domingo, 18 de julho de 2010

Se a canoa não virar...

Semana de 5 a 11 de julho de 2010





As empresas líderes dos Estados Unidos estão cada vez mais temerosas de que o país sofra um “duplo-mergulho”, devido aos cortes do governo nas despesas públicas, à crise da dívida na União Européia e à desaceleração da economia chinesa. O leitor pode indagar: mas o que seria esse “duplo mergulho”? De acordo com Robert Hall, presidente do Birô Nacional de Pesquisa Econômica, comissão encarregada de declarar oficialmente o início e o fim das recessões, um duplo mergulho consistiria em uma recessão contínua pontuada por um período de crescimento, seguido de um desaquecimento ainda maior da economia.

Os sinais emitidos pela economia dos Estados Unidos parecem corroborar com a ideia de que a crise econômica, iniciada em 2008 com a quebra do banco Lehman Brothers, está longe de ter acabado. A lenta recuperação da economia americana parece ser apenas um surto temporário. O consumo privado e as exportações têm sido fracas, e nenhum deles está ganhando força. Segundo David Semmens, economista do Standard Chartered Bank, “os gastos dos consumidores continuarão contraídos por causa da lenta recuperação do mercado de trabalho e a reduzida oferta de crédito”. Além disso, a queda nos preços do aço, ocasionada por fraca demanda doméstica e internacional, fez com que as siderúrgicas cortassem a produção. Tanto a européia ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo, já adotou tal medida nas usinas do estado de Indiana, quanto a siderúrgica russa Severstal, que possui várias usinas nos Estados Unidos, pretende fazê-lo na sua unidade no estado de Maryland.

Em seu informe mensal, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, apontou que o crescimento das economias desenvolvidas caiu pelo décimo mês consecutivo. Segundo ela, a expansão atingiu o seu ponto máximo na Índia, China, Itália e França. A instituição ainda afirmou que também há sinais de que a expansão chegou ao ponto máximo no Brasil, Inglaterra e Canadá. "Picos no ciclo de crescimento emergiram na França, Itália, China e Índia e sinais de picos estão emergindo no Canadá, Reino Unido e Brasil", afirmou a OCDE em seu relatório mensal.

Na China, a adoção de uma política monetária mais rigorosa, aliada à fraca recuperação mundial, começa a ser sentida na economia. O índice dos gerentes de compras do HSBC para o país revela que a produção em geral estancou, tendo a produção industrial começando a cair. Como reflexo destes fatos, o banco de investimento Goldman Sachs reduziu sua projeção para o crescimento da economia chinesa neste ano, de 11,4%, para 10,1%, acompanhando, assim, o BNP Paribas, a Marcquaire Securities e o China International Capital que também já o fizeram. “O crescimento da China tem desacelerado significativamente, e as medidas de aperto que vimos em abril sobre o mercado de imóveis foram bastante agressivas”, disse Isaac Meng, economista do BNP Paribas em Pequim.

A lenta recuperação da economia mundial pode sofrer novos impactos negativos advindos dos ajustes fiscais implementados nos países ricos. O Instituto Internacional de Finanças (IIF), entidade que representa os maiores bancos do mundo, aponta que os ajustes fiscais nos países ricos devem reduzir em 1,25 pontos percentuais o crescimento econômico mundial em 2011. A entidade teme que o aperto fiscal provoque uma nova recessão global, e mostre que a recente recuperação econômica é muito mais uma aparência do que uma recuperação real das economias ricas. Na Zona do Euro, estas medidas devem exacerbar o já forte desemprego, o que ocasionaria o aumento das tensões sociais. Além disso, a IIF aponta que a fase de aceleração de crescimento nas economias emergentes, incluindo o Brasil, é dada como terminada. Esta avaliação aponta na mesma direção da análise feita pela OCDE, a qual nos referimos anteriormente.

O bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque: esta é uma das ideias centrais da Teoria do Caos. Em um mundo globalizado e permeado por forte incerteza, há algo parecido: qualquer pequeno distúrbio em uma das economias desenvolvidas pode ter sérias conseqüências para a deflagração de uma nova recessão mundial.



Texto escrito por:

Kaio Glauber Vital da Costa: Economista, pesquisador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.


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