segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

As Bodas de Porcelana de Berlim

Semana de 09 a 15 de novembro de 2009


Esta semana se iniciou com as comemorações do aniversário de 20 anos da queda do muro que separava Berlim em duas cidades diferentes. Têm-se este fato como o marco do fim da Guerra Fria e o símbolo da “união entre os povos”. Autoridades de todo o mundo estiveram presentes em frente ao Portão de Brandemburgo para a festa de comemoração. Segundo Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, aquele foi o dia da “vitória da liberdade” e marcou “o início de uma era de unidade”. Apesar de sua ausência, o presidente dos EUA, Barack Obama, enviou Hillary Clinton, sua secretária de defesa, como representante. Além desta, estiveram presentes o presidente francês, Nicolas Sarkozy, o presidente russo, Dimitri Medvedev, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown.
Esta celebração, de fato, enaltece um marco histórico para a humanidade. Porém, a seguinte questão salta aos olhos: por que a necessidade de exaltar tanto a derrota de um “sistema autoritário e, por si só, falido”?
No nosso “libertado” mundo ocidental, o ciclo econômico, que não afetava o “fracassado” bloco socialista, está a dar sinais de mudança de fase. Economias de todo o mundo mostram que a produção industrial vem se recuperando da pior crise que já afetou estas economias desde a Grande Depressão. Na Alemanha, a produção, em setembro, aumentou 2,7%, quando comparada a agosto. Na mesma comparação, a produção da indústria de transformação do país cresceu 3,2%, puxada pela indústria de bens de capital (5,9%) e de bens de consumo (2,3%), enquanto que as exportações cresceram 3,8%. Na França e na Rússia, por sua vez, o crescimento no terceiro trimestre foi de 0,3% e 13,9%, em relação ao segundo trimestre, respectivamente. Na zona do Euro e na União Européia, o crescimento de 0,3% e 0,2%, respectivamente, mostra que a produção industrial, mês a mês, se reanima.
No Brasil, a indústria paulista apresentou, em outubro, um saldo de 9.000 novos trabalhadores, elevando assim a taxa de emprego em 0,41%. No setor de veículos, os estoques baixos das montadoras ameaçam as férias coletivas de fim de ano. Na indústria de máquinas agrícolas, a produção, em outubro, teve alta de 15,1%, quando comparada com setembro. Enquanto isso, indústrias de base do setor sucroalcooleiro estão exportando usinas prontas para países da África e da América Latina. Os analistas já reformularam suas previsões de crescimento do PIB brasileiro, em 2009, de 0,18% para 0,20%.
Já a produtividade da indústria se elevou em 5%, do segundo para o terceiro trimestre deste ano.
Outros dados positivos podem ser vistos nas publicações dos balanços das empresas de capital aberto. A Vale embarcou 36% a mais de minério, no terceiro trimestre, em relação ao segundo. Sua receita líquida subiu 23,4% (para R$ 13,2 bilhões) e seu lucro líquido dobrou (R$ 3 bilhões). A Gerdau produziu 30% mais aço bruto, tendo sua receita líquida crescido para R$ 6,8 bilhões, um aumento de 6,3%.
Mas, em períodos que sucedem crises agudas, é necessária a comparação de dados com o ano anterior para avaliar com mais rigor o nível real em que se encontra a economia.
A produção industrial e as exportações alemãs de setembro foram 12,9% e 18,8% menor do que no mesmo mês de 2008. A previsão é que, no ano, o PIB do país decresça em torno de 5%. Na Rússia, o PIB do terceiro trimestre de 2009 foi 8,9% menor do que no mesmo período de 2008. Na União Européia, 12,1%, e na região do Euro, 12,9%. Nesta região, as atividades nas fábricas caíram, em setembro, quando comparado ao mesmo mês de 2008. A demanda mundial de máquinas da indústria da construção pesada teve uma queda de 60% nos EUA e Europa, enquanto que, no Brasil, este setor recuou 20%.
