Semana de 15 a 21 de dezembro de 2008
Os leitores da nossa coluna já têm conhecimento da gravidade da crise atual e sabem que ela jáatingiu o Brasil. Reforçamos as nossas constatações com algumas opiniões de autoridades internacionais.
O economista Paul Krugman considera que esta crise é a pior das últimas décadas, e contra ela, as medidas habituais geralmente adotadas para um período de declínio econômico, como cortar as taxas de juros, não estão funcionando. Para ele está política está chegando ao seu limite e as ajudas dos governos, em grande escala, parece ser a única maneira de acabar com o “mergulho econômico”.
Dominique Strauss-Kahn, diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), por seu lado, considera que a economia global pode cair em uma crise prolongada espalhando tensões sociais, se os governos não expandirem e implementarem os pacotes de estímulos prometidos. Admitiu também a possibilidade de uma recessão mundial. Segundo ele, o crescimento dos países emergentes não conseguirá compensar a recessão nas economias desenvolvidas. Na China, por exemplo, o crescimento está desacelerando à medida que a economia global sofre uma queda de produção sem precedentes e ruma para uma recessão, elevando os riscos de mais distúrbios civis como os vistos na Grécia desde a semana passada.
De fato, sem emprego, milhões de chineses retornam ao campo. “Não há nada para fazer na zona rural, a não ser trabalhar na terra”, disse Daí, um chinês de 21 anos. “Não quero ser agricultor”, completa. Com a crise financeira, fábricas de vestiário, brinquedos, computadores e outros produtos estão sendo fechadas, o que levará até 20 milhões de cidadãos chineses a deixarem as cidades em 2009.
Na Índia, a produção industrial teve, em outubro, a primeira queda em 15 anos, pressionando as autoridades a baixarem os juros e os impostos.
A Coréia do Sul aceitou fazer um acordo de swap cambial bilateral com o Japão e com a China, em um esforço para garantir a estabilidade financeira da Ásia. A Coréia do Sul e o Japão vão aumentar um esquema won-iene que já existe desde 2005 de US$ 3 bilhões para US$ 20 bilhões.
A produção industrial americana caiu em novembro, pela terceira vez em quatro meses, puxadapela crise das montadoras de automóveis, cujas vendas desabaram.
No Brasil, continuou repercutindo a decisão do Copom, órgão do Banco Central (BC), que manteve em 13,75% ao ano a taxa básica de juros. A autonomia do BC, concedida espontaneamente pelo presidente Lula, tem levado o Banco a continuar a cometer a eutanásia, contrariando os setores empresariais e sindicais e boa parte do próprio governo. Irritado, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, declarou que não considera o banco parte do governo. “Se o BC fosse governo, o presidente Lula daria uma ordem e ela seria cumprida”, afirmou o ministro, evidenciando a discrepância entre o discurso do presidente e a decisão do órgão. Na defensiva, o presidente do BC, Henrique Meirelles, afirmou: “A crise atinge os países de formas diferentes. Temos que ter cuidado para não prescrevermos remédios iguais.” Ele avaliou que as operações de crédito estão sendo normalizadas, depois das medidas adotadas para combater os efeitos da crise. A concessão média diária de empréstimos, em novembro (até o dia 26), em comparação com outubro, cresceu 4,7%.
Parecendo desconhecer o problema, o presidente Lula, em uma reunião com empresários, afirmou: “Eu acho que é muito engraçado. Os empresários poderiam pagar [os funcionários] com parte dos lucros que acumularam. O governo não vai deixar de assumir a responsabilidade de cuidar dos trabalhadores, mas nenhum empresário tem motivo para mandar trabalhadores embora”.
Engraçado é o presidente querer dar ordens a capitalistas, o que não está em suas atribuições,quando poderia mandar na política econômica do seu governo, o que é a sua obrigação. Por que, em vez de pretender determinar a utilização do dinheiro alheio (os lucros dos capitalistas), não usa os recursos do próprio governo? Por exemplo, por que não usar os superávits primários, para estimular os investimentos, criar empregos e aumentar os recursos para seguro desemprego e outros programas sociais? Lembremos que esta economia é feita em função de uma duvidosa e impagável dívida, que é anualmente ampliada pelos mais elevados juros do mundo, paradoxalmente estabelecidos pelo próprio governo.
