentos mais altos e os 10%, com rendimentos mais baixos, aumentou em 70%. Somente para se ter uma idéia, em 2007, os diretores executivos das 15 maiores empresas dos Estados Unidos receberam salários 500 vezes superiores ao do trabalhador médio norte-americano, quando esta diferença, em 2003, era de 300 vezes.
Essa desigualdade entre os rendimentos é fruto da atual organização institucional das grandes corporações que dominam a economia mundial em diversos setores. Tal sistema permite que os altos executivos disponham de uma posição de negociação privilegiada dentro da empresa, enquanto que os operários de chão de fábrica ficam em uma posição debilitada, com muito pouca, ou quase nenhuma capacidade de negociação, mesmo estando organizados em sindicatos. O mesmo Relatório da OIT mostra que houve uma considerável diminuição da sindicalização, nas últimas duas décadas. Entre 1989 e 2005, a densidade de sindicados diminuiu nos 51 países pesquisados, com exceção de sete deles: Brasil, China, Hong Kong, Índia, Paraguai, Singapura e Espanha, nos quais houve um aumento no número de sindicatos. Fato que já era de se esperar, pois, excluindo a Espanha, todos os outros são países ditos emergentes, onde os trabalhadores ainda estão se organizando institucionalmente para efetuar negociações coletivas. Na Europa Central e nos demais países europeus, a densidade de sindicatos foi drasticamente reduzida. Em alguns países da antiga Europa de Leste, como República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia e Lituânia, onde, nos anos do regime socialista, havia quase 100% de filiação dos trabalhadores a algum sindicato a redução foi de mais de 50%.
Assim, várias das conquistas históricas dos trabalhadores, concretizadas em uma série de direitos trabalhistas, estão sendo simplesmente varridas do ambiente de trabalho. Um caso ilustrativo disto foi o dagrande fabricante mundial de computadores, a Dell, que, em meio à crise, “pediu” aos seus funcionários, coagidos pelo fantasma do desemprego, para tirarem cinco dias de licença não remunerada.
Desde o início da crise econômica, milhões de trabalhadores já foram demitidos pelos bancos e multinacionais do mundo inteiro. Só no Reino Unido 1,8 milhões perderam o seu trabalho, em 2008, e atualmente o governo inglês é obrigado a pagar pensões a mais de 980 mil pessoas. Nos Estados Unidos, foi eliminado 1,2 milhão de postos de trabalho, entre janeiro e novembro, e na China o número de desempregados já chega a 4% da população economicamente ativa, um nível que é considerado como crítico pelo Ministério de Recursos Humanos e Estabilidade Social do país. E o número absoluto de desempregados é provavelmente ainda maior, pois os trabalhadores imigrantes não foram computados na estatística, embora representem mais de 200 milhões de pessoas.
A OIT prevê ainda que cerca de 20 milhões de trabalhadores poderão se somar às filas do desemprego mundial, como conseqüência da crise. “Necessitamos de ações governamentais rápidas e coordenadas para evitar uma crise social que poderá ser grave, duradoura e global”, declarou Juan Somavia, diretor geral da Organização. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que o número de trabalhadores desempregados no planeta, passará, de 190 milhões, em 2007, para 210 milhões, em 2009. Com isso o número de indivíduos que vivem com menos de um dólar por dia poderá aumentar em 40 milhões e os que vivem com menos de dois dólares por
dia, em mais de 100 milhões. Somavia ressaltou ainda que as novas projeções poderiam estar subestimadas, caso os efeitos da atual contração econômica não sejam enfrentados com rapidez. Enquanto o peso da crise cai sobre a cabeça dos trabalhadores, os pacotes de ajuda as grandes empresas não param de aumentar. Estima-se uma cifra em torno de US$ 7,5 trilhões. Segundo o professor Ernesto Lozardo, da Fundação Getúlio Vargas, a ajuda financeira dos Governos já ultrapassa a casa de 12% do PIB mundial. Com muito menos seria possível combater a pobreza e investir o necessário para acabar com o aquecimento global, lembra o professor. De acordo com a ONU, seria possível exterminar a pobreza com apenas 1,5% do PIB mundial, o que demonstra, por um lado, o tamanho do desespero das autoridades governamentais na tentativa de salvar o sistema capitalista mundial e, por outro, o profundo descaso dos mesmos em relação à fome e à pobreza mundial.