E tudo isto apesar da intervenção dos Estados na economia, que provocou um endividamento crescente. Na UE, por exemplo, existe o temor de que a dívida pública chegue a 100% do PIB até 2014. A Comissão Européia prevê um aumento para 84% da relação Dívida - PIB já em 2010 (em 2007 representava 60%). Michael Heise, principal responsável pelo relatório apresentado pela Comissão, afirmou ainda que “os pacotes de incentivos estabelecidos para o próximo ano são necessários e também apropriados”. Mas chegou a hora de começarmos a ficar atentos de novo. Ainda segundo a Comissão, “um derretimento financeiro e uma perda generalizada de confiança foram evitados. Mas o nível de incerteza permanece elevado e ainda há riscos de ocorrerem diferenças nas reações negativas entre o setor financeiro e a economia real”. O mesmo pensamento tem Medvedev, que considera o controle de cerca de 40% da economia nas mãos do Estado russo inviável no longo prazo. Para ele, a Rússia deveria se “livrar da dependência humilhante de matérias primas e dar mais atenção a setores como reatores nuclear e tecnologia espacial”.
Voltando ao Brasil, o nível de emprego, em outubro de 2009, caiu 7,61%, em relação ao mesmo mês de 2008. A produção do setor de máquinas agrícolas teve uma queda de 20,3% na mesma comparação, enquanto que as exportações se reduziram em 50,7%.
Na Vale, a queda na receita e no lucro líquido, no terceiro trimestre, em relação a 2008, foi de 36,2% e 60%, respectivamente. Na Gerdau, a receita líquida caiu quase à metade (de R$ 12,4 bilhões para R$ 6,8 bilhões). De uma forma geral, as empresas que apresentaram os balanços do 3º trimestre de 2009 possuíam uma receita líquida 15% menor e um lucro líquido 37,4% abaixo do verificado no terceiro trimestre de 2008 (isto significa um retrocesso para os níveis de 2006).
A busca de crédito por parte dos consumidores caiu 3,3% no acumulado do ano até outubro, comparado com mesmo período de 2008, o que sinaliza um esgotamento da antecipação do consumo, além de ser um reflexo da retirada dos estímulos do governo.
Diante do exposto, vemos que a defesa da estrutura econômica não é um privilégio dos Estados socialista. Como já referimos em analises passadas, a retomada atual está se baseando em intervenções dos estados capitalistas através de políticas anticíclicas. Isso já está causando debates entre os policy-makers do mundo todo. Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial (Bird), afirma que a recuperação não será uniforme em todo o mundo e que os governos devem manter os incentivos atuais. Ângela Merkel, primeira ministra da Alemanha, pretende cortar impostos e estender o programa de emprego temporário, mesmo com a possibilidade de o déficit fiscal atingir US$ 135 bilhões.
A economia chinesa, vista como carro de resgate da economia mundial, é quem dá novos sinais de expansão. A produção industrial, em outubro, cresceu 16,1%, quando comparado com o mesmo mês de 2008. Nos últimos 12 meses, cresceram: a geração de energia (17,1%), a produção de aço (22%), a produção de petróleo (10,4%) e as vendas no varejo (16,2%). Estas altas refletiram principalmente o aquecimento do mercado interno, já que o comércio externo apresentou os seguintes dados: queda de 13,8% das exportações (em relação a outubro do ano passado) e de 6,4% das importações (na mesma comparação).
A China, mais que o ocidente, mantém o forte controle do Estado sobre a economia, e, além das medidas anticíclicas que adota, continua a sua política de excessiva desvalorização do yuan.
Este é o resultado da ação da lei das crises cíclicas de superprodução que não permite o crescimento do Produto Interno Bruto a taxas constantes. Esta, juntamente como outras leis que estão na essência do sistema capitalista, criam as desigualdades entre e intra países, provocam conflitos sociais e tendem a elevar o nível do desemprego.
Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), a crise global pode ter causado uma redução de 39 milhões de empregos, apenas este ano. Desde 2007, o número chega a 220 milhões. Para o órgão, a demanda privada ainda não é forte o suficiente para dispensar as “medidas excepcionais” dos governos. A estimativa feita pela OIT é de que haja uma diferença de 4 a 6 anos entre a retomada do crescimento e a do emprego.
Diante desses fatos, não será que as comemorações das Bodas de Porcelana do muro procuram esconder o fracasso de uma solução capitalista para os problemas que o socialismo tentou enfrentar?


