Já faz algum tempo que estamos chamando a atenção para os perigos da política econômica do governo, a saber, a política do Saci Macroeconômico. Ao invés do tripé, câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação, a política econômica, desde o início do governo do PT, tem um único pé, como um saci: "sustentar" a inflação em um nível determinado.
A meta para a inflação de 2010 era de 4,5%. Porém, o índice oficial do governo para o cálculo da meta inflacionária, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), registrou, no ano passado, um aumento de 5,9%. Para 2011 a meta é a mesma, com a diferença de que este não é um ano de eleições, ou seja, o BC pode adotar políticas econômicas e medidas “macroprudenciais” bem mais restritivas.
O provável crescimento de 7,5% do PIB em 2010 causou, segundo o Comitê de Política Monetária (Copom), uma pressão inflacionária na economia brasileira, na medida em que a demanda aumentou e a oferta não a acompanhou. Por isso, desde dezembro, foram tomadas medidas de restrição do crédito, tais como o aumento do depósito compulsório e do requerimento de capital para realização de alguns empréstimos. Como consequência, ocorreu uma elevação de, em média, 0,2% nas taxas de juros. O resultado da última reunião do Copom, onde se decidiu elevar a Selic para 11,25%, vem somar-se a isso. O motivo para o aumento foi a elevação do IPCA entre 15 de dezembro de 2010 e 15 de janeiro de 2011, que atingiu 0,76%, ante 0,69% entre 15 de novembro e 15 de dezembro de 2010. Este é o "cenário inflacionário" que levou o BC a apostar em um novo aumento dos juros básicos nos próximos meses.
Ao elevar a taxa Selic, o Banco Central estimula a entrada de capital estrangeiro no país, pois lá fora há uma abundância de capitais e uma baixíssima remuneração (nos EUA, por exemplo, a taxa básica de juros está entre 0% e 0,25%). Como boa parte dos títulos brasileiros é cotada em real, para comprá-los, é necessário que se troquem os dólares pela moeda local, aumentando assim a oferta de moeda estrangeira e, consequentemente, reduzindo a taxa de câmbio, isto é, tornando o dólar mais barato. No ano passado, quando a Selic ficou entre 8,75% e 10,25%, o país registrou uma entrada líquida de US$ 24,354 bilhões, 15% menos que em 2009, quando os juros variaram entre 8,75% e 12,75%. Por outro lado, em 2010, o BC comprou US$ 41 bilhões para conter a apreciação do real.
Uma consequência direta disto é o chamado "carry trade", uma operação onde se capta dólar barato no exterior para vender ao BC e, com os reais obtidos, fazer aplicações com retornos maiores. Isto explica o crescimento do crédito externo ao Brasil que foi de 1.447% nos três primeiros trimestres de 2010 em comparação com o mesmo período de 2009. O total de crédito oferecido por instituições financeiras estrangeiras, inclusive em moeda local, chegou a US$ 447,7 bilhões. Das instituições financiadoras, em primeiro lugar estão as espanholas (US$ 168 bi), seguidas das norte-americanas (US$ 79 bi.) e britânicas (US$ 76 bi). As empresas brasileiras também captam diretamente recursos no mercado internacional e, este ano, o total já atingiu US$ 10,3 bilhões.
Mas, o BC parece não aguentar mais esta política. Este ano, até o dia 21 de janeiro, o Brasil apresentou um fluxo líquido positivo de US$ 9,205 bi, enquanto que o BC só comprou US$ 3,927 bi no mercado à vista. O motivo seria o elevado custo de manutenção das reservas cambiais, que estão atualmente em US$ 295,9 bi. Para o país, sai caro devido a diferença entre os juros internos e externos, e estima-se que este custo atualmente gire em torno de 1% do PIB. Se as reservas estiverem saturadas, e o BC não intervir mais no mercado como comprador, não há como "controlar" a taxa de câmbio, que tenderá a cair.
Com a valorização da moeda local surgem os problemas para a balança comercial.
Em termos de volume, o país importou, no ano passado, 13,9% mais do que em 2008, enquanto as exportações caíram 2,2% na mesma comparação. O saldo da balança comercial, porém, só não foi negativo porque o preço médio dos produtos importados caiu (ficaram 8% mais baratos), enquanto aumentou (4,4%) o preço médio dos produtos exportados (em sua maioria commodities).
Esta é a tendência do modelo Saci Macroeconômico. Como toda tendência, é fácil saber onde vai parar. O difícil é mudar sua trajetória.
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