Semana de 13 a 19 de junho de 2011
Tatiana Losano de Abreu [i]
De forma surpreendente para alguns (mas não para nós!), as notícias pouco otimistas se tornaram cotidianas. Depois da Grécia, chegou a vez de Portugal. O novo Primeiro Ministro eleito, Pedro Passos Coelho (líder dos sociais-democratas-PSD, de centro-direita) alertou, esta semana, para os “anos terríveis” que virão, já que o país se depara com uma recessão profunda e um desemprego recorde que impossibilitam o retorno ao crescimento e a reconquista da confiança dos investidores. Com a preocupação de voltar aos mercados financeiros, até 2013, e garantir o compromisso estabelecido com o FMI de reduzir o déficit orçamentário, de 9% do Produto Interno Bruto – PIB, apresentado em 2010, para 3% em 2011, o Primeiro Ministro garante pôr em prática um programa, ainda mais rigoroso, de austeridade e reformas estruturais. O novo governo promete: acelerar e expandir o programa de privatizações, que inclui vender a emissora estatal de mídia, privatizar até 49% das empresas de fornecimento de água e escancarar as portas aos investidores externos. Enquanto isso, manifestantes vão às ruas para contestar o atual sistema político e as medidas de austeridade econômica que o novo governo promete adotar.
Mas Portugal não conseguiu roubar inteiramente a cena à Grécia. Durante a semana o país manteve-se nos noticiários. A despeito das fortes políticas de controle fiscal adotadas, a insegurança aumentou quando o FMI ameaçou reter a parcela do que resta do plano de socorro original de 110 bilhões de euros (equivalente a 159 bilhões de dólares), pondo fim a qualquer possibilidade de estabilização da situação fiscal grega e aumentando consideravelmente as chances de default, o que repercutiria em todos aqueles que carregam uma montanha de títulos da dívida grega em seus balanços, como o Banco Central Europeu. O temor só foi amenizado quando os membros da zona do euro declararam confiar no Parlamento grego para que aprove, nos próximos dias, um plano com as novas medidas de austeridade impostas. Isto feito, o desbloqueio da próxima parcela de empréstimos, com o fim de evitar a bancarrota grega, será realizado. O primeiro-ministro grego, Georges Papandreou declarou que a aprovação das medidas mostrará as intenções do governo de assumir a responsabilidade com o país e com o povo. A população, entretanto, parece discordar do ministro. No último dia 15, cerca de vinte mil gregos, invadiram as ruas de Atenas, numa manifestação para tentar impedir a aprovação deste plano, no Parlamento. Este foi mais um dia de greve geral – a terceira deste ano - que paralisou parcialmente os serviços administrativos, os transportes e os estabelecimentos de comércio.
As más notícias vão além da zona do euro. A China, segunda maior economia do mundo, também está passando por “maus bocados”, com um índice de inflação que atingiu 5,5%, nível mais elevado em quase três anos. O governo reagiu elevando o depósito compulsório dos bancos, o que retirou do mercado 380 bilhões de yuans, equivalente a US$ 60 bilhões e inibindo o crédito. A redução da concessão de empréstimos na China é apenas um dos sinais recentes que sugerem que a super potência está desacelerando ao mesmo tempo em que o governo perde credibilidade com o povo ao ponto de acionar as polícias da tropa de choque, armados com gás lacrimogêneo, para conter os trabalhadores da cidade de Zengcheng, situada ao sul do país, que reclamavam das más condições de trabalho.
E na economia mais rica do mundo? Os últimos indicadores da economia americana foram desapontadores, ao ponto do Laurence Summers, ex-diretor do Conselho Nacional de Economia da Casa Branca, diagnosticar a realidade americana como “a década perdida”. A preocupação maior é o risco de estagflação, ou seja, baixo crescimento acompanhado de altas taxas de inflação. Entre abril e maio, o índice de preços subiu de 0,2%, para 3,6%, entre maio deste ano e do ano passado e a produção industrial cresceu apenas 0,1%, em maio.
Analisando estes fatos, até os mais “otimistas”, como o renomado economista Robert Shiller, confessam que “há uma probabilidade substancial de uma nova recessão”.
Isso já não era previsível?
[i] Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).