Texto escrito por:
Lucas Milanez de Lima Almeida: Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB, Mestrando em Economia pelo CME-UFPB e membro do Progeb.


Arquivo para download em formato pdf. 

Share:

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A anatomia de um contra-projeto de país

Semana de 02 a 08 de novembro de 2009


Os dados referentes ao comércio exterior brasileiro, nos últimos meses, são sinais de alerta sobre a capacidade de resposta da indústria nacional às novas exigências do mercado mundial. Embora a balança comercial do país apresente superávits, verifica-se uma polarização, no seu interior: enquanto o saldo de produtos básicos é cada vez mais superavitário, o dos produtos manufaturados é deficitário.
Para se ter uma idéia, em apenas seis meses, o déficit na balança comercial da indústria de transformação já atingiu US$ 6 bilhões. Isto mostra um padrão indesejado de especialização das exportações brasileiras, isto é, o país concentra grande parte das suas exportações em produtos baseados em recursos naturais.
Entre as causas apontadas para tal especialização está a valorização relativa do Real frente ao Dólar. Com isto os produtos nacionais ficam mais caros do que os produtos estrangeiros, o que, por sua vez, encarece as exportações. O governo recentemente instituiu uma cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras, IOF, para títulos de renda fixa e ações negociadas na bolsa de valores, na tentativa de conter a entrada de dólares na economia e deter a depreciação desta moeda face ao real. Contudo, segundo dados do Banco Central, houve um leve aumento no ingresso de dólares ao país. No período que vai de 26 a 30 de outubro, a entrada de dólares na economia totalizou US$ 7,312 bilhões, enquanto que, de 19 a 23 de outubro, o fluxo foi de US$ 6,898 bilhões. Como se não fosse o bastante, surge mais um agravante: a desvalorização da moeda chinesa (yuan) face ao dólar.
Além de estipular um nível salarial muito baixo para seus trabalhadores, a China, graças aos mecanismos cambiais, consegue lançar seus produtos no mercado mundial com preços muito baixos, dificultando a situação dos concorrentes brasileiros. O cenário é tão alarmente que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp, considera que existe uma “concorrência desleal”. Nas palavras de Roberto Giannetti da Fonseca, diretor titular de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, vê-se “diariamente na Fiesp empresários desesperados para tentar barrar a competição chinesa”.
A política de manutenção de elevadas taxas de juros, estimula a entrada de capitais e influencia diretamente a taxa de câmbio provocando a valorização do real que se torna um dos principais fatores de perda de competitividade da indústria nacional. No longo prazo, isto pode ter efeitos deletérios sobre a estrutura produtiva da economia, ou seja, as exportações brasileiras podem se concentrar em produtos de baixo valor agregado. Ao que parece, o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva vem consolidando um contra-projeto de país, que se originou no governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso. Naquele governo, principalmente no primeiro mandato, 1994/1998, a apreciação artificial do câmbio, em conjunto com a política de altas taxas de juros, prejudicou a indústria nacional, que passou a importar máquinas e equipamentos.
O setor de Bens de Capital tem o papel de difusor do progresso tecnológico, uma vez que participa de todas as cadeias produtivas da economia, através do fornecimento de máquinas e equipamentos variados. Por isso, este setor tem um forte efeito multiplicador sobre a dinâmica da economia. Mas, uma vez que a produção nacional, no atual governo, é inviabilizada pela continuação da mesma política econômica, esses estímulos são transferidos para o exterior e o Brasil tenderá a sair mais lentamente das crises.
Com relação à fase do ciclo atual, os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, indicam que a indústria reduziu o ritmo de queda. O setor de Bens de Capital interrompeu três trimestres consecutivos de taxas negativas crescendo 6,1% em setembro. Entretanto, quando comparado com o mesmo mês do ano passado, o setor registrou uma taxa negativa de 20,5%. Os sub-setores que mais colaboraram para essa queda foram os de transportes (- 18,9%), de máquinas para a indústria (- 32,4%) e para o setor de energia elétrica (- 39,0%).