Afinal, quem é mesmo o engraçadinho?
Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br
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O economista Paul Krugman considera que esta crise é a pior das últimas décadas, e contra ela, as medidas habituais geralmente adotadas para um período de declínio econômico, como cortar as taxas de juros, não estão funcionando. Para ele está política está chegando ao seu limite e as ajudas dos governos, em grande escala, parece ser a única maneira de acabar com o “mergulho econômico”.
Dominique Strauss-Kahn, diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), por seu lado, considera que a economia global pode cair em uma crise prolongada espalhando tensões sociais, se os governos não expandirem e implementarem os pacotes de estímulos prometidos. Admitiu também a possibilidade de uma recessão mundial. Segundo ele, o crescimento dos países emergentes não conseguirá compensar a recessão nas economias desenvolvidas. Na China, por exemplo, o crescimento está desacelerando à medida que a economia global sofre uma queda de produção sem precedentes e ruma para uma recessão, elevando os riscos de mais distúrbios civis como os vistos na Grécia desde a semana passada.
De fato, sem emprego, milhões de chineses retornam ao campo. “Não há nada para fazer na zona rural, a não ser trabalhar na terra”, disse Daí, um chinês de 21 anos. “Não quero ser agricultor”, completa. Com a crise financeira, fábricas de vestiário, brinquedos, computadores e outros produtos estão sendo fechadas, o que levará até 20 milhões de cidadãos chineses a deixarem as cidades em 2009.
Na Índia, a produção industrial teve, em outubro, a primeira queda em 15 anos, pressionando as autoridades a baixarem os juros e os impostos.
A Coréia do Sul aceitou fazer um acordo de swap cambial bilateral com o Japão e com a China, em um esforço para garantir a estabilidade financeira da Ásia. A Coréia do Sul e o Japão vão aumentar um esquema won-iene que já existe desde 2005 de US$ 3 bilhões para US$ 20 bilhões.
A produção industrial americana caiu em novembro, pela terceira vez em quatro meses, puxadapela crise das montadoras de automóveis, cujas vendas desabaram.
No Brasil, continuou repercutindo a decisão do Copom, órgão do Banco Central (BC), que manteve em 13,75% ao ano a taxa básica de juros. A autonomia do BC, concedida espontaneamente pelo presidente Lula, tem levado o Banco a continuar a cometer a eutanásia, contrariando os setores empresariais e sindicais e boa parte do próprio governo. Irritado, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, declarou que não considera o banco parte do governo. “Se o BC fosse governo, o presidente Lula daria uma ordem e ela seria cumprida”, afirmou o ministro, evidenciando a discrepância entre o discurso do presidente e a decisão do órgão. Na defensiva, o presidente do BC, Henrique Meirelles, afirmou: “A crise atinge os países de formas diferentes. Temos que ter cuidado para não prescrevermos remédios iguais.” Ele avaliou que as operações de crédito estão sendo normalizadas, depois das medidas adotadas para combater os efeitos da crise. A concessão média diária de empréstimos, em novembro (até o dia 26), em comparação com outubro, cresceu 4,7%.
Parecendo desconhecer o problema, o presidente Lula, em uma reunião com empresários, afirmou: “Eu acho que é muito engraçado. Os empresários poderiam pagar [os funcionários] com parte dos lucros que acumularam. O governo não vai deixar de assumir a responsabilidade de cuidar dos trabalhadores, mas nenhum empresário tem motivo para mandar trabalhadores embora”.
Engraçado é o presidente querer dar ordens a capitalistas, o que não está em suas atribuições,quando poderia mandar na política econômica do seu governo, o que é a sua obrigação. Por que, em vez de pretender determinar a utilização do dinheiro alheio (os lucros dos capitalistas), não usa os recursos do próprio governo? Por exemplo, por que não usar os superávits primários, para estimular os investimentos, criar empregos e aumentar os recursos para seguro desemprego e outros programas sociais? Lembremos que esta economia é feita em função de uma duvidosa e impagável dívida, que é anualmente ampliada pelos mais elevados juros do mundo, paradoxalmente estabelecidos pelo próprio governo.
Afinal, quem é mesmo o engraçadinho?
Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br
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