Semana de 09 a 15 de janeiro de 2012
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Caro leitor. Como anunciado nesta coluna na primeira semana de janeiro, o ano é novo, mas a realidade é velha. Infelizmente ainda não somos portadores nem de novas e, muito menos, de boas notícias.
Antes de fazer o comentário central desta análise semanal, trago informações da economia real: segundo o Instituto Nacional de Estatísticas da Espanha, a produção industrial daquele país caiu 7% em novembro, em relação ao mesmo mês do ano passado. A crise está abatendo até mesmo o país mais forte da União Europeia: a economia alemã. Embora tenha crescido, no ano passado, 3%, ela encolheu 0,25%, no último trimestre de 2011. O número de desempregados da zona do euro chegou a 16 milhões de pessoas, e a taxa de crescimento prevista para a região, este ano, é de 1%. Os Estados Unidos, que vêm apresentando uma recuperação ainda tímida, divulgaram a criação de 200 mil empregos em dezembro, o que provocou a queda da taxa de desemprego, de 8,7%, para 8,5%. O índice de confiança do consumidor americano aumentou 9,3%, e as encomendas de bens duráveis também subiram. O país, que projeta um crescimento de 2,5% em 2012, teme agora sofrer contágio da crise européia.
Para driblar a crise, Nicolas Sarkozy, presidente da França, está negociando com a Alemanha a introdução de uma taxa sobre transações financeiras em toda a União Européia. Segundo levantamento francês, as transações financeiras diárias alcançam a cifra de US$ 4,6 trilhões. O objetivo seria taxar em 0,1% as ações e bônus e em 0,001% os outros produtos financeiros. Só isto renderia, à União Européia, uma receita anual superior a € 50 bilhões. Apesar de a iniciativa ser apoiada também pela Itália, David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, já se pronunciou contra. E os banqueiros franceses logo lembraram que a crise foi iniciada nos Estados Unidos, de forma que seria justo que a cobrança fosse universal. Se não houver acordo, a França anunciou que adotará sozinha a taxação a partir deste ano.
Em contrapartida, os “investidores” não sabem mais de onde sugar. O simples rumor de que a França poderia ter sua avaliação de risco rebaixada, o que indica um risco maior da sua capacidade de honrar o pagamento de suas dívidas, provocou uma correria para os Estados Unidos. O Tesouro dos Estados Unidos vendeu US$ 21 bilhões em títulos com vencimento em 10 anos e com o menor rendimento já registrado (1,9%).
No dia seguinte, o governo francês confirmou o rebaixamento da sua nota, pela Standard & Poor’s. A agência de classificação de risco reduziu a nota de crédito do país, que era a máxima, de AAA, para AA+. Além da França, a Áustria também perdeu o triplo A. Luxemburgo, Holanda, Finlândia e Alemanha são os únicos a conservarem a nota máxima.
O ministro das Finanças, François Baroin, minimizou a polêmica dizendo que a notícia não era boa, mas não era uma catástrofe e que, no pior dos cenários, a França ficou com a mesma classificação obtida pelos Estados Unidos. Finalizando sabiamente, o ministro declarou: “Não são as agências que decidem a política da França.” Temos que concordar. De fato, estas agências não decidem política alguma de país algum.
Prezado leitor. Se após esta enxurrada de informações, lhe fosse perguntado do que se ocupa então a Economia, não seria surpresa o surgimento de terríveis dúvidas. Afinal, somos bombardeados a todo o momento por diferentes tipos de informação, que nos levam a concluir que, para entender de Economia, basta saber como funcionam as Bolsas de Valores e como aplicar, ganhando dinheiro fácil, nas infinidades de produtos financeiros que estão à nossa disposição.
Aprendemos nos Manuais de Economia que a Ciência Econômica é uma ciência social que deve se preocupar com três questões básicas: O que e quanto produzir, como produzir e para quem produzir. Mas, hoje, no universo da economia, a instituição de maior importância é o “mercado”. Não o real, mas o financeiro. Além disso, especuladores ganharam status de investidores e agências de classificação de risco sobrepõem-se a tudo e a todos e ditam a solvência dos governos.
O leitor não deve se preocupar, afinal ele não está só. Estudantes de Economia e renomados economistas também já perderam o foco e acham natural que o sistema financeiro, que não gera nenhuma riqueza, se sobreponha a atividade produtiva e dite as regras de praticamente todas as economias do mundo.
E ai de quem não obtiver um triplo A!
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
0 comentários:
Postar um comentário