As notícias sobre o nível de atividade econômica mundial continuam tomando conta da maioria dos jornais. O assunto, de tanto ser repetido, já se tornou comum e muitas vezes cansativo para os leitores. Infelizmente, abordá-lo-emos mais uma vez neste artigo, por se tratar de um processo lento e conturbado, que se encontra em plena evolução seguindo direções incertas e caminhos tortuosos. Com efeito, alguns fatos parecem apontar para a reanimação da economia mundial, criando entusiasmo nos mais otimistas. Outros continuam a indicar o aprofundamento, ou pelo menos o prolongamento da crise econômica. Em mais uma semana, as notícias mostraram exatamente isto, com as montadoras de automóveis dos Estados Unidos aumentando a produção, mas, no México. Durante a crise, o governo Obama gastou mais de US$ 80 bilhões para sustentar e salvar a GM e a Chrysler. Uma vez estabilizadas, elas projetam um aumento da produção de carros, no entanto, alegando a necessidade de redução dos custos de produção, estes recursos foram transferidos para investimentos no país vizinho.
Os números da economia dos Estados Unidos, por outro lado, também sugerem uma perda de fôlego na recuperação. Os pedidos de seguro desemprego aumentaram em 13 mil, contrariando as expectativas que eram de queda desse indicador. A geração de postos de trabalho no país também frustrou as expectativas. Em junho, foram criados apenas 13 mil empregos, número muito abaixo do esperado, que era de 60 mil.
A Europa continua passando por um período de elevada instabilidade. Na Grécia, está sendo estudado um congelamento nos salários do setor privado por três anos. Com isso, o clima de insatisfação e descontentamento continua se refletindo em grandes protestos e manifestações de trabalhadores.
Na Alemanha, a taxa de desemprego caiu de 7,7% em maio, para 7,5% em junho, refletindo um moderado crescimento de sua economia. Já a Irlanda, por sua vez, anunciou “oficialmente” a saída da recessão no primeiro trimestre de 2010, quando a economia do país cresceu 2,7% em relação ao trimestre anterior. Esta foi a primeira vez que a economia do país apresentou crescimento, depois de dois anos de contração. A evolução destes dados, entretanto, não é suficiente para permitir a retomada da economia desses países, indicando apenas um intervalo no período de instabilidade, que ainda não terminou.
Até mesmo a China apresentou uma desaceleração em sua atividade industrial, puxando para baixo o mercado asiático. O índice de gerentes de compra da indústria chinesa caiu de 52,7 pontos em maio, para 50,4 em junho. Os analistas de mercado estão preocupados ainda com um possível estouro da bolha imobiliária chinesa, o que poderia desencadear fortes efeitos negativos sobre toda a economia. A agência nacional de estatísticas da China informou que a desaceleração do índice oficial reflete a política monetária mais dura do governo
No Brasil, o aquecimento do mercado vem levando algumas empresas a contratação de novos trabalhadores. A fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo, anunciou a instalação de uma nova linha de motores, dobrou a capacidade de produção e, além disso, contratou 200 trabalhadores horistas, cuja jornada de trabalho varia de acordo com a produção.
O desenrolar do processo de recuperação, portanto, continua marcado pela instabilidade e pela incerteza, e a sucessão dos fatos apresenta um histórico recente de paradoxos grandes o suficiente para levar os mais otimistas a projetarem um breve retorno do crescimento da economia mundial, enquanto, do outro lado, os mais pessimistas formulam previsões de um cenário de aprofundamento da recessão, com a turbulência nos países europeus.
O fato é que esse episódio do ciclo econômico atual ainda está longe de acabar, prometendo revelar novos fatos paradoxais.
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira.
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