sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

RETROSPECTIVA 2024...

 Semana de 16 a 22 de dezembro de 2024

Lucas Milanez de Lima Almeida[i]


Em alguns aspectos, o ano de 2024 começou igual ao de 2023: “os mercados” previram, novamente, o colapso da economia brasileira. Com o passar dos meses, as expectativas pessimistas foram sendo frustradas pela própria realidade. Na maior parte do ano, a economia cresceu e a inflação se conteve abaixo do teto da meta. Porém, “os mercados” não se deram por satisfeitos.

Apesar do restritivo “Novo Arcabouço Fiscal” já estar em operação (substituindo o ainda pior “Teto dos Gastos”), desde os primeiros meses do ano os especuladores levantaram dúvidas sobre o cumprimento dessa nova regra de gastos públicos. Como principal ícone, símbolo maior dos mercados, vimos o presidente do Banco Central falar mal da situação do Brasil para meio mundo. Roberto Campos Neto, sem dúvidas, foi o grande mensageiro da desgraça. Com a autoridade que (infelizmente) tem, suas palavras serviram de norte para “os mercados” continuarem a apostar no pior.

Entretanto, a desgraça não se abateu sobre o Brasil. Pelo contrário, os salários e os lucros se elevaram, o desemprego caiu, a produção aumentou, o investimento se expandiu, enfim, a economia continuou sua retomada cíclica. Aborrecidos, por razões que vão desde as limitações da visão de mundo dos seus operadores (limites de ordens teórica e científica) aos interesses econômicos dos seus mandatários, “os mercados” dobraram a aposta pela piora. Sem levarem em conta que o Congresso Nacional foi o grande culpado, a capacidade de Lula de cumprir a regra fiscal foi colocada em xeque ao longo de todo o ano de 2024. Não que a realidade estivesse ruim, mas, para “os mercados”, vale mais a especulação do que a própria realidade.

Com a melhora na arrecadação, devido ao aquecimento da economia, e com os contingenciamentos e bloqueios de bilhões de reais ao longo do ano, o governo “resolveu” esta questão para 2024. Mas, se engana quem achou que o mercado desistiria. Passou-se a questionar o orçamento de 2025.

Nesse contexto, o dólar foi o grande “nervosômetro” do mercado. Como muito se tem noticiado, o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo em 2024. Ao longo do ano, a moeda brasileira apresentou diferentes padrões de comportamento em relação ao dólar. A tabela e o gráfico a seguir mostram isto. Nos meses de maio, julho e novembro, o comportamento do real se descolou do movimento das principais moedas frente ao dólar (medido pelo índice DXY). Por exemplo, ao longo do primeiro semestre, a valorização do dólar frente a outras moedas foi pequena (3,2%), enquanto o real saiu de uma cotação de R$/US$ 4,92, em janeiro, para R$/US$ 5,59, em junho (um aumento nominal de 13,6%). A partir daí os movimentos especulativos foram se intensificando, fazendo que com o dólar oscilasse fortemente. Tudo isto culminou com o ataque especulativo a partir de novembro, que obrigou o Banco Central a intervir no mercado de câmbio.

Assim, em uma verdadeira sinuca de bico e pelo segundo ano consecutivo, Fernando Haddad teve que apresentar novas medidas de contenção das despesas. Contudo, desta vez, para satisfazer a voracidade “dos mercados”, os pobres precisaram ser atacados: dentre outras coisas, foram aprovadas mudanças nas regras de reajuste do salário-mínimo e de benefícios sociais. Mas, verdade seja dita, é certo que não foi culpa do ministro a manutenção da mamata que alcançou R$ 646,6 bilhões em benefícios dados pela União. Por exemplo, ainda em 2023, foi o Congresso que prorrogou o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE) e a desoneração da folha. Só aí seria possível obter, por baixo, R$ 23 bilhões.

Enfim, tanto as pesquisas de intenção de votos, quanto os editoriais da grande mídia têm mostrado que a fome “dos mercados” não foi saciada. Na realidade, enquanto Lula for presidente, ela jamais será. O que eles querem é ter a faca e o queijo nas mãos, para pode cortar o quê, quando e onde quiserem. Não por coincidência, isto sempre se traduz em: tirar o pobre do orçamento. Com Lula “os mercados” já viram que não será possível, o que é um alento para a classe trabalhadora. Com Haddad, “os mercados” têm esperança (infelizmente, eu tenho a mesma percepção deles...).

Esse foi o ano de 2024. Dá para esperar coisa melhor de 2025? Não muito. Mas, é isso, a classe trabalhadora nunca obteve nada de graça, sempre lutou por tudo o que tem. No capitalismo é assim.

Feliz ano novo e sigamos na luta.

 

Correlação entre R$/US$ e DXY: cotação diária

Trimestral

Mensal

4º Trim.

0.8587

Dezembro

0.7053

Novembro

0.1915

Outubro

0.9231

3º Trim.

0.1818

Setembro

0.9274

Agosto

0.4322

Julho

0.1315

2º Trim.

0.3253

Junho

0.8739

Maio

-0.1177

Abril

0.8643

1º Trim.

0.6674

Março

0.4107

Fevereiro

0.3718

Janeiro

0.7630

               Fonte: elaboração própria, a partir de dados da Investing.com Brasil

 



             Fonte: elaboração própria, a partir de dados da Investing.com Brasil

 


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antônio Fontes, Icaro Moisés, Lara Souza, Ryann Felix, Guilherme de Paula, e Paola Arruda.

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