Semana de 02 a 08 de janeiro de 2012
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
No censo comum, a palavra globalização está impregnada por uma mítica ideia de progresso e desenvolvimento das relações sociais, advinda dos avanços do mundo moderno, os quais permitem a internacionalização do conhecimento e dos mais variados meios de satisfazer as necessidades humanas. Um olhar mais atento, que ultrapasse o senso comum, nos mostraria que a globalização é um movimento “natural” causado pelas necessidades das empresas.
Diante da concorrência, os empresários buscam expandir e, com isso, fortalecer seu capital, fazendo com que, cada vez mais, se produzam maiores lucro. Por outro lado, várias limitações se impõem às empresas nacionais: disponibilidade de recursos para novos investimentos (próprios ou financiados), infra-estrutura, número de concorrentes, limites do mercado consumidor local, abundância de mão de obra disponível e de matéria-prima, etc. O capital que for capaz de superar estes desafios, será o mais forte e vai dominar determinado setor, seja bancário, produtivo, comercial ou os três ao mesmo tempo. Mas, ao chegar a tal ponto, as empresas se deparam com outro problema: se o mercado nacional está ganho, para onde expandir agora? A resposta é simples: ir para os lugares onde os capitais tenham as menores dificuldades para crescer. Para obter lucro “não importa a cor nem o sabor”. O capital não tem e nem precisa ter nacionalidade. Basta ter lucratividade.
A ocupação das empresas começou com o estabelecimento do próprio sistema, quando as companhias de comércio deram sua contribuição para a acumulação inicial do capital. Nos dias atuais, a essência da internacionalização é a mesma, mas sob uma nova roupagem. Ao invés de caravelas, o capitalismo se utiliza de pressões políticas por meio de órgãos internacionais. A violência militar só é utilizada em última instância. Além disso, com as regulamentações da economia, por parte do Estado, os próprios governos podem facilitar, ou mesmo dificultar, o trabalho dos empresários.
Um caso que esta semana virou manchete, mas que não é o único, foi o do Japão. A terceira maior economia do mundo viu a parcela da população envolvida na produção de objetos físicos cair, de 27% no ano de 1970, para 17% em 2011. A causa disto foi a migração das empresas nacionais para outros países, ou seja, a transnacionalização dos capitais. Outro dado é alarmante: além do Japão, a Alemanha, a Itália, o Reino Unido e os EUA têm menos de 25% do PIB advindos da produção industrial.
Nos anos 2000, a saída líquida de capitais do Japão para investimento direto era de US$ 40 bi, enquanto que, em 2008, este número foi de US$ 130 bi. Para se ter uma ideia, os carros produzidos pela Toyota no território japonês correspondem a cerca de 50% da produção total da empresa. Já no caso da Nissan, este número é de apenas 25%. Segundo o presidente da Toyota, Akio Toyoda, “não faz sentido produzir no Japão”.
Mas por quê? O problema é que os custos oriundos de políticas fiscais desfavoráveis e leis trabalhistas rígidas aumentam o custo da produção. Soma-se a isso o câmbio desfavorável, que se valorizou 40% em relação ao dólar desde 2007. O resultado final é a redução da percentagem do PIB japonês no PIB mundial, que caiu, de 14% na década de 1990, para menos de 9% atualmente.
E para onde estão indo as empresas? Para os países onde o custo da produção seja menor. O queridinho dentre os países, atualmente, é a China, que tem o maior mercado mundial, mão de obra barata e grande quantidade de matérias-primas, além de dar incentivos fiscais e financeiros às empresas. Outro atrativo do país é o câmbio artificialmente desvalorizado, que, apenas com a conversão em outras moedas, permite a obtenção de uma grande vantagem no preço dos produtos. Mas, a coisa já começa a mudar por lá. Os trabalhadores estão se organizando em sindicatos e reivindicando melhores condições de trabalho. Empresas de calçados e artigos desportivos já se deslocaram para tigres vizinhos, como Vietnã e Malásia, que ainda não têm grandes movimentos sindicais organizados.
São estes atrativos que criam a integração, a nível mundial, das cadeias de produção, distribuição e consumo de mercadorias. Não é um movimento consciente e intencional comandado pelos homens, mas uma ação impulsionada pela racionalidade do capital. O consumo do fastfood pelo vietnamita acontece não porque o americano quer mal nutrir este cidadão, mas porque a produção e o consumo, no Vietnã, darão lucro à empresa americana.
[i] Mestre em Economia, professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.).
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