segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Em época de crise, todos são keynesianos

Semana de 19 a 25 de setembro de 2011

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor.

Há duas semanas, quando o Copom resolveu promover a queda da taxa básica de juros alegando que a economia mundial enfrentaria uma recessão, a celeuma foi geral. Mas, desde aquela decisão, a conjuntura internacional só se agrava.

Uma nova série de indicadores, divulgados esta semana, tem reforçado o cenário alarmante para a economia européia. O índice de gerentes de compras para a região caiu de 50,7 pontos, em agosto, para 49,2, em setembro, atingindo a faixa técnica de contração da atividade econômica que acontece quando o índice é menor que 50 pontos. O indicador de novas encomendas também perdeu fôlego no terceiro trimestre.

Prevendo anos de estagnação, a Itália divulgou novas projeções de crescimento. Em 2011, a economia italiana crescerá aproximadamente 0,7%. Para os dois anos seguintes, o crescimento não ultrapassará 1%, fechando em 0,6% em 2012 e 0,9% em 2013.

A situação da Grécia continua a mesma e os trabalhadores gregos realizaram um novo protesto contra as medidas de austeridade fiscal implantadas como condição para o recebimento da última parcela do pacote de ajuda externa. Houve cortes de pensões e salários do setor público. O (de) crescimento da economia grega ficará em torno de 5% este ano.

A Autoridade Bancária Européia (ABE), supervisora do setor bancário na região, detectou que 16 bancos precisam urgentemente obter recursos para recapitalização. As instituições, inicialmente, devem buscar fundos no setor privado, e já começaram a corrida à Ásia para tomar emprestado de indivíduos e empresas. Enquanto isso, os governos europeus admitem a possibilidade de usar o fundo de estabilidade financeira européia de € 440 bilhões, para socorrer os bancos e garantir a estabilidade econômica do bloco.

Nem a tão falada ajuda dos Brics à Europa faria diferença na debilitada economia. Segundo o Deutsche Bank, se a China investir os € 150 bilhões de euros em títulos europeus, conforme o prometido, este montante não representa nem a metade do refinanciamento necessário aos PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) que gira em torno de € 730 bilhões.

Nos Estados Unidos, o Conference Board divulgou o índice de indicadores antecedentes que subiu apenas 0,3%, em agosto, comparado a julho, e embora os pedidos de seguro-desemprego tenham caído em 9.000, em agosto, não foram criados novos postos de trabalho.

Tentando estimular a economia, o Federal Reserve lançou a “Operation Twist” que incluiu até 2012, a compra de títulos de longo prazo no valor de US$ 400 bilhões. Por outro lado, o presidente Obama lançou um pacote que, ao longo de 10 anos, pretende reduzir o déficit orçamentário americano em mais de US$ 3 trilhões. Entre as novas medidas adotadas estão o aumento do imposto de renda para as classes mais abastadas e cortes de benefícios sociais. O presidente americano mandou um recado aos insatisfeitos, enfatizando que as medidas não acentuam a guerra de classes, mas seria simplesmente uma questão de matemática.

Enquanto cada país busca soluções internas para as finanças públicas, tentando atenuar os efeitos da crise, o G-20 defendeu, em sua reunião, “ações coletivas” e sugeriu que os países assegurem a liquidez financiando os mercados e garantindo o correto funcionamento dos sistemas bancários.

A presidente Dilma, em discurso na Assembléia Geral da ONU, afirmou que a saída para a crise ainda não foi encontrada “por falta de recursos políticos, e, algumas vezes, de clareza de idéias”. E, dando conselhos, completou: “Os países mais desenvolvidos precisam praticar políticas coordenadas de estímulo às economias extremamente debilitadas pela crise.”

Até o FMI, quem diria, defendeu o uso de políticas keynesianas para combater a crise. Segundo Cristine Lagarde, chefe da instituição, as economias desenvolvidas deveriam lançar estímulos fiscais para se recuperarem da crise, pois, “sem uma arrojada ação coletiva, há o risco de as maiores economias irem pra trás.”

O fato é que a realidade comprovou, mais uma vez, a impossibilidade dos “mercados” se “auto-ajustarem” e promoverem o “equilíbrio de pleno emprego” e, mesmo com as economias debilitadas pelos altos níveis de endividamento público, em épocas de crise parece não restar alternativa: todos são keynesianos.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)

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