Semana de 21 a 27 de setembro 2009
A economia americana apresenta alguns indicadores que reforçam a ideia de que há sinais de recuperação naquele país. Segundo dados divulgados no dia 21 do presente mês, o índice do Conference Board, que prevê a situação econômica para os próximos três a seis meses, subiu 0,65 em agosto, depois da alta de 0,9% em julho. Aliados a isso estão, o crescimento da confiança do consumidor, da construção de imóveis residenciais e as altas dos preços das ações na bolsa, que, juntos, fortalecem a avaliação do Presidente do Fed (Banco Central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, de que a recessão terminou. O Fed dobrou o seu balanço para cerca de US$ 2 trilhões, através de injeção de dinheiro no mercado financeiro e, nesse momento, reduz as compras de dívidas e mantém estável a taxa de juro. Enquanto isso, a Rússia vem tentando reduzir seu déficit orçamentário, conter a inflação e privatizar alguns dos setores importantes da sua economia. As privatizações incidem sobre atividades tais como portos, aeroportos, empresas de transporte marítimo e da petroleira Rosneft. O objetivo, segundo Igor Shuvalov, é o de aumentar a receita estatal no segundo semestre desse ano. A China tenta controlar a enorme expansão do crédito, principal responsável pela recuperação econômica que aquela economia vem apresentando. A produção de aço, por exemplo, apesar da quebra da produção mundial, aumentou 22%, em agosto, se comparado com o ano anterior. Agora se fala que a China pode salvar os relógios da Suíça, que tem a economia encolhendo desde o terceiro trimestre de 2008. Segundo dados compilados pela bloomberg, as exportações de relógios de pulso e bolso da Suíça para a China foram de 1,19 bilhão de francos suíços (US$ 1,15 bilhão) em julho, cerca de 7,3% do total de exportações do país. Espera-se que, até 2012, a China seja o maior consumidor mundial de bens de luxo. O BDA – Banco de Desenvolvimento da Ásia – espera a recuperação da China ainda em 2010 e mudou as suas estimativas para o crescimento do país, de 7%, para 8,2%, em 2009, e de 8%, a 8,9% em 2010. Na economia monetária mundial, durante o desenrolar da crise, o euro tem mostrado sua força, pois se fortaleceu cerca de 20% face ao dólar, embora a zona do euro não se encontre fora de perigo.
A reunião do G20, em Pittsburgh, com um plano chamado “Bases para o Crescimento Equilibrado e Sustentado”, vem sendo acompanhada de perto pelos investidores, temerosos de que a reestruturação da economia possa corroer o papel dominante do dólar nas finanças e no comércio internacional. O plano, ao que tudo indica, avaliza essencialmente a ideia de um dólar mais fraco.
Os maiores nomes emergentes do G-20, o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), preocupados com o alto endividamento americano, já declararam que o mundo deveria, no futuro, abandonar o dólar como reserva monetária.
Na América Latina perdura uma situação de crise. Entre 2003 e 2008, acredita-se que 60 milhões de pessoas, nessa região, saíram da pobreza, mas, de acordo com projeções do Banco Mundial, a crise econômica reconduzirá 8 milhões delas de volta à situação anterior, onde sobreviverão com parcos US$ 4,00 por dia.
No Brasil, o Banco Central faz uma projeção pior para o déficit externo, mas os dados apontam para um melhor lugar a ser ocupado pela indústria no mercado internacional, enquanto cresce a concentração bancária, colocando, nas mãos de 10 bancos, 89% dos ativos financeiros do país. O destaque vai aqui para o Banco Santander Brasil, que ganha fôlego de R$ 80 bilhões, vindo os capitais novos basicamente da venda de ações. O Banco do Brasil pretende seguir caminho semelhante, tendo o governo já autorizado o aumento da fatia de capital do banco que fica nas mãos de investidores estrangeiros, de 12%, para 20% do total das suas ações. Hoje, 21,71% das ações do BB estão nas mãos do mercado, 11,1%, nas mãos de estrangeiros e 65%, nas mãos da União. A PREVI – fundo de pensões dos funcionários – tem 10,2% e o BNDES, 2,5%.
Para continuar na tentativa de reequilibrar a economia, o governo libera mais gastos e reduz o superávit primário, que pode ficar em até 1,56% do PIB e não mais nos 2,5% previstos anteriormente. É propósito do governo aplicar R$ 28,5 bilhões em investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC.
Na economia real, os destaques vão para o crescimento do setor produtor de bens de capital, onde aprodução de máquinas, depois do recuo de 10% apresentado em julho, apura um resultado 18% superior ao mês anterior. No setor siderúrgico, destaca-se a polêmica com Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que apresentou a ideia da criação de uma grande usina global brasileira, ideia que não é nova e que não goza de grande simpatia entre os empresários do ramo. Quanto ao consumo de energia, em agosto, o aumento foi de 3,08%, e o setor de bens de consumo sai mais cedo da crise e acelera a expansão. Pela primeira vez, desde março, o mercado já descarta a hipótese de PIB negativo em 2009. O desemprego vai se mantendo estável, com taxa de desocupação de 8,1%; destaca-se a queda de postos de trabalho no setor rural.
Um estudo da FGV afirma que o potencial de geração de renda familiar cresceu mais do que o consumo entre 2003 e 2008. Enquanto o potencial do produtor cresceu 28,32%, o do consumo cresceu apenas 14,98%. Em outro estudo, mostra-se que a renda do trabalho explica dois terços da queda da desigualdade no Brasil entre 2001 e 2008. A bolsa família responde por 17%, as rendas da previdência, por 15,72% e as transferências privadas, por 0,5%. Nesse período estudado, os 10% mais pobres da população brasileira tiveram aumento de renda de 72,45%, enquanto para os 10% mais ricos, esse rescimento foi de 11,37%. Os beneficiários da bolsa família são basicamente da classe E, e os reajustes de salário mínimo beneficiam principalmente a classe D.
Nesse meio tempo, o Governo libera mais gastos e reduz ainda mais o superávit primário. Apresentou também uma proposta de criação de uma taxa específica de imposto de renda de 22,5%, a incidir sobre as poupanças maiores do que R$ 50 mil.
Segundo Marcio Holand, economista da Fundação Getúlio Vargas – FGV, as exportações mundiais totais vão cair, entre o ano passado e este ano, em 11,5%, sendo que o Brasil apresenta perigosa piora na sua pauta exportadora, pois vende-se cada vez mais commodities, e os manufaturados estão ficando em segundo plano. Nesse quadro, quase 85% do que se exporta para China, atualmente principal parceiro do Brasil, são bens primários.
Mesmo com esse cenário um tanto sombrio, Henrique Meirelles, ainda Presidente do Banco Central, declara que o país sai depressa da crise.
As regiões que reagem melhor são Norte e Nordeste. Sendo as regiões mais carentes, as ajudas recebidas, através de bolsa família, e o aumento do salário mínimo nacional provocam um melhor estímulo e incentivo ao consumo. Além disso, muitas empresas varejistas têm procurado localização nessas regiões para fugirem ao custo mais elevado da mão de obra das regiões mais desenvolvidas, como a dos estados do sudeste.
Diante desse quadro, a pergunta legítima que se põe é se a economia sai de forma sustentada, ou se sai e volta a entrar. Mais uma vez vem a baila a polêmica entre o V, o U e o W, como “modelito”, em discussão, para a crise econômica.
Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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