quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Os caminhos tortuosos da economia planetária

Semana de 26 de outubro a 01 de novembro de 2009


No cenário internacional, alguns fatos significativos merecem a nossa atenção. A China espera a retomada do comércio internacional enquanto crescem os seus investimentos externos que atingiram o montante de US$ 20,5 bilhões . Suas exportações, como esperado, voltaram, a crescer e empresas em algumas regiões, já enfrentam dificuldades para recrutar trabalhadores, como afirmou ontem o Ministro Zhang Yutai, encarregado do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento ligado à Presidência do país. Pequim estima que as exportações ainda terão uma queda de 16 a 20% este ano, mas crescerão de 8 a 10% no ano que vem. O PIB dos EUA voltou a crescer 3,5%, entre julho e setembro, mas há dúvidas se a retomada é sustentável. A economia americana cresceu, fortemente , impulsionada pelo pacote de estímulo do governo, o que está contribuindo para encerrar a pior recessão no país desde os anos 30. No segundo trimestre, a estimativa de crescimento do Reino Unido é de 0,4%, em relação ao trimestre anterior. No mesmo período de comparação, a Alemanha e a França apresentam uma taxa modesta de crescimento de 0,3%. 


 Taxa trimestral de crescimento do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos - 1º trimestre de 2007/3º trimestre de 2009(*)
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 Taxa trimestral de crescimento do Produto Interno Bruto de países selecionados - 4º trimestre de 2006/3º trimestre de 2009(*)
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 A valorização do euro, no entanto, continua a ameaçar o aumento das exportações europeias. Apesar de tudo, nos países da zona euro, a confiança sobe. Já o Brasil apelou para o G-20 adotar medidas conjuntas visando evitar a entrada de capitais especulativos no país que agravem a apreciação da taxa de câmbio. O Ministro Guido Mantega, repetindo uma frase de Mario Henrique Simonsen, afirmou que “o câmbio mata a economia” e que o excelente desempenho que vem sendo demonstrado pela China, nos últimos 20 anos, em grande parte, deve-se ao trabalho com base numa moeda desvalorizada. Mantega, nesse contexto, defende a recente tributação de 2% de IOF sobre a entrada de capitais estrangeiros de curto prazo. A par dessa medida, o governo estuda a possibilidade de dar mais crédito aos exportadores e adotar medidas que reduzam os custos dos investimentos produtivos das empresas destinadas a esta atividade. Um estudo inédito, elaborado pela consultoria Booz &Company, com o título The Global Innovation 1000, revelou que as mil companhias que mais investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no planeta continuam a apostar no desenvolvimento de novos produtos. As oito primeiras empresas do ranking, permanecem as mesmas, alterando-se somente a ordem. A Toyota e a Nokia ocupam o primeiro e o segundo lugar. Pelo menos três empresas brasileiras estão colocadas nesse ranking internacional, a Embraer, a Petrobras e a Vale, que, se consideradas em conjunto, gastaram US$ 2,2 bilhões, 18,7% do total.
Diante das intervenções dos estados na economia, principalmente as injeções monetárias, prevê-se que ocorra uma onda de estatizações por todo o mundo. As fusões e aquisições também continuam o seu movimento e nesta semana destaca-se o movimento no setor de cimentos no sentido de uma larga fusão degrandes empresas.

Voltando à economia brasileira, nesta, o destaque principal foi para o papel da valorização do real face ao dólar, que vem provocando efeitos variados e contraditórios sobre a economia. O primeiro que chama a atenção é o efeito sobre a dívida pública. Enquanto no ano passado a relação dívida pública líquida/Produto Interno Bruto (PIB) equivalia a 38,8%, oito meses mais tarde bateu em 44%. Desse aumento de 5,2 pontos percentuais, menos da metade é explicado pelo aumento de gastos e a maior parte é referente à variação cambial, que correspondeu a 45% do aumento da dívida. No entanto, o efeito mais nefasto da dita desvalorização do dólar parece ser aquele que vem pela via do comércio externo e atinge o âmago dos produtores nacionais. As exportações tornam-se mais caras e retraem os potenciais importadores. Por outro lado, os preços dos produtos chineses tornam-se mais competitivos, diante da desvalorização do ien frente ao dólar. Com este mecanismo cambial, os produtos chineses também levam vantagem no mercado interno brasileiro.
O volume das importações do país cresceu generalizadamente no mês de setembro, principalmente por conta da valorização do câmbio. A quantidade total importada cresceu em15% em relação ao mês de agosto. Os preços subiram 0,25% no mesmo período. A alta mais significativa foi na compra de bens de capital, que cresceu 19,6% e, a seguir, os bens intermediários, com 13%.
Para tentar conter o movimento de capitais estrangeiros, o governo criou um imposto e tem atuado no mercado de dolares através do Banco Central, comprando divisas e aumentando as reservas internacionais. Essas reservas aumentam a “blindagem” externa do país, mas deterioram o quadro fiscal. A desvalorização do dólar, além dos efeitos perversos já referidos, diminui o valor do ativo brasileiro. Até agosto de 2009, o real já se tinha valorizado 23,89% frente ao dólar, que fechou aquele mês com a cotação de U$ 1 dolar valendo R$ 1,88. Desde então, a moeda brasileira foi apreciada em mais 7,44% e acumulou valorização de 33,95% no ano. Segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), o endividamento público bruto brasileiro, já estimado em 58,6% do PIB, fechará o ano atingindo os 70%. Atualmente essa relação é de 66%. A India é, entre os emergentes, o único país que tem uma relação maior do que a brasileira, com a sua dívida chegando a 85% do PIB.
São esses os dados para o tortuoso caminho pelo qual prossegue a economia planetária.

Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. 
Email: progeb@ccsa.ufpb.br 

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