Produção Industrial - Brasil (*)
(*) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem



Indicadores da produção industrial por categorias de uso
Brasil - Outubro de 2009 (*)
(*) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem



Produção industrial
Índices mensal x Acumulado nos últimos 12 meses (*) (**) (***)
(*) Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem
(**) Base: igual mês do ano anterior = 100
(***) Base: Últimos dozes meses anteriores = 100
No front externo, os dados sugerem cautela quanto à recuperação da economia mundial. O Departamento de Trabalho dos Estados Unidos divulgou a nova taxa de desemprego, que subiu de 9,85%, em setembro, para 10,2% em outubro. Essa é a maior taxa desde 1983. Os dados revelam que o ritmo de eliminação de postos de trabalho diminuiu. No mês de outubro foram fechados 190 mil postos de trabalho. Já no mês de setembro, tinham sido eliminados 219 mil. Empresas como a Microsoft, General Motors, Johnson & Johnson, Nokia-Siemens, além dos bancos HSBC e RBS, informaram que ainda pretendem cortar empregos.
Na União Européia, projeta-se uma retração de 4,1% para o PIB, e o ministro britânico das finanças, Alistair Darling, declarou que as autoridades do G-20 “concordam que é cedo demais para encerrar os pacotes de estímulos econômicos, já que a recuperação global ainda é frágil”. 
Os dados, portanto, parecem confirmar a nossa previsão de que a reanimação da economia será lenta e com uma característica peculiar ao ciclo atual: a manutenção de altas taxas de desemprego.

Texto escrito por:
Kaio Glauber Vital da Costa: Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.

Arquivo para download em formato pdf.
Share:

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Os caminhos tortuosos da economia planetária

Semana de 26 de outubro a 01 de novembro de 2009


No cenário internacional, alguns fatos significativos merecem a nossa atenção. A China espera a retomada do comércio internacional enquanto crescem os seus investimentos externos que atingiram o montante de US$ 20,5 bilhões . Suas exportações, como esperado, voltaram, a crescer e empresas em algumas regiões, já enfrentam dificuldades para recrutar trabalhadores, como afirmou ontem o Ministro Zhang Yutai, encarregado do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento ligado à Presidência do país. Pequim estima que as exportações ainda terão uma queda de 16 a 20% este ano, mas crescerão de 8 a 10% no ano que vem. O PIB dos EUA voltou a crescer 3,5%, entre julho e setembro, mas há dúvidas se a retomada é sustentável. A economia americana cresceu, fortemente , impulsionada pelo pacote de estímulo do governo, o que está contribuindo para encerrar a pior recessão no país desde os anos 30. No segundo trimestre, a estimativa de crescimento do Reino Unido é de 0,4%, em relação ao trimestre anterior. No mesmo período de comparação, a Alemanha e a França apresentam uma taxa modesta de crescimento de 0,3%. 


 Taxa trimestral de crescimento do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos - 1º trimestre de 2007/3º trimestre de 2009(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem



 Taxa trimestral de crescimento do Produto Interno Bruto de países selecionados - 4º trimestre de 2006/3º trimestre de 2009(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem