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)
Arquivo para download em formato pdf.
Download
Essa desigualdade entre os rendimentos é fruto da atual organização institucional das grandes corporações que dominam a economia mundial em diversos setores. Tal sistema permite que os altos executivos disponham de uma posição de negociação privilegiada dentro da empresa, enquanto que os operários de chão de fábrica ficam em uma posição debilitada, com muito pouca, ou quase nenhuma capacidade de negociação, mesmo estando organizados em sindicatos. O mesmo Relatório da OIT mostra que houve uma considerável diminuição da sindicalização, nas últimas duas décadas. Entre 1989 e 2005, a densidade de sindicados diminuiu nos 51 países pesquisados, com exceção de sete deles: Brasil, China, Hong Kong, Índia, Paraguai, Singapura e Espanha, nos quais houve um aumento no número de sindicatos. Fato que já era de se esperar, pois, excluindo a Espanha, todos os outros são países ditos emergentes, onde os trabalhadores ainda estão se organizando institucionalmente para efetuar negociações coletivas. Na Europa Central e nos demais países europeus, a densidade de sindicatos foi drasticamente reduzida. Em alguns países da antiga Europa de Leste, como República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia e Lituânia, onde, nos anos do regime socialista, havia quase 100% de filiação dos trabalhadores a algum sindicato a redução foi de mais de 50%.
Assim, várias das conquistas históricas dos trabalhadores, concretizadas em uma série de direitos trabalhistas, estão sendo simplesmente varridas do ambiente de trabalho. Um caso ilustrativo disto foi o dagrande fabricante mundial de computadores, a Dell, que, em meio à crise, “pediu” aos seus funcionários, coagidos pelo fantasma do desemprego, para tirarem cinco dias de licença não remunerada.
Desde o início da crise econômica, milhões de trabalhadores já foram demitidos pelos bancos e multinacionais do mundo inteiro. Só no Reino Unido 1,8 milhões perderam o seu trabalho, em 2008, e atualmente o governo inglês é obrigado a pagar pensões a mais de 980 mil pessoas. Nos Estados Unidos, foi eliminado 1,2 milhão de postos de trabalho, entre janeiro e novembro, e na China o número de desempregados já chega a 4% da população economicamente ativa, um nível que é considerado como crítico pelo Ministério de Recursos Humanos e Estabilidade Social do país. E o número absoluto de desempregados é provavelmente ainda maior, pois os trabalhadores imigrantes não foram computados na estatística, embora representem mais de 200 milhões de pessoas.
A OIT prevê ainda que cerca de 20 milhões de trabalhadores poderão se somar às filas do desemprego mundial, como conseqüência da crise. “Necessitamos de ações governamentais rápidas e coordenadas para evitar uma crise social que poderá ser grave, duradoura e global”, declarou Juan Somavia, diretor geral da Organização. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que o número de trabalhadores desempregados no planeta, passará, de 190 milhões, em 2007, para 210 milhões, em 2009. Com isso o número de indivíduos que vivem com menos de um dólar por dia poderá aumentar em 40 milhões e os que vivem com menos de dois dólares por
dia, em mais de 100 milhões. Somavia ressaltou ainda que as novas projeções poderiam estar subestimadas, caso os efeitos da atual contração econômica não sejam enfrentados com rapidez. Enquanto o peso da crise cai sobre a cabeça dos trabalhadores, os pacotes de ajuda as grandes empresas não param de aumentar. Estima-se uma cifra em torno de US$ 7,5 trilhões. Segundo o professor Ernesto Lozardo, da Fundação Getúlio Vargas, a ajuda financeira dos Governos já ultrapassa a casa de 12% do PIB mundial. Com muito menos seria possível combater a pobreza e investir o necessário para acabar com o aquecimento global, lembra o professor. De acordo com a ONU, seria possível exterminar a pobreza com apenas 1,5% do PIB mundial, o que demonstra, por um lado, o tamanho do desespero das autoridades governamentais na tentativa de salvar o sistema capitalista mundial e, por outro, o profundo descaso dos mesmos em relação à fome e à pobreza mundial.
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)
Arquivo para download em formato pdf.
Download
0 comentários:
Postar um comentário