sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Que dizer ao eleitorado sobre a economia?

Semana de 16 a 22 de agosto de 2010



Continua em clima de alto risco a recuperação da economia global e por maior que seja o esforço das instituições governamentais, financeiras e do conjunto dos agentes econômicos ativos, o pessimismo persiste nas bolsas. Em consequência, multiplicam-se também os papeis de alto risco, os chamados “junk bonds”, e os juros extras exigidos pelos investidores nesses tipos de papeis vêm sofrendo altas consecutivas.

As principais potências industriais dão o mote sobre a continuação das dificuldades econômicas. Os principais índices de Wall Street terminaram a semana em queda. Os títulos do Tesouro americano deram um grande salto em relação ao preço anterior, puxados pelos que tem maturação em trinta anos, em consequência da corrida dos investidores em busca de ativos seguros, depois da divulgação dos dados recentes sobre a produção industrial e o emprego nos EUA, que acentuaram os temores de uma desaceleração. O rendimento dos papeis de 10 anos cairam para 0,472%; os de 2 anos cairam até 2,555%, apontado como o menor nível desde abril de 2009. Os dados recentes reforçam o temor de desaceleração da economia americana. Os bancos americanos, entretanto, vêm relaxando os seus padrões e reduzem as suas exigências para a concessão de crédito, mudança de comportamento justificada pelo FED como “pequena reversão do aperto generalizado ocorrido ao longo dos últimos anos”.

O Japão já vem desacelerando a sua economia com moeda em alta, dado que as empresas entram em dificuldades no seu desempenho face às exportações. O iene atingiu a sua maior cotação dos últimos 15 anos. Essa situação é perigosa, pois empresas como a Murata, fabricante de peças de áudio e eletrônicos, teve um corte de 25% dos seus lucros em consequência disto. Essa percentagem, em valor absoluto corresponde à bagatela de ¥2,5 bilhões e é suficientemente expressiva para levar a empresa a tomar decisões de deslocalização industrial e projetar a transferência de grande parte da sua produção para o estrangeiro. Esta transferência já representa 15% da produção, percentagem que passará a 30%, até 2013. Em conjunto, quase dobrou o valor das aquisições das empresas japonesas no estrangeiro, cujo total passou, de US$ 11,77 bilhões, para US$ 21,77 bilhões. Essa faca de dois gumes leva a um maior poder do Japão no exterior, mas, por outro lado, põe em risco a recuperação econômica do país.

Uma outra sinalização é a que se verifica na continuidade dos movimentos de fusões e aquisições. Destacou-se nesta semana a compra, pela Intel Corporation, da McAfee Inc., produtora de antivirus, por US$ 7,68 bilhões. Depois da compra, as ações da McAfee foram avaliadas em US$ 48 por ação, que correspondeu a um crescimento de 58% em relação ao momento anterior ao acordo. Integraram-se também a LAN chilena e a TAM brasileira, que se passará a chamar Latam Airlines Group a partir do segundo trimestre de 2011. O BTG Pactual, por sua vez, comprou 100% da Goomex, a maior comercializadora independente de energia do país. Destaca-se aqui o regresso dos bancos ao mercado de comercialização de energia, atividade que tinha sido abandonada por eles desde o ínício dos anos 2000. Nesse cenário, por fim, destaca-se a fusão de duas empresas de engenharia ambiental, a Estre Ambiental e a Haztec Soluções Integradas, que juntas constituirão a maior empresa do gênero do país e alargarão a sua atuação ao tratamento de água, onde as companhias não atuavam.

Parece que se chegou finalmente a plenitude da nova era do domínio perfeito do capital financeiro. Os lucros dos bancos atingem montantes astronômicos, como é o caso do Banco do Brasil, que, no primeiro semestre de 2010, teve um lucro líquido de R$ 5,1 bilhões, 26,5% maior do que o apurado no mesmo período de 2009.

Mas o momento brasileiro é político e eleitoral, onde a economia é chamada apenas para dar aos candidatos argumentos que lhes possa proporcionar a desejada elegibilidade. No entanto, num quadro tão complexo, diante de tantas incertezas e assistindo-se os movimentos contraditórios da economia, parece razoável o apelo do candidato Tiririca: “Vote Tiririca, pior que tá não fica”.

Texto escrito por:



Elivan Gonçalves Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. Email: progeb@ccsa.ufpb.br





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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A assimetria da recuperação econômica entre os países

Semana de 09 a 15 de agosto de 2010

Além de conturbada e cheia de incertezas, a recuperação da atividade econômica nos diferentes países vem se processando de maneira desarmônica, sendo desproporcional o ritmo de retomada apresentado pelas principais economias do globo.

Países emergentes como China, Índia e o próprio Brasil parecem demonstrar um fôlego maior na atual etapa do ciclo econômico, talvez porque estivessem defasados em etapas anteriores e agora se encontrem com mais ânimo para os investimentos do que os Estados Unidos e os países da Europa Ocidental. Segundo o instituto de pesquisas Ipsos Mori, na Índia, 85% dos consumidores consideram como boa a situação de sua economia. Na China, esse índice é de 77%, ao contrário do que ocorre em países como a Espanha, onde somente 5% dos consumidores veem com otimismo sua economia. Nos Estados Unidos, os consumidores otimistas em relação à economia representam apenas 18%.

Em sua última reunião, o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed), Banco Central dos Estados Unidos, manteve a taxa de juros na faixa de zero a 0,25% ao ano e acrescentou em comunicado que “o ritmo da recuperação deve ser mais modesto no curto prazo do que havia sido antecipado”. Com efeito, os dados continuam indicando uma grande fragilidade na economia norte americana. Em junho, o déficit comercial do país aumentou mais do que o esperado, atingindo a marca de US$ 54,14 bilhões, já descontada a inflação. Outro indício de inércia na economia do país é o número de pedidos de seguro desemprego, que, de acordo com o Departamento de Trabalho, atingiu o total de 484 mil, o maior nível nos últimos seis meses.

Na zona do euro, o desempenho da produção industrial também decepcionou, ficando aquém das expectativas. Em junho, a produção industrial na União Européia registrou queda de 0,1%, após ter crescido 1,1% em maio, o que mostra a manutenção da instabilidade na região. As maiores economia do bloco, Alemanha e França, apresentaram uma retração de 0,5% e 1,6% na produção, respectivamente, cenário agravado pelo alto grau de endividamento de países como Espanha, Grécia e Portugal.

Em contraste, Brasil, Índia e China continuam apostando num ritmo mais acelerado de crescimento em relação às demais economias. Conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a economia brasileira deve crescer entre 5,5% e 6,5% este ano, apesar da influencia negativa da elevação da taxa de juros (Selic) e da instabilidade do mercado externo. O índice de atividade econômica calculado pelo Banco Central (IBC-Br) mostrou que o ritmo de crescimento do PIB desacelerou, de 2,45%, no primeiro trimestre, para 1,32%, no segundo trimestre.

Um dos setores mais aquecidos, no Brasil, está sento o da Construção Civil, estimulado pelo programa de habitação do governo federal “Minha Casa Minha Vida”, que ampliou substancialmente as linhas de financiamento para a aquisição de imóveis, para as famílias de baixa renda. Isto está levando os fabricantes de materiais de construção a operarem a pleno vapor, como é o caso da Duratex, que durante este ano chegou a uma percentagem de 98% na taxa de ocupação de suas linhas de produção de metais. No mercado já se sente a falta de materiais como tijolo, cimento e vergalhões de ferro.

Na Índia, por sua vez, se aposta num crescimento superior a 8% em 2010, e os dados da China seguem apresentando expansão de dois dígitos, a exemplo da produção industrial que cresceu a uma taxa anualizada de 13,4% em julho. Entretanto, aponta-se também para uma desaceleração, e a preocupação com a formação de bolhas permanece pairando sobre o mercado chinês.

Todos esses dados indicam, portanto, que os países emergentes saíram na frente na corrida pela recuperação econômica, o que não significa dizer que estejam livres de qualquer tropeço, ou que não possam ser puxados para baixo pelos países com mais dificuldades, como, aliás, as últimas notícias já estão sugerindo.


Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira.
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sábado, 14 de agosto de 2010

Leis e particularidades do cenário econômico atual

Os Sinais da Mudança de Fase do Ciclo Econômico Brasileiro
Semana de 02 a 08 de agosto de 2010



A despeito do consenso geral de que a liberdade é um direito básico de todo e qualquer agente econômico, acontecimentos recentes parecem demonstrar que este princípio tem opositores dentro das três principais classes do Modo de Produção Capitalista: os proprietários de terras, o proletariado e a burguesia.