 A valorização do euro, no entanto, continua a ameaçar o aumento das exportações europeias. Apesar de tudo, nos países da zona euro, a confiança sobe. Já o Brasil apelou para o G-20 adotar medidas conjuntas visando evitar a entrada de capitais especulativos no país que agravem a apreciação da taxa de câmbio. O Ministro Guido Mantega, repetindo uma frase de Mario Henrique Simonsen, afirmou que “o câmbio mata a economia” e que o excelente desempenho que vem sendo demonstrado pela China, nos últimos 20 anos, em grande parte, deve-se ao trabalho com base numa moeda desvalorizada. Mantega, nesse contexto, defende a recente tributação de 2% de IOF sobre a entrada de capitais estrangeiros de curto prazo. A par dessa medida, o governo estuda a possibilidade de dar mais crédito aos exportadores e adotar medidas que reduzam os custos dos investimentos produtivos das empresas destinadas a esta atividade. Um estudo inédito, elaborado pela consultoria Booz &Company, com o título The Global Innovation 1000, revelou que as mil companhias que mais investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no planeta continuam a apostar no desenvolvimento de novos produtos. As oito primeiras empresas do ranking, permanecem as mesmas, alterando-se somente a ordem. A Toyota e a Nokia ocupam o primeiro e o segundo lugar. Pelo menos três empresas brasileiras estão colocadas nesse ranking internacional, a Embraer, a Petrobras e a Vale, que, se consideradas em conjunto, gastaram US$ 2,2 bilhões, 18,7% do total.
Diante das intervenções dos estados na economia, principalmente as injeções monetárias, prevê-se que ocorra uma onda de estatizações por todo o mundo. As fusões e aquisições também continuam o seu movimento e nesta semana destaca-se o movimento no setor de cimentos no sentido de uma larga fusão degrandes empresas.

Voltando à economia brasileira, nesta, o destaque principal foi para o papel da valorização do real face ao dólar, que vem provocando efeitos variados e contraditórios sobre a economia. O primeiro que chama a atenção é o efeito sobre a dívida pública. Enquanto no ano passado a relação dívida pública líquida/Produto Interno Bruto (PIB) equivalia a 38,8%, oito meses mais tarde bateu em 44%. Desse aumento de 5,2 pontos percentuais, menos da metade é explicado pelo aumento de gastos e a maior parte é referente à variação cambial, que correspondeu a 45% do aumento da dívida. No entanto, o efeito mais nefasto da dita desvalorização do dólar parece ser aquele que vem pela via do comércio externo e atinge o âmago dos produtores nacionais. As exportações tornam-se mais caras e retraem os potenciais importadores. Por outro lado, os preços dos produtos chineses tornam-se mais competitivos, diante da desvalorização do ien frente ao dólar. Com este mecanismo cambial, os produtos chineses também levam vantagem no mercado interno brasileiro.
O volume das importações do país cresceu generalizadamente no mês de setembro, principalmente por conta da valorização do câmbio. A quantidade total importada cresceu em15% em relação ao mês de agosto. Os preços subiram 0,25% no mesmo período. A alta mais significativa foi na compra de bens de capital, que cresceu 19,6% e, a seguir, os bens intermediários, com 13%.
Para tentar conter o movimento de capitais estrangeiros, o governo criou um imposto e tem atuado no mercado de dolares através do Banco Central, comprando divisas e aumentando as reservas internacionais. Essas reservas aumentam a “blindagem” externa do país, mas deterioram o quadro fiscal. A desvalorização do dólar, além dos efeitos perversos já referidos, diminui o valor do ativo brasileiro. Até agosto de 2009, o real já se tinha valorizado 23,89% frente ao dólar, que fechou aquele mês com a cotação de U$ 1 dolar valendo R$ 1,88. Desde então, a moeda brasileira foi apreciada em mais 7,44% e acumulou valorização de 33,95% no ano. Segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), o endividamento público bruto brasileiro, já estimado em 58,6% do PIB, fechará o ano atingindo os 70%. Atualmente essa relação é de 66%. A India é, entre os emergentes, o único país que tem uma relação maior do que a brasileira, com a sua dívida chegando a 85% do PIB.
São esses os dados para o tortuoso caminho pelo qual prossegue a economia planetária.

Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br 

Arquivo para download em formato pdf. 
Share:

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog