Crescem os rumores e os temores de uma nova crise mundial.
As quedas dos preços das commodities e do frete marítimo indicam uma desaceleração, não só do comércio mundial, mas da economia global. Estudo da Unctad (sigla em inglês da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento) mostra que o comércio mundial continua 20% abaixo dos níveis pré-crise e que a maioria das projeções de crescimento das economias para este ano continua caindo. Para os Estados Unidos, caiu de 3,2% para 3%, para a zona do euro, de 3,7% para 3,5%, e para a China, projeta-se um aumento menor que 10%. Segundo o órgão, tais projeções podem se concretizar, pois os investimentos dos principais países não indicam recuperação econômica, e o consumo também não apresenta sinais de reanimação. Com estas perspectivas, a Unctad chama a atenção para o fato de que as políticas nesta fase tendem a ser mais protecionistas, o que pode provocar uma desintegração da economia mundial.
Ben Bernanke, presidente do Banco Central americano, confirma as expectativas do mercado ao avaliar de forma pessimista a economia norte-americana, declarando que não espera uma recuperação padrão. Tais comentários afetaram negativamente o mercado.
Além disso, o fraco desempenho da economia dos EUA está derrubando as negociações do mercado imobiliário, que passa a enfrentar o aumento do estoque de casas e uma demanda novamente em queda. A preocupação do presidente americano com a economia é latente, e seu governo conseguiu aprovar uma dilatação do prazo de auxílio aos desempregados.
Se somarmos a situação norte-americana ao panorama europeu, já tão comentado, as chances de uma nova crise está se tornando cada vez maior.
No cenário interno, concretizou-se, mais uma vez, o aumento da taxa Selic, desta vez em 0,5%, elevando os juros para 10,75%. Uma curiosidade da última ata do Comitê de Política Monetária é que o cenário externo voltou a ser considerado em sua decisão. Ou seja, além da redução dos riscos inflacionários e da evolução dos fatores domésticos, consideraram-se os fatores externos.
Mas, se espera que uma forte desaceleração da economia brasileira se tenha iniciado em abril e baixam as expectativas de crescimento do PIB para o segundo trimestre. Os números da produção industrial e das vendas no varejo fizeram com que os analistas das principais instituições financeiras revisassem para baixo a projeção para o segundo trimestre, que ficou em média em 0,5%. O Ministério da Fazenda estima que a economia brasileira crescerá 6,5% este ano, e a inflação, 5,2%.
As boas notícias vêm do setor social. Segundo o Dieese o emprego formal atingiu, em 2010, mais de 50% dos ocupados. O motivo, segundo a instituição, foi a aceleração do crescimento da economia de 2004 a 2008.
Uma pesquisa feita pela FGV detectou que a renda per capita do brasileiro, entre 2003 e 2008, cresceu 5,26% em termos reais, passando de R$ 458 para R$ 592. Visto pela fonte, a parte da renda que mais cresceu foi a vinculada aos programas sociais (20,99%), enquanto que a originada pelo trabalho aumentou 5,13% ao ano. A parcela da renda das pessoas mais pobres associada ao Bolsa Família e a outros programas sociais, entre 2003 e 2008, passou de 4,9% para 16,3%. No total da renda do país, a parcela duplicou no período, passou de 1,1% para 2,15%. A pobreza, por sua vez, segundo os critérios oficiais, foi reduzida em 43%.
Aproveitando-se do sucesso do programa social do governo, os candidatos à presidência da República lançam suas promessas. O “promessômetro” passa por Dilma, que, tentando apresentar seu diferencial, se compromete a integrar o Bolsa Família a oportunidades na área de educação profissional, programas de alfabetização e microcrédito.
Distribuir cestas básicas e remédios aos mais carentes, entregar medicamentos pelos Correios, dar enxoval às grávidas, criar o Bolsa-extra para estudantes de cursos técnicos e dobrar o Bolsa Família são as inovações prometidas pelo candidato José Serra. Na área econômica nada se promete: todos os candidatos implicitamente parecem concordar com a política econômica do governo.
Enquanto isso, o mundo gira, a economia mundial não engata e o cenário de incertezas, tanto interno quanto externo, continua.
Rosângela Palhano Ramalho: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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