No Brasil, para o cumprimento da primeira etapa de um acordo de desmatamento zero na Amazônia feito com o Greenpeace, os frigoríficos Marfrig, JBS e Minerva anunciaram, no mês passado, que deixaram de comprar gado de 221 fazendas, visto que estas estavam localizadas em terras indígenas, em território destinado à conservação ambiental ou próximas a áreas recém-desmatadas. Além disso, 1.787 propriedades estão sendo avaliadas pelas três empresas. Tais medidas, contudo, não agradaram a Associação de Criadores de Mato Grosso, a Acrimat, que, em nota divulgada nesta quinta-feira, dia 5, afirma que sua assessoria jurídica averiguará a legalidade da ação dos frigoríficos, já que, segundo eles, compete ao Estado fiscalizar a legalidade das propriedades e não aos frigoríficos. O que espanta é que, em nenhum momento, passou pela cabeça da diretoria da Acrimat, antes de quererem impingir a compra da matéria-prima produzida pelos seus associados, que, no regime de propriedade privada, compete aos frigoríficos e a mais ninguém, a decisão sobre a escolha de seus fornecedores.

Na Espanha, o governo, representante político da classe dominante em qualquer regime, estuda uma medida de “incentivo ao emprego”: o corte do seguro desemprego do desempregado que recusar uma proposta de emprego. Tal medida aparece em um momento em que o desemprego espanhol ultrapassou os 20%, sendo a maior taxa entre os países da União Européia. Mesmos que a ação do governo tenha o intuito de combater não só a crise, como também o crescimento do déficit orçamentário, não se pode deixar de lembrar que, dependendo dos termos desta medida, o Estado estará obrigando os trabalhadores a aceitarem empregos que não condizem com o seu nível de qualificação ou até mesmo que não correspondem à sua área de atuação.

Sem ficar para trás no quesito de restrição da liberdade, o movimento sindical brasileiro fez da Convenção 158, aprovada em Genebra pela Organização Internacional do Trabalho, uma das suas principais bandeiras, ao lado da redução da jornada de trabalho. Se aprovada no Brasil, tal convenção impediria as empresas de demitirem seus funcionários sem justa causa. Ou seja, mesmo que não tenham para quem vender a sua produção e queiram tentar evitar a falência com uma redução da produção para uma possível retomada da atividade no futuro, as empresas deverão manter seus funcionários a qualquer custo.

Tais acontecimentos são exemplos de formas de manifestação inusitadas que as contradições de classe podem assumir no Modo de Produção Capitalista e constituem aspectos particulares do quadro econômico atual. Mas, particularidades a parte, a manifestação de uma lei do regime econômico atual, a “Lei Geral de Acumulação Capitalista”, está em evidência na economia dos Estados Unidos. O chefe do escritório do Financial Times em Londres, Edward Luce, em artigo publicado no Financial Times de Washington, constata o esmagamento da classe média americana e a estagnação da renda da grande maioria da população, enquanto cresce substancialmente a renda de uma pequena minoria. Segundo ele, “a renda atual dos 90% de famílias menos bem de vida nos EUA permaneceu essencialmente inalterada desde 1073 – tendo crescido apenas 10% nos últimos 27 anos.” Apesar desta estagnação, “No mesmo período, a renda do 1% das famílias mais ricas triplicou.” Segundo a maioria dos economistas, a tendência que eles denominam de “estagnação do salário mediano” vem se intensificando atualmente. No último ciclo de expansão estadunidense, de janeiro de 2002 a dezembro de 2007, a renda familiar americana mediana diminuiu US$ 2 mil dólares.

Saber diferenciar aspectos particulares e gerais, ou seja, saber diferenciar as leis de desenvolvimento dos fenômenos das suas exceções constitui tarefa primordial de qualquer cientista. Enquanto algumas características do cenário atual são particulares a ele, outras se desenvolvem desde o início do sistema capitalista e, em virtude disto, têm uma evolução extremamente previsível, como a crescente pauperização da população nos EUA.



Texto escrito por:



Antonio Carneiro de Almeida Júnior: Economista, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR, PPGDE/UFPR, e pesquisador do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.


Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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domingo, 8 de agosto de 2010

A canoa está fazendo água

Semana de 26 de julho a 01 de agosto de 2010



Mais uma vez a realidade mostrou que temos razão. Até o Banco Central (BC) está sendo forçado a admiti-lo. Segundo Octávio Barros, economista do Bradesco, “a desaceleração da atividade é clara o suficiente para fazer o BC alterar o ritmo da elevação dos juros”. Com efeito, o Conselho de política monetária (Copom) reduziu o ritmo de elevação dos juros para 0,5% na última reunião, e agora, com a divulgação da Ata, foi necessário ler nas entrelinhas o conjunto de desculpas esfarrapadas escritas em linguagem cifrada. As fofocas são muitas, e há quem pense em mudanças qualitativas dentro da diretoria do BC, com o afastamento de alguns “xiitas” ortodoxos seguidores do presidente do BC, Henrique Meirelles. Agora, se fala em “influência externa deflacionária e menor crescimento global” e em “uma trajetória mais condizente com o equilíbrio de longo prazo”, e projeta-se o horizonte da análise para 2012 e não para 2011 como era costume.

Por traz desta mudança de atitude do BC estão a impaciência do governo em ganhar as eleições e o medo, que cresce, da desaceleração da economia. O próprio BC, através do Índice de Atividade por ele calculado, já havia detectado esta desaceleração desde maio. Em junho, ela continuou e culminou no crescimento negativo do PIB em julho. Com isto, as estimativas de crescimento para este ano, que eram de 7,3%, já começaram a cair para 7%. O Ministério da Fazenda calculou que, em junho, o crescimento caiu para 0,7% e, em julho, conforme mencionado anteriormente, foi negativo: -0,1%. O crescimento do PIB, no primeiro trimestre, que foi de 2,7%, foi reduzido para 0,5%, no segundo trimestre e, no terceiro, continuará em baixa. A estimativa de 7% para o PIB do ano já está sendo corrigida para 6,5%. Até setembro, não se espera recuperação. Diante desta realidade, o secretário de política econômica, Nelson Barbosa, justificou que isto será resultado da queda da demanda externa que, até o final do ano, terá uma contribuição negativa de -2,1%, o que afetará o PIB, apesar do crescimento da demanda interna que deverá ser de 8,5% a 9%.

Enfim, eis o reconhecimento do que nós já previmos, desde o inicio do ano. O Brasil não pode ter um processo de recuperação sólido isolado deste velho mundo globalizado. E isto, apesar de todo o esforço do governo para forçar a recuperação. Para a tristeza do Ministério da fazenda, o país não agüentou manter as desonerações fiscais por mais tempo. No entanto, tem conseguido segurar o esforço de crédito oficial através do banco do Brasil (BB), da Caixa, do BNDES e do BN. Só o BB aumentou seus empréstimos em 36% no primeiro trimestre deste ano, atingindo R$ 327,4 bilhões. O BNDES recebeu um empréstimo de R$ 100 bilhões do Tesouro Nacional, lastreados nas emissões de títulos indexados à Selic (10,75% a.a.). O mesmo BNDES foi autorizado a fornecer empréstimos a taxas subsidiadas no Programa de Sustentação do Investimento (PSI). Isto mostra que a bondade do governo recai sobre o bolso do contribuinte que pagará a diferença dos juros.

Os outros programas do governo, como os programas sociais e o de habitação, também continuam tendo um poderoso efeito de arrastamento que se reflete nos índices de produção de todas as empresas relacionadas com a construção civil e na criação do terceiro turno de trabalho em muitas delas.

No conjunto da indústria, no entanto, a situação não vai muito bem. Um estudo feito pela UFRJ demonstra que, no primeiro semestre do ano, o valor das exportações de produtos industriais igualou-se ao das importações. Ora, há cinco anos atrás, as exportações eram 66% superiores às importações. Os valores exportados pela indústria tradicional ficaram 87% inferiores aos daquele período. Isto certamente tem forte influência da política cambial do BC e da falta de uma política industrial do governo.

O efeito da política cambial, além disso, tem outras conseqüências. No mês de junho, as contas externas apresentaram um rombo de US$ 5,18 bilhões. Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) causaram grande decepção, pois, dos US$ 1,5 bilhões estimados, só chegaram ao país pouco mais de US$ 700 milhões. Para piorar a situação, os capitais estrangeiros enviaram, para fora do país, lucros no valor de US$ 1,728 bilhões.

Como havíamos previsto, a política econômica praticada pelo governo, sob a influência do BC, sob o comando do H. Meirelles, continua a dificultar as intenções do próprio governo, desesperado para manter o ritmo de crescimento da economia a qualquer custo, diante da aproximação das eleições.



Texto escrito por:


Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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domingo, 1 de agosto de 2010

Crise mundial à vista

Semana de 19 a 25 de julho de 2010





Crescem os rumores e os temores de uma nova crise mundial.

As quedas dos preços das commodities e do frete marítimo indicam uma desaceleração, não só do comércio mundial, mas da economia global. Estudo da Unctad (sigla em inglês da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento) mostra que o comércio mundial continua 20% abaixo dos níveis pré-crise e que a maioria das projeções de crescimento das economias para este ano continua caindo. Para os Estados Unidos, caiu de 3,2% para 3%, para a zona do euro, de 3,7% para 3,5%, e para a China, projeta-se um aumento menor que 10%. Segundo o órgão, tais projeções podem se concretizar, pois os investimentos dos principais países não indicam recuperação econômica, e o consumo também não apresenta sinais de reanimação. Com estas perspectivas, a Unctad chama a atenção para o fato de que as políticas nesta fase tendem a ser mais protecionistas, o que pode provocar uma desintegração da economia mundial.

Ben Bernanke, presidente do Banco Central americano, confirma as expectativas do mercado ao avaliar de forma pessimista a economia norte-americana, declarando que não espera uma recuperação padrão. Tais comentários afetaram negativamente o mercado.

Além disso, o fraco desempenho da economia dos EUA está derrubando as negociações do mercado imobiliário, que passa a enfrentar o aumento do estoque de casas e uma demanda novamente em queda. A preocupação do presidente americano com a economia é latente, e seu governo conseguiu aprovar uma dilatação do prazo de auxílio aos desempregados.

Se somarmos a situação norte-americana ao panorama europeu, já tão comentado, as chances de uma nova crise está se tornando cada vez maior.

No cenário interno, concretizou-se, mais uma vez, o aumento da taxa Selic, desta vez em 0,5%, elevando os juros para 10,75%. Uma curiosidade da última ata do Comitê de Política Monetária é que o cenário externo voltou a ser considerado em sua decisão. Ou seja, além da redução dos riscos inflacionários e da evolução dos fatores domésticos, consideraram-se os fatores externos.

Mas, se espera que uma forte desaceleração da economia brasileira se tenha iniciado em abril e baixam as expectativas de crescimento do PIB para o segundo trimestre. Os números da produção industrial e das vendas no varejo fizeram com que os analistas das principais instituições financeiras revisassem para baixo a projeção para o segundo trimestre, que ficou em média em 0,5%. O Ministério da Fazenda estima que a economia brasileira crescerá 6,5% este ano, e a inflação, 5,2%.

As boas notícias vêm do setor social. Segundo o Dieese o emprego formal atingiu, em 2010, mais de 50% dos ocupados. O motivo, segundo a instituição, foi a aceleração do crescimento da economia de 2004 a 2008.

Uma pesquisa feita pela FGV detectou que a renda per capita do brasileiro, entre 2003 e 2008, cresceu 5,26% em termos reais, passando de R$ 458 para R$ 592. Visto pela fonte, a parte da renda que mais cresceu foi a vinculada aos programas sociais (20,99%), enquanto que a originada pelo trabalho aumentou 5,13% ao ano. A parcela da renda das pessoas mais pobres associada ao Bolsa Família e a outros programas sociais, entre 2003 e 2008, passou de 4,9% para 16,3%. No total da renda do país, a parcela duplicou no período, passou de 1,1% para 2,15%. A pobreza, por sua vez, segundo os critérios oficiais, foi reduzida em 43%.

Aproveitando-se do sucesso do programa social do governo, os candidatos à presidência da República lançam suas promessas. O “promessômetro” passa por Dilma, que, tentando apresentar seu diferencial, se compromete a integrar o Bolsa Família a oportunidades na área de educação profissional, programas de alfabetização e microcrédito.

Distribuir cestas básicas e remédios aos mais carentes, entregar medicamentos pelos Correios, dar enxoval às grávidas, criar o Bolsa-extra para estudantes de cursos técnicos e dobrar o Bolsa Família são as inovações prometidas pelo candidato José Serra. Na área econômica nada se promete: todos os candidatos implicitamente parecem concordar com a política econômica do governo.

Enquanto isso, o mundo gira, a economia mundial não engata e o cenário de incertezas, tanto interno quanto externo, continua.



Texto escrito por:



Rosângela Palhano Ramalho: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.


Email: progeb@ccsa.ufpb.br



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