Semana de 10 a 16 de outubro de 2011
Rosângela Palhano Ramalho [i]
À medida que a globalização acentua a integração entre os países, a crise que incide sobre as principais economias capitalistas, expõe ao mundo a luta entre aqueles que tentam conquistar o poder e os que buscam se manter no poder. Todos se acham no direito de realizar um exame da crise econômica mundial e dar palpites de como sair dela.
Os países emergentes, temendo o contágio, aproveitam para defender a intervenção. Mantega, na reunião do G-20 que ocorrerá no início de novembro, defenderá a idéia de que só é possível minorar os efeitos da crise se os países optarem pelo estímulo ao emprego e à distribuição de renda, para gerar demanda e retomar o crescimento. Os europeus, que dizem não ter margem para esta manobra, defendem o uso de recursos do FMI e uma maior austeridade fiscal. Assim, os países em desenvolvimento querem, em troca dos recursos oferecidos, um maior poder decisório no FMI. Os europeus querem dinheiro, mas não querem perder o poder. O silêncio foi a resposta dos países do G-20, quando indagados pela França, sobre quais os esforços que cada um iria fazer para resolver a crise.
A queda de braços não cessa. Em meio à crise, a União Européia deu um ultimato aos EUA e China para que aderissem ao Protocolo de Kyoto, depois de 2012, sob a ameaça de a Europa abandonar o acordo de emissão de gases. Os europeus ainda se preocupam neste momento com uma possível conspiração contra a moeda única européia arquitetada pelos EUA que, segundo analistas franceses, querem continuar sendo os donos da moeda mundial. Segundo a UE, os EUA, mesmo em uma situação pior que os europeus, desejariam manter o controle efetivo, não só sobre o continente europeu, mas também sobre a economia mundial.
Os países afetados pela crise querem liberalização total da conta de capitais por parte dos emergentes, argumentando que assim se evita o protecionismo comercial praticado atualmente. Além disso, aconselham os Brics a reduzir o ritmo de acumulação das reservas para “um nível de precaução”. Os Brics não aceitam de forma nenhuma negociar esta questão, já que o nível de reservas internacionais serve como um colchão amortecedor em épocas de crise. Na verdade, a grande preocupação é com os US$ 3,2 trilhões das reservas chinesas.
Todos concordam que os emergentes já estão sendo afetados pela crise. A Europa e os EUA são responsáveis por 1/3 do comércio da Ásia, por exemplo, e segundo o órgão, o PIB da região deverá crescer 6,3%, este ano, contra 6,8% na previsão anterior. A China, já apresenta sinais de desaceleração. A queda no ritmo de crescimento das exportações chinesas está no segundo mês consecutivo, passando de 24,5% em agosto para 17,1% em setembro. E tem trazido dificuldades para as pequenas e médias empresas, que respondem por mais de 80% dos empregos do país e por mais da metade do PIB. A restrição de crédito que o governo chinês realizou ano passado, para combater a inflação, provocou o endividamento destas empresas com o mercado negro. Quase 20% do total do crédito no país correspondem a empréstimos de agiotas, de financeiras que reúnem capital de magnatas e de bancos estatais.
Segundo estimativas, há pelo menos US$ 600 bilhões de créditos podres no país e dados da Bloomberg dão conta de que, dos 15 incorporadores imobiliários mais endividados do mundo, 14 são chineses. O governo chinês está comprando ações dos bancos estatais para tentar injetar confiança no setor bancário e barrar a desaceleração.
No Brasil, a economia mostra sinais de desaceleração. No primeiro trimestre houve crescimento de 1,2%, no segundo 0,2% e no terceiro a previsão é zero ou até negativo. O Ministério da Fazenda vai divulgar a projeção de crescimento do PIB para este ano, rebaixando-a de 4%, para 3,8%. Esta é a última revisão da projeção do ano que se iniciou com 5%. O Banco Central estima uma taxa de 3,5% e a maioria dos analistas acredita que o PIB crescerá apenas 3%. Mas, segundo Mantega, o governo está no “controle”: “Esperamos que a atividade vá se acelerar no quarto trimestre, a economia brasileira tem condições de acelerar, se o governo quiser...”. Fica claro que o ministro acredita controlar a economia e que a crise econômica, fenômeno intrínseco ao capitalismo, pode ser debelada pelos seus atos.
Nunca é demais relembrar uma frase de Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve, Banco Central americano: “...Sempre argumentarei que a política monetária é eficaz, a política fiscal sob certas condições é eficaz, mas nunca diria que as melhores políticas monetária e fiscal eliminarão um ciclo econômico. Elas não o farão...”.
2011 mostrou que Greenspan estava certo, mas Mantega ainda não aprendeu a lição.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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