Semana de 16 a 22 de dezembro de 2024
Lucas Milanez de Lima Almeida[i]
Em alguns aspectos, o ano de 2024 começou
igual ao de 2023: “os mercados” previram, novamente, o colapso da economia
brasileira. Com o passar dos meses, as expectativas pessimistas foram sendo
frustradas pela própria realidade. Na maior parte do ano, a economia cresceu e
a inflação se conteve abaixo do teto da meta. Porém, “os mercados” não se deram
por satisfeitos.
Apesar do restritivo “Novo Arcabouço
Fiscal” já estar em operação (substituindo o ainda pior “Teto dos Gastos”),
desde os primeiros meses do ano os especuladores levantaram dúvidas sobre o
cumprimento dessa nova regra de gastos públicos. Como principal ícone, símbolo
maior dos mercados, vimos o presidente do Banco Central falar mal da situação
do Brasil para meio mundo. Roberto Campos Neto, sem dúvidas, foi o grande
mensageiro da desgraça. Com a autoridade que (infelizmente) tem, suas palavras
serviram de norte para “os mercados” continuarem a apostar no pior.
Entretanto, a desgraça não se abateu sobre
o Brasil. Pelo contrário, os salários e os lucros se elevaram, o desemprego
caiu, a produção aumentou, o investimento se expandiu, enfim, a economia
continuou sua retomada cíclica. Aborrecidos, por razões que vão desde as
limitações da visão de mundo dos seus operadores (limites de ordens teórica e
científica) aos interesses econômicos dos seus mandatários, “os mercados”
dobraram a aposta pela piora. Sem levarem em conta que o Congresso Nacional foi
o grande culpado, a capacidade de Lula de cumprir a regra fiscal foi colocada
em xeque ao longo de todo o ano de 2024. Não que a realidade estivesse ruim,
mas, para “os mercados”, vale mais a especulação do que a própria realidade.
Com a melhora na arrecadação, devido ao
aquecimento da economia, e com os contingenciamentos e bloqueios de bilhões de
reais ao longo do ano, o governo “resolveu” esta questão para 2024. Mas, se
engana quem achou que o mercado desistiria. Passou-se a questionar o orçamento
de 2025.
Nesse contexto, o dólar foi o grande
“nervosômetro” do mercado. Como muito se tem noticiado, o real foi a moeda que
mais se desvalorizou no mundo em 2024. Ao longo do ano, a moeda brasileira
apresentou diferentes padrões de comportamento em relação ao dólar. A tabela e
o gráfico a seguir mostram isto. Nos meses de maio, julho e novembro, o
comportamento do real se descolou do movimento das principais moedas frente ao
dólar (medido pelo índice DXY). Por exemplo, ao longo do primeiro semestre, a
valorização do dólar frente a outras moedas foi pequena (3,2%), enquanto o real
saiu de uma cotação de R$/US$ 4,92, em janeiro, para R$/US$ 5,59, em junho (um
aumento nominal de 13,6%). A partir daí os movimentos especulativos foram se
intensificando, fazendo que com o dólar oscilasse fortemente. Tudo isto
culminou com o ataque especulativo a partir de novembro, que obrigou o Banco
Central a intervir no mercado de câmbio.
Assim, em uma verdadeira sinuca de bico e
pelo segundo ano consecutivo, Fernando Haddad teve que apresentar novas medidas
de contenção das despesas. Contudo, desta vez, para satisfazer a voracidade
“dos mercados”, os pobres precisaram ser atacados: dentre outras coisas, foram
aprovadas mudanças nas regras de reajuste do salário-mínimo e de benefícios
sociais. Mas, verdade seja dita, é certo que não foi culpa do ministro a
manutenção da mamata que alcançou R$ 646,6 bilhões em benefícios dados pela
União. Por exemplo, ainda em 2023, foi o Congresso que prorrogou o Programa
Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE) e a desoneração da folha.
Só aí seria possível obter, por baixo, R$ 23 bilhões.
Enfim, tanto as pesquisas de intenção de
votos, quanto os editoriais da grande mídia têm mostrado que a fome “dos
mercados” não foi saciada. Na realidade, enquanto Lula for presidente, ela
jamais será. O que eles querem é ter a faca e o queijo nas mãos, para pode
cortar o quê, quando e onde quiserem. Não por coincidência, isto sempre se
traduz em: tirar o pobre do orçamento. Com Lula “os mercados” já viram que não
será possível, o que é um alento para a classe trabalhadora. Com Haddad, “os
mercados” têm esperança (infelizmente, eu tenho a mesma percepção deles...).
Esse foi o ano de 2024. Dá para esperar
coisa melhor de 2025? Não muito. Mas, é isso, a classe trabalhadora nunca
obteve nada de graça, sempre lutou por tudo o que tem. No capitalismo é assim.
Feliz ano novo e sigamos na luta.
Correlação entre
R$/US$ e DXY: cotação diária
Trimestral |
Mensal |
||
4º Trim. |
0.8587 |
Dezembro |
0.7053 |
Novembro |
0.1915 |
||
Outubro |
0.9231 |
||
3º Trim. |
0.1818 |
Setembro |
0.9274 |
Agosto |
0.4322 |
||
Julho |
0.1315 |
||
2º Trim. |
0.3253 |
Junho |
0.8739 |
Maio |
-0.1177 |
||
Abril |
0.8643 |
||
1º Trim. |
0.6674 |
Março |
0.4107 |
Fevereiro |
0.3718 |
||
Janeiro |
0.7630 |
Fonte: elaboração própria, a partir de
dados da Investing.com Brasil
Fonte: elaboração própria, a partir de
dados da Investing.com Brasil
[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antônio Fontes, Icaro Moisés, Lara Souza,
Ryann Felix, Guilherme de Paula, e Paola Arruda.
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