Semana de 22 a 28 de agosto de 2011
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
É, caro leitor, apesar de concordarmos com o título, não fomos nós que o criamos. Economistas, como o prêmio Nobel, Paul Krugman, e o segundo a prever a crise, Nouriel Roubini, já reconheceram a importância de Karl Marx para se entender as crises de superprodução de mercadorias que periodicamente assolam o capitalismo. Até o presidente da França, Nicolas Sarkozy, já foi visto com uma cópia de "O Capital".
Todo fenômeno, seja natural ou social, se manifesta por meio de regularidades. Os cientistas investigam estas regularidades e as enunciam como leis, tal como fez Isaac Newton com a "lei da gravidade". Marx fez um trabalho análogo ao de Newton, porém no campo social. Ao observar o capitalismo, ele o descreveu, criando categorias e relacionando-as entre si, e desvendou suas leis. Com isso, ele percebeu que, sob a forma capitalista, a economia tinha uma contradição fundamental: o caráter cada vez mais social da produção, que se deve realizar como valor em crescimento nos mercados, e o caráter cada vez mais privado da apropriação da riqueza, que, em sua maioria, assume as formas de lucro, juro e renda da terra, em detrimento da forma salário da riqueza.
Além desta, existe um conjunto de outras leis que criam uma grande quantidade de mercadorias a serem consumidas e um grande número de potenciais consumidores. Mas estas mesmas leis produzem barreiras à junção da oferta e da demanda, ocasionando um excesso de capitais sob todas as formas: mercadoria, dinheiro, produtiva e a que atualmente mais se evidencia, por meio do mercado financeiro, a mercadoria capital. Gostaríamos de ter mais linhas para descrever a crise e expor toda a teoria sobre ela. Como não temos, recomendamos o texto que foi escrito na década de 1980, pelo Professor Nelson Rosas Ribeiro e editado em 2008 pela Editora UFPB, sob o título: "A crise econômica: uma visão marxista".
Mas, como se manifesta a regularidade de um sistema? Por meio de fatos que aparentemente ocorreram, ou por acaso, ou como consequência de uma política econômica. Atualmente, dizem que foram os especuladores norte-americanos os causadores da crise. O finado Bin Laden também já o foi. Os árabes do petróleo também. Quanto mais para trás na história formos, mais causas "casuais" nós encontraremos para a crise. Não estamos dizendo que este ou aquele acontecimento não foi ou poderá ser decisivo. O que afirmamos é que, tal como um avião, que ao voar não "revoga" a lei da gravidade, as políticas e os fatores externos à economia tem apenas um papel temporário sobre as leis econômicas.
Foi o que aconteceu na crise atual, quando os Estados tentaram acabar com a crise concedendo dinheiro e estímulos fiscais para algumas empresas. Durante um determinado momento as medidas surtiram efeito. Porém, com a necessidade da lei se manifestar plenamente, tal como num avião que cai sem combustível, a crise agora retorna e ameaça não só empresas, mas também governos que “ajudaram” suas economias, mais do que podiam.
Para não repetir os problemas dos PIIGS e dos EUA, vamos falar de países que começaram a sofrer o segundo mergulho. Nos 34 países ligados à OCDE, o crescimento do PIB trimestral foi o pior, desde o segundo trimestre de 2009, atingindo uma ínfima cifra de 0,2%. Isto denota a desaceleração do grupo. Os donos da mercadoria capital, por sua vez, emitem sinais de cautela, retirando-se dos mercados acionários dos países emergentes.
No Brasil o cenário não poderia ser diferente. A crise já está dando sinais de manifestação, tanto que o "mercado" já reviu para baixo a estimativa de crescimento da produção industrial (2,96%) e do PIB de 2011 (3,84%). Já os estoques dos setores industriais pesquisados pela CNI, em julho, cresceram 77%. Na siderurgia, as vendas em baixa e os estoques em alta fazem os empresários reverem para baixo as metas do ano. Enquanto isso, para enfrentar as turbulências que estão por vir, as empresas reforçam seus caixas, acumulando em conta um valor recorde de R$ 252 bi, maior até do que o existente antes de estourar a crise, em 2008. Para completar o quadro, no mercado de força de trabalho, apesar dos números ainda positivos, já se vê os sinais de desaquecimento da criação de empregos. O desemprego caiu de 6,2%, em junho, para 6%, em julho, enquanto, na mesma comparação, houve um aumento de 2,2% na renda média real. Como afirmamos, há uma grande quantidade de mercadorias e de consumidores, mas, mesmo assim, há a crise de superprodução.
O leitor talvez esteja se perguntando como entender o que foi acima descrito e prever a economia hoje. A reposta de Nouriel Roubini é: "Karl Marx estava certo".
[i] Mestre em Economia, professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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