Continua em clima de alto risco a recuperação da economia global e por maior que seja o esforço das instituições governamentais, financeiras e do conjunto dos agentes econômicos ativos, o pessimismo persiste nas bolsas. Em consequência, multiplicam-se também os papeis de alto risco, os chamados “junk bonds”, e os juros extras exigidos pelos investidores nesses tipos de papeis vêm sofrendo altas consecutivas.
As principais potências industriais dão o mote sobre a continuação das dificuldades econômicas. Os principais índices de Wall Street terminaram a semana em queda. Os títulos do Tesouro americano deram um grande salto em relação ao preço anterior, puxados pelos que tem maturação em trinta anos, em consequência da corrida dos investidores em busca de ativos seguros, depois da divulgação dos dados recentes sobre a produção industrial e o emprego nos EUA, que acentuaram os temores de uma desaceleração. O rendimento dos papeis de 10 anos cairam para 0,472%; os de 2 anos cairam até 2,555%, apontado como o menor nível desde abril de 2009. Os dados recentes reforçam o temor de desaceleração da economia americana. Os bancos americanos, entretanto, vêm relaxando os seus padrões e reduzem as suas exigências para a concessão de crédito, mudança de comportamento justificada pelo FED como “pequena reversão do aperto generalizado ocorrido ao longo dos últimos anos”.
O Japão já vem desacelerando a sua economia com moeda em alta, dado que as empresas entram em dificuldades no seu desempenho face às exportações. O iene atingiu a sua maior cotação dos últimos 15 anos. Essa situação é perigosa, pois empresas como a Murata, fabricante de peças de áudio e eletrônicos, teve um corte de 25% dos seus lucros em consequência disto. Essa percentagem, em valor absoluto corresponde à bagatela de ¥2,5 bilhões e é suficientemente expressiva para levar a empresa a tomar decisões de deslocalização industrial e projetar a transferência de grande parte da sua produção para o estrangeiro. Esta transferência já representa 15% da produção, percentagem que passará a 30%, até 2013. Em conjunto, quase dobrou o valor das aquisições das empresas japonesas no estrangeiro, cujo total passou, de US$ 11,77 bilhões, para US$ 21,77 bilhões. Essa faca de dois gumes leva a um maior poder do Japão no exterior, mas, por outro lado, põe em risco a recuperação econômica do país.
Uma outra sinalização é a que se verifica na continuidade dos movimentos de fusões e aquisições. Destacou-se nesta semana a compra, pela Intel Corporation, da McAfee Inc., produtora de antivirus, por US$ 7,68 bilhões. Depois da compra, as ações da McAfee foram avaliadas em US$ 48 por ação, que correspondeu a um crescimento de 58% em relação ao momento anterior ao acordo. Integraram-se também a LAN chilena e a TAM brasileira, que se passará a chamar Latam Airlines Group a partir do segundo trimestre de 2011. O BTG Pactual, por sua vez, comprou 100% da Goomex, a maior comercializadora independente de energia do país. Destaca-se aqui o regresso dos bancos ao mercado de comercialização de energia, atividade que tinha sido abandonada por eles desde o ínício dos anos 2000. Nesse cenário, por fim, destaca-se a fusão de duas empresas de engenharia ambiental, a Estre Ambiental e a Haztec Soluções Integradas, que juntas constituirão a maior empresa do gênero do país e alargarão a sua atuação ao tratamento de água, onde as companhias não atuavam.
Parece que se chegou finalmente a plenitude da nova era do domínio perfeito do capital financeiro. Os lucros dos bancos atingem montantes astronômicos, como é o caso do Banco do Brasil, que, no primeiro semestre de 2010, teve um lucro líquido de R$ 5,1 bilhões, 26,5% maior do que o apurado no mesmo período de 2009.
Mas o momento brasileiro é político e eleitoral, onde a economia é chamada apenas para dar aos candidatos argumentos que lhes possa proporcionar a desejada elegibilidade. No entanto, num quadro tão complexo, diante de tantas incertezas e assistindo-se os movimentos contraditórios da economia, parece razoável o apelo do candidato Tiririca: “Vote Tiririca, pior que tá não fica”.
Elivan Gonçalves